sábado, 18 de março de 2017

Morte de Pessoas trans: O silêncio também mata


Até quando casos de homicídio de pessoas trans, gays e lésbicas passará impune e como se nada houvesse ocorrido? A foto representa Dandara, 42 anos, morta brutalmente em Fortaleza/CE. Mais aqui em Salvador outra trans foi morta violenta e absurdamente. Uma? São várias. O crime é diário. 

A pergunta é: até quando? A quem interessa o silêncio, negligência do Estado, das igrejas, em especial as evangélicas, que conhecedoras da Palavra de Deus sabem que:

1º devem amar seu próximo como a ti mesmo (tem um gay, uma lésbica, uma pessoa trans junto a você? Então esse próximo que Cristo Jesus se referiu é ele / ela);

2º no corpo trans, lésbico, gay há uma alma... Lembra? Jesus não veio em busca de corpos e do que se fez dele e com ele em terra, mas sim as almas, o corpo perece. A alma é eterna.

Esse silêncio não ajuda ninguém. Esse silêncio mata também. Só fazer testão, compartilhar foto, usar hastag não é o suficiente. É preciso uma cultura - política - de combate ao extermínio desse público e a repulsa (ao invés do riso, apoio e compartilhamento de fotos e vídeos) aos agressores.


Law Araújo é educador. Professor de Redação, Língua Portuguesa e Literatura, Historiador graduado em ambas as licenciaturas pela Universidade Católica do Salvador. É Bacharelando do Curso Estudos de Gênero e Diversidades pela Universidade Federal da Bahia.

sábado, 11 de março de 2017

Bullying não é coisa de criança ou da idade *


     Como ser humano racional e educador, me recuso a aceitar a ideia de bullying como algo que vem sendo dito e repetido por aí, de que seja algo “de criança” ou “coisa da idade”. Não! Mil vezes não.
     A prática do bullying não pode ser naturalizada porque não é natural / normal e nem aceitável que crianças e adolescentes sejam – principalmente no ambiente escolar – agredidas, ridicularizadas, vitimadas, ofendidas, excluídas com essa nefasta atitude e venhamos ouvir de educadores – colegas professores, coordenadores pedagógicos, direção, funcionários – e pais de estudantes que é uma coisa normal e que com o tempo passa.
     O bullying não passa. Fica e com marcas profundas nas três categorias envolvidas nele: 1 – a vítima; 2 – o agressor; 3 – as testemunhas que ora apóiam, incentivam, filmam, riem, aplaudem, ora se omitem, silenciam até por medo de serem as próximas vítimas.
     Quem foi e é vítima hoje, será amanhã um adulto com inúmeras dificuldades, traumatizado, impotente nas suas relações e modo de viver e conviver, além de depressivo e tendendo em inúmeros casos ao suicídio. Por isso, não passa, fica e mata até. O praticante de ontem e de hoje, o faz por buscar exercer uma liderança e obter medo e respeito dos demais, pesquisas e relatos mostram que esse agressor amanhã, é um jovem / adulto ainda mais problemático, drogado ou envolto ao universo das drogas. Aquele que sempre tem problemas com a polícia. O agressor dentro de casa. Por isso tudo, fica evidente que seu “filhinho” praticante de bullying não será como se diz no dito popular, “flor que se cheire” amanhã ou depois. Percebeu que não passa com a idade e só aumenta? Por fim as testemunhas, essas amanhã, tenderão a reproduzir casos de omissão quando a injustiça e a violência estiverem próximas das mesmas.
     Defendo que nenhuma escola – pública ou privada, da educação infantil a educação de nível médio – possa iniciar um ano letivo sem antes reunir a comunidade escolar e discutir sobre o bullying mostrando para todos a sua intolerância quanto à prática do mesmo. Sim, a palavra é intolerância. Não podemos como educadores, formadores de opinião permitir que nossos estudantes pratiquem e sofram tamanha violência dentro e fora da escola. Inclusive fora com o chamado ciberbullying que é também uma prática ainda mais violenta do bullying porque extrapola os limites das paredes da escola e ganha o campo virtual e a velocidade de difusão que a internet oferece.
     Por fim, defendo ainda que para além da palestra inicial que todos os colégios devam fazer, é preciso patrulhamento – palavra pesada mais necessária – durante todo o ano de práticas de violência em suas diversas formas: apelidos, violência física, verbal e psicológica, exclusão de grupos proporcionando um não entrosamento e aceitação do outro, discriminação por raça / cor, gênero e orientação sexual – ou ainda por trejeitos – às vezes o adolescente nem é gay, mas por se mostrar mais sensível,carinhoso, não gostar de praticar esportes, é apontado pelos demais como homossexual e encontra apoio dentro da escola para tal prática discriminatória. A escola – pessoas que a constituem – precisa desenvolver uma cultura contrária ao bullying e monitorar as suas insurgências. Defendo ainda a elaboração simples de uma cartilha explicando o que é e os malefícios do bullying para quem sofre, pratica e testemunha, que cada escola – as públicas ainda mais, pois dinheiro o governo tem – desenvolva a sua e distribua para estudantes e pais. Que cada encontro de professores/as e mães e pais seja pautada a questão e que se cobre dos responsáveis que ajudem a escola contra essa praga que vem deteriorando as relações dentro do colégio e fora dele e gerando os problemas que apontei acima e tantos outros mais.
     Porque uma escola verdadeiramente educadora é a que transforma violência em educação, a que desfaz preconceitos, forma seres humanos respeitados e respeitadores e de fato é ativa e não passiva ou inerte ao que está diante de seus olhos e é seu dever intervir. A escola que empurra o bullying com o barriga é assassina de seus próprios estudantes.


* Law Araújo é educador – professor de Língua Portuguesa, Redação, Literatura e Historiador licenciado em ambas as graduações pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) e ensina na rede privada de Salvador. 

sexta-feira, 10 de março de 2017

Cultura do Estupro: Os fios que a tecem¹

Cultura do Estupro: Os fios que a tecem¹

     Foi comum ver nas redes sociais a hastag contra a Cultura do Estupro. Pessoas inclusive colocaram a frase como foto de perfil: “Eu luto / combato à cultura do estupro” (ou algo do tipo), mas, o sair do campo virtual ainda é problemático e o “x” da denominada questão. E por que não ir às ruas?
     Embora haja diversos setores dos movimentos sociais, há também uma desarticulação para o levantar-se e deixar o campo virtual para o real. E óbvio, também um enfraquecimento da organização contra a violência sofrida diariamente no Brasil – como o fato que iniciou nosso debate (isso em sala de aula) sobre a jovem carioca violentada por trinta e três homens e o caso ontem em São Gonçalo / RJ onde uma mulher foi violentada duas vezes na mesma noite, e o caso argentino que para além do estupro ocasionou o assassinato da vítima em decorrência da brutalidade e da forma com que ocorrera. Ou seja, no Brasil e no mundo cada dia é mais arriscado, perigoso ser mulher.
     A ideia do estupro (sua cultura), das diversas formas de violência, agressão, feminicídio são consideradas – pesquisas sobre o Mapa da Violência atestam sobre a temática – menos relevante do que se falar sobre. Quer dizer, pessoas, independente de classe, raça, status social e educacional acreditam que se fala sobre violência contra a mulher mais do que o tema “mereça” em relevância, segundo pesquisa dados do Mapa da Violência do ano 2015.
     Os fios que tecem a cultura do estupro perpassam como citei ao longo do curso (ver nota de rodapé) e no mesmo foi discorrido, por instituições que anulam vedando seus olhos ou descaracterizam, deslegitimam a luta e a causa. A instituição escola silencia. O governo negligencia com baixo orçamento e poucas delegacias especializadas e com pessoal preparado para o serviço e ação prática. A mídia ora abafa, ora deturpa discurso e informação. As músicas reforçam, incentivam e naturalizam. As novelas de TV romantizam o ato do estupro.
     Enfim, essas instituições acima citadas corroboram com fios da teia que dia a dia são tecidos e abarcam construindo um silenciamento da violência local e mundial que ocorre minuto após minuto. Hora a hora. Todos os dias e de maneira cada vez mais veloz e tida por corriqueira, banal, normal.
     O ato coletivo e o espírito de sororidade vistos na Argentina precisam ser urgentemente copiados e reproduzidos em todos os continentes onde haja – e bem sabemos que há – uma mulher sendo oprimida, violentada, agredida física, verbal, simbólica e psicologicamente falando.
    

Salvador, Bahia, 20 de outubro de 2016.

¹ Texto apresentado por mim no curso Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidades na disciplina de Metodologia – Universidade Federal da Bahia. 

quarta-feira, 8 de março de 2017

"Ah!... que mulher" um poema dedicado a Neide Souza



"Eu poderia dizer muitas coisas... Eu poderia nada falar... Poderia, quem sabe até mesmo de alguém plagiar... 
Mas o fundamental é não deixar passar em brancas nuvens a data que existe no mundo inteiro para reverenciar a mais bela, firme, idônea e singela criação divina: *#Mulher*. 
Sua existência provém a existência de outros. O filho que sou, os filhos que terei... 
Sou homem vindo de mulher, feliz e realizado por ter mulher...
Ah!! E que mulher.... Parabenizo minha amada e todas as mulheres desde esse mundo até a última galáxia! Feliz Dia a dia porque seu dia não se restringe a esse dia" 

poema "Ah!... que mulher"🌺  dedicado a Neide Souza...🌹escrito por Law Araújo