sábado, 22 de abril de 2017

A novinha é uma criança


     É muito comum principalmente em solo soteropolitano, em especial nos pagodes e disputas de paredões o uso da expressão “novinha” para classificar / enquadrar / nomear as garotas da festa e do bairro.
     São diversas músicas (focando ainda no pagode baiano e fazendo um link com a ideia de músicas que colaboram com a cultura do estupro) que falam das “novinhas” e o que se deve fazer com as mesmas. O que não é mostrado – nem se quer ver – é que essa novinha sexualizada e hiper sensualizada é sim, na esmagadora maioria dos casos, uma criança. No máximo, uma pré adolescente ainda não distante de sua infância.
     Quem desenha / idealiza essa novinha como mulher e/ou como objeto sexual, vai de anônimos a famosos, estudantes com ou sem diploma. Maduros, idosos ou jovens. Casados ou não. Pode ser qualquer um e estar em (todo) qualquer lugar. Recentemente li no Jornal Folha Universal (de grande circulação nacional) a denúncia sobre o Coronel do Exército, pedófilo e financiador / agenciador da pedofilia na comunidade dele. De um coronel a um aposentado, de um (pseudo) educador a um religioso – visto os inúmeros processos lançados contra Igrejas em especial a Católica Apostólica Romana ou ainda um vizinho “legal” do bairro, livre de qualquer suspeita, a ação / prática da pedofilia ocorre em qualquer momento, pois é notório nos relatos e denúncias, que o abusador sempre (ou quase sempre) é um conhecido da vítima, quando não é um familiar.
     O porquê é injustificável. Alguns alegam transtornos enquanto a sociedade e a mídia os acusarão de descaração; E buscar-se-á enquadrar a violência sexual, abuso como um problema de saúde de quem abusa. Há casos onde se tenta justificar com o histórico, alegando por exemplo, que o abusador no passado já sofreu abuso, sendo portanto, apenas reprodutor da violência outrora sofrida. Há ainda – nos casos domésticos, envolvendo familiares é possível se notar isso – a teoria de que exista no familiar e sobre o mesmo, um atenuante que lhe conceda direito e prerrogativa para o abuso, tipo, “se vai ser de alguém, então que eu coma primeiro” ou “é minha filha, o primeiro a “usar” serei eu”.
     Outra raiz de “como” se dá é a auto indústria da pornografia voltada a atender esse “fetiche” (para alguns que o classificam dessa forma), pois muitos buscam naturalizar. Um simples e fácil exemplo é a questão da “tag” colegial em diferentes sites pornôs nacionais e estrangeiros. Contudo, não podemos esquecer-nos das novelas e determinadas propagandas tão estimulantes quanto e que, sorrateiramente buscam (e vão) passar despercebidas para atender a interesses diversos.   
     O fato é que o tema é polêmico e rende diversas análises. Toda e qualquer forma de combate e estimulo à denúncia – #primeiroassédio, campanha dos Ministérios Públicos estaduais e Federal e governos e igrejas – são essenciais. Muito a sociedade no mundo todo têm a contribuir para além do pedido de prisão, morte e castração que são comuns ouvirmos e lermos nas redes sociais, a despeito do qual nesse último 12 de outubro (2016, ano da escrita do texto) o governo da Indonésia decretou pena de castração aos pedófilos.
     O que não se pode perder de vista, embora as formas para parar e punir sejam diversas (e controversas) é que o primeiro ato – de quem quer que seja e onde for – tem que ser denunciado, enfrentado. O combate ao silêncio é vital para enfrentar o que alguns vêem como instinto animal.

Law Araújo
Professor de Literatura, Redação e Língua Portuguesa formado em Letras Vernáculas (2011) pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Historiador formado em História (2016) pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Bacharelando do Curso Estudos de Gênero e Diversidades (2016 –) da Universidade Federal da Bahia – UFBa;
Pós Graduando em Especialização em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia – UFBa.

Texto escrito em 2016.

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