É muito comum principalmente em solo soteropolitano,
em especial nos pagodes e disputas de paredões o uso da expressão “novinha”
para classificar / enquadrar / nomear as garotas da festa e do bairro.
São diversas músicas (focando ainda no
pagode baiano e fazendo um link com a ideia de músicas que colaboram com a
cultura do estupro) que falam das “novinhas” e o que se deve fazer com as
mesmas. O que não é mostrado – nem se quer ver – é que essa novinha sexualizada
e hiper sensualizada é sim, na esmagadora maioria dos casos, uma criança. No máximo,
uma pré adolescente ainda não distante de sua infância.
Quem desenha / idealiza essa novinha como
mulher e/ou como objeto sexual, vai de anônimos a famosos, estudantes com ou sem
diploma. Maduros, idosos ou jovens. Casados ou não. Pode ser qualquer um e
estar em (todo) qualquer lugar. Recentemente li no Jornal Folha Universal (de
grande circulação nacional) a denúncia sobre o Coronel do Exército, pedófilo e
financiador / agenciador da pedofilia na comunidade dele. De um coronel a um
aposentado, de um (pseudo) educador a um religioso – visto os inúmeros
processos lançados contra Igrejas em especial a Católica Apostólica Romana ou
ainda um vizinho “legal” do bairro, livre de qualquer suspeita, a ação /
prática da pedofilia ocorre em qualquer momento, pois é notório nos relatos e
denúncias, que o abusador sempre (ou quase sempre) é um conhecido da vítima,
quando não é um familiar.
O porquê é injustificável. Alguns alegam
transtornos enquanto a sociedade e a mídia os acusarão de descaração; E
buscar-se-á enquadrar a violência sexual, abuso como um problema de saúde de
quem abusa. Há casos onde se tenta justificar com o histórico, alegando por
exemplo, que o abusador no passado já sofreu abuso, sendo portanto, apenas
reprodutor da violência outrora sofrida. Há ainda – nos casos domésticos,
envolvendo familiares é possível se notar isso – a teoria de que exista no
familiar e sobre o mesmo, um atenuante que lhe conceda direito e prerrogativa
para o abuso, tipo, “se vai ser de alguém, então que eu coma primeiro” ou “é
minha filha, o primeiro a “usar” serei eu”.
Outra raiz de “como” se dá é a auto
indústria da pornografia voltada a atender esse “fetiche” (para alguns que o
classificam dessa forma), pois muitos buscam naturalizar. Um simples e fácil
exemplo é a questão da “tag” colegial em diferentes sites pornôs nacionais e
estrangeiros. Contudo, não podemos esquecer-nos das novelas e determinadas
propagandas tão estimulantes quanto e que, sorrateiramente buscam (e vão) passar
despercebidas para atender a interesses diversos.
O fato é que o tema é polêmico e rende
diversas análises. Toda e qualquer forma de combate e estimulo à denúncia –
#primeiroassédio, campanha dos Ministérios Públicos estaduais e Federal e
governos e igrejas – são essenciais. Muito a sociedade no mundo todo têm a
contribuir para além do pedido de prisão, morte e castração que são comuns
ouvirmos e lermos nas redes sociais, a despeito do qual nesse último 12 de
outubro (2016, ano da escrita do texto) o governo da Indonésia decretou pena de
castração aos pedófilos.
O que não se pode perder de vista, embora
as formas para parar e punir sejam diversas (e controversas) é que o primeiro
ato – de quem quer que seja e onde for – tem que ser denunciado, enfrentado. O
combate ao silêncio é vital para enfrentar o que alguns vêem como instinto
animal.
Law Araújo
Professor de
Literatura, Redação e Língua Portuguesa formado em Letras Vernáculas (2011)
pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Historiador formado em
História (2016) pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Bacharelando do Curso
Estudos de Gênero e Diversidades (2016 –) da Universidade Federal da Bahia –
UFBa;
Pós Graduando em
Especialização em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade
Federal da Bahia – UFBa.
Texto escrito em 2016.