segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Gabrielli fala da importância de Zé Dirceu e diz que já gritou com Dilma

Leia abaixo entrevista exclusiva que o Presidente da Petrobrás - José Sérgio Gabrielli concedeu ao site Bahia Notícias.

Fotos: Tiago Melo / Bahia Notícias
"Já houve discussões acaloradas. Não é verdade (...) que eu chorei (...) mas ela já gritou comigo e eu já gritei com ela [Dilma]."

Por João Gabriel Galdea
Bahia Notícias – Você está prestes a se tornar o executivo que ficou mais tempo à frente da Petrobras, mas, ao mesmo tempo, há rumores na imprensa e nos bastidores políticos – o mais recente deles credito à Revista Veja –, de que o senhor se movimenta para se manter no cargo...
José Sérgio Gabrielli – Eu tenho que dizer que a matéria da Veja é um absurdo, uma especulação absurdamente inverídica, completamente sem fatos, somente ilações irresponsáveis. Portanto, a matéria da Veja é uma coisa criminosa, do ponto de vista jornalístico. É isso que eu tenho para lhe responder.
BN – Qual a sua relação com o ex-ministro José Dirceu? É apenas de amizade?
JSG - Eu sou amigo dele há 30 anos. Vou continuar encontrando com ele na hora que eu quiser e não tenho que dar satisfação nenhuma sobre isso. 
BN – Por que José Dirceu ainda tem uma influência tão grande na política brasileira?
JSG – Zé Dirceu é um grande líder do movimento popular brasileiro. Ele foi um dos importantes contribuintes para a formação do Partido dos Trabalhadores. É uma pessoa extremamente importante na articulação da relação do PT com outros partidos. Foi uma pessoa muito importante na eleição do presidente Lula. Foi presidente do partido por muitos anos. Então, ele é uma pessoa de uma liderança incontestável.


"Eu acho muito cedo para começar essa discussão de sucessão do governador Jaques Wagner."

BN – Os nomes do senhor e o do senador Walter Pinheiro são os dois que surgem com mais força para 2014, para disputar a sucessão de Jaques Wagner. Como seria essa negociação [para ver qual será o nome do PT]?
JSG – Não, primeiro que eu acho muito cedo para começar essa discussão de sucessão do governador Jaques Wagner. O governador está iniciando seu segundo mandato, um governo de sucesso no primeiro mandato. Está fazendo um excelente trabalho. Nesse momento, a questão que se tem que discutir é a continuidade do governo do governador Jaques Wagner. Então, dar todo o apoio possível para as questões se desenvolverem. Então, discutir a sucessão de 2014 em 2011, quando não tem nem um ano de governo, é absurdamente fora de propósito.
BN – Ok. Mas me permita insistir um pouco no tema 2014... O governador acabou de dar uma entrevista em que diz que colocou o nome dele também à disposição para a sucessão da presidente Dilma, caso ela não queira ir para um segundo mandato. O que o senhor acha do nome dele para suceder a presidente Dilma?
JSG – Olha, eu acho que a sucessão da presidente Dilma também é um processo que está muito longe. A presidente Dilma está no primeiro ano de governo. Oito meses de governo, ainda tem três anos e quatro meses. Então, discutir a sucessão da presidente Dilma nesse momento também parece completamente fora de propósito.


"[Maria das Graças Foster] é uma excelente diretora, faz um excelente trabalho na área de Gás e Energia, teria todas as condições de me suceder."

BN – Sempre se falou da sua relação conturbada com ela [Dilma]...
JSG – Não há relação conturbada. Nós somos duas pessoas que temos um respeito mútuo muito grande, do tempo que ela era do Conselho de Administração da Petrobras. Nós, que tínhamos alguns pontos de divergência, alguns pontos de convergência, sempre nos respeitamos muito. Tivemos posições diferentes. Hoje, ela é presidente da República. Não tenho nem que discutir com ela. Eu tenho que seguir as orientações da presidente da República.
BN – Mas já houve discussões mais acaloradas com ela, não?
JSG – Já houve discussões acaloradas. Não é verdade o que publicam, de que eu chorei. É absolutamente mentirosa essa informação, mas ela já gritou comigo e eu já gritei com ela, como duas pessoas bastante firmes nas suas opiniões. Agora, eu tenho uma enorme admiração pela presidenta Dilma e eu acredito que ela também tenha [por mim].
BN – Mas chegou a ser falar em Maria das Graças Foster, para substituir o senhor [no comando da Petrobras]...
JSG – É a nossa Diretora de Gás e Energia. É uma excelente diretora, faz um excelente trabalho na área de Gás e Energia, teria todas as condições de me suceder. Mas, nesse momento, a diretoria da Petrobras está muito unida, fazendo um trabalho enorme porque nós temos um plano de investimento gigantesco para implementar, com enormes impactos na produção de petróleo e gás no país, no mundo, na indústria brasileira e no desenvolvimento brasileiro. Então, nós todos da diretoria estamos muito unidos neste propósito.


"[Sobre a divisão dos royalties do pré-sal] Se você perguntar a posição do presidente da Petrobras, ele é neutro em relação a isso. O cidadão José Sérgio Gabrielli, no entanto, acha que a distribuição atual não é justa."

BN – Quanto à divisão dos royalties do pré-sal, o senhor está do lado dos estados produtores ou dos demais?
JSG – Do ponto de vista da Petrobras, é indiferente a divisão dos royalties, porque ela pagará os royalties de qualquer maneira. A distribuição dos royalties é um problema mais federativo, de discussão entre os diversos estados sobre isso. Se você perguntar a posição do presidente da Petrobras, ele é neutro em relação a isso. O cidadão José Sérgio Gabrielli, no entanto, acha que a distribuição atual não é justa, porque ela concentra demasiadamente royalties de participações em alguns estados. Mas, tampouco a Emenda Ibsen é justa, porque também não é correto dividir igualmente a distribuição de royalties para todos os estados. Os estados chamados produtores, mas, tecnicamente, confrontantes das áreas produtoras devem receber mais. Então, eu acho que o equilíbrio vai ser alcançado no Congresso Nacional.
BN – Há estudos na Bahia para se descobrir petróleo no pré-sal?
JSG – Nós temos um enorme investimento para descobrir o petróleo no mar. Nós temos a maior parte de investimentos em exploração, na Bahia, em perfuração de poços no mar, em alta profundidade. Encontrar ou não o pré-sal é um problema que não depende só de nós. A decisão foi tomada há 120 milhões de anos.
BN – Alguns especialistas dizem que o desenvolvimento do país a partir do pré-sal pode estar comprometido pela falta de planejamento do governo e das empresas fornecedoras. Como a Petrobras pode contribuir para resolver isso?
JSG – Eu não concordo de jeito nenhum com essa história de que falta planejamento do governo e por isso vai ter problema com o pré-sal e com o desenvolvimento do petróleo. Não é isso. O problema todo é que nosso programa de desenvolvimento é muito grande. Nós estamos propondo um crescimento em que sairemos de uma produção no Brasil de dois milhões de barris para 3,9 milhões em 2015 e para 4,9 milhões de barris em 2020. Portanto, nós vamos mais do que dobrar a nossa capacidade de produção hoje em 10 anos. O que fizemos em 57 anos iremos superar em 10 anos. Isso, evidentemente, que só tem sentido do ponto de vista social e do ponto de vista de impactos no Brasil, se a indústria crescer. Então, nós estamos em um esforço muito grande para estimular a criação de estaleiros, de fábricas de motores, de âncoras, de válvulas, tubulações, aços especiais, instrumentos de medição, de juntas e de garantias de fluxos. Então, esse conjunto de investimentos que será feito pelos investidores e empresários da cadeia produtiva, que está em andamento. Na medida em que isso crescer, a possibilidade de atender nossa demanda é muito grande. Só para dar um exemplo: nós temos hoje 287 barcos e navios. Vamos precisar de 568. Queremos que a maior parte desses navios seja feita no Brasil. Tem que construir estaleiro, se não, não pode fazer.
BN – Pernambuco tem um grande estaleiro, não é? A Bahia ficou para trás...
JSG – Não é que a Bahia ficou para trás. A Bahia tem uma grande refinaria. A segunda maior refinaria do Brasil fica na Bahia. O polo petroquímico maior do Brasil, até recentemente, era na Bahia. A produção em terra na Bahia se mantém relativamente estável já há 20 anos. Você tem uma situação de que vai ficar na Bahia um terminal de regaseificação, que vai injetar na rede brasileira metade do gás que a gente traz da Bolívia, 14 milhões de m³ por dia. A Bahia tem o maior plano de biodiesel. A Bahia tem 47 municípios que fazem parte do Gasene, que têm capacidade de processar e de transportar 20 milhões de m³ por dia. Então, o estaleiro Atlântico Sul saiu na frente, sem dúvida nenhuma. A Bahia está concorrendo na licitação das sondas, que está em andamento. Pode ganhar ou pode não ganhar o estaleiro da Bahia, mas está concorrendo.


"Serão 9,8 bilhões de dólares da Petrobras na Bahia, nos próximos cinco anos. Investiremos principalmente na busca do petróleo, depois, na melhoria da qualidade do diesel e da gasolina."

BN – A Petrobras apresenta hoje [segunda-feira, dia 29] o Plano de Investimento até 2015. Quanto será investido na Bahia nos próximos anos?
JSG – Serão 9,8 bilhões de dólares da Petrobras na Bahia, nos próximos cinco anos. Investiremos principalmente na busca do petróleo, depois, na melhoria da qualidade do diesel e da gasolina, reduzindo a quantidade de enxofre no diesel e na gasolina. Nós vamos aumentar o investimento na área de biocombustíveis, de logística, de distribuição. Mas é principalmente investimento na área de exploração de petróleo.
BN – Em que áreas são na Bahia?
JSG – Na Costa da Bahia, particularmente, na Bacia do Jequitinhonha. Na frente de Una... Naquela região ali.
BN – Como é que se resolve a questão do preço de combustível? Agora, praticamente metade da frota de carros já usa etanol, que depende muito da sazonalidade da produção. Às vezes o preço sobe muito e cai de uma hora para outra. Nesse cenário, como resolver essa questão?
JSG – É bom lembrar que a nossa gasolina é uma mistura. Para cada litro de gasolina tem 250 ml de álcool. Não tem gasolina pura no Brasil. A única gasolina pura que existe é a que sai da refinaria. Então, ela sai da refinaria a R$ 1,05, por litro. Aí, em cima desse um R$ 1,05 você vai misturar o álcool, vai pagar o ICMS dos estados, vai pagar os impostos para o governo federal; vai ter a margem dos distribuidores, que são mais de 250 no Brasil. A BR tem pouco mais de um terço do mercado. Vai chegar ao posto de gasolina a R$ 2,80. Já o álcool, no Brasil, tem dois problemas. Recentemente, os planos de expansão da plantação de cana pararam por conta da crise internacional de 2008/2009. Então, não houve novas plantações de cana significativas em 2008/2009. A taxa de cana 2009/2010 foi muito baixa. Então, houve redução da quantidade de cana para processar e fazer álcool e açúcar. Por outro lado, essa questão emblemática no Brasil, foi simultânea à questão climática na Índia, que é o maior produtor do mundo de açúcar. Então o preço do açúcar subiu em relação ao álcool. O produtor tinha menos cana para produzir álcool e açúcar e estava estimulado a produzir mais açúcar do que álcool, então, houve uma redução muito maior na oferta de álcool, os preços do álcool subiram. E aí, a demanda de gasolina C, misturada com álcool, aumentou 19% em 2010. Na medida em que aumentou 19% da demanda de álcool e gasolina, também aumentou a demanda de álcool anidro, diferente do álcool hidratado. Então, isso reforçou ainda mais a subida do preço do álcool. O problema é essencialmente de oferta.


"Vamos conviver no país com a questão da volatilidade do preço do álcool."

BN – Qual a solução para isso?
JSG – Aumentar a plantação de cana. E é o que está acontecendo. Nós vamos sair de 5,6% da produção de álcool total que a Petrobras produz para 12%. Vamos investir 1,9 bilhão de dólares para aumentar a capacidade de produção de álcool. Mas isso leva tempo. A gravidez da produção de álcool é longa, dois a três anos, a gente não colhe cana em um dia. Vamos conviver no país com a questão da volatilidade do preço do álcool. A gasolina tem uma volatilidade menor no Brasil, porque nós, como produtores, resolvemos manter uma política nos últimos oito anos que relaciona o preço da gasolina ao preço da gasolina internacional, que nós não podemos descolar. Mas só no longo prazo. A gente não passa para o Brasil as variações diárias que têm lá. Então, consequentemente, nós vamos viver no futuro, em uma situação de preço da gasolina mais estável, variando menos. O preço do álcool variando mais, mas temos que acompanhar o preço internacional.
BN – O senhor falou em aumento da área de plantio. Existem questões ambientais por trás disso...
JSG – Não. Nós estamos falando em aumentar a área de plantio na área de Goiás, na área de São Paulo e Minas Gerais, que já são áreas já dedicadas, mapeadas e, ecologicamente, definidas como áreas onde se pode ter plantação de cana.
BN – Na Bahia não?
JSG – Na Bahia, nesse momento, nós não temos esse projeto.

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