quinta-feira, 27 de junho de 2019

Automutilação juvenil: o sangue que escorre e grita por socorro


É cada dia maior os relatos de casos de automutilação entre a juventude. Porém, esse fenômeno não é novidade da geração atual. Dados da CPI do Senado Federal “Automutilação: um problema de saúde pública?” apresentado pelo doutor Carlos Henrique de Aragão Neto em 2017, consta que na década de 1980 – começo (400 casos para cada 100 mil habitantes) e final da mesma década (750 casos) – já havia essa prática nas suas mais diversas modalidades.
     Os adolescentes praticantes da mutilação dos próprios corpos geral e infelizmente são taxados de “os que querem aparecer” porque é ainda hoje mais comum (e fácil) julgar do que entender e ajudar. As razões que levam um jovem a se morder, cortar – na maioria dos casos com lâminas – , machucar-se de diferentes e variadas formas são diversos e complexos.
     O Bullying cada dia mais presente nas escolas sem dúvida contribui para que muitos se mutilem. Não aceitação de si, dos / por outros, problemas familiares são grandes contribuintes para que a prática da mutilação ocorra. Relatos de alunos por meio de conversas informais, formais, momentos de desabafos ou escrita de redações mostram isso. O adolescente é alguém ainda tentando se entender consigo e o mundo (a realidade) em que está inserido. Para alguns a adolescência é uma fase tranquila, para outros conturbada e há aqueles que seja uma fase de meio termo. O fato é que sem sombra de dúvidas é fase de descobertas e necessidade ou obrigação de aceitações. E se aceitar e ser aceito é um processo que desencadeia outros processos que para cada pessoa tem e traz suas particularidades.
     O que é preciso entender é que cada ser humano é único e inigualável. Como tal, o que um sofre, passa ou enfrenta provocará em si diferentes reações do que se fosse com outra pessoa que também é única e sem igual. Não se pode querer que todos ajam e reajam da mesma maneira a situações tão complexas ainda que em proporções de semelhanças. O fato é que o tempo que se perde tentando culpabilizar o jovem que se automutila e julgando-o não contribui em nada com o processo de entendimento da situação / problema e a construção de uma ação para o enfrentamento.
     As escolas – professores e aluno e funcionários e a família que forma essa comunidade escolar – precisam urgentemente se debruçar sobre essa realidade ao invés de ignorá-la, setorializá-la pensando ser caso isolado ou ainda e pior, julgar e condenar a quem todo dia se culpa e condena e como forma de “pagamento” derrama gotas de seu sangue pedindo socorro e vendo seu derrame de sangue ser ignorada e sua ação supervalorizada para a sua responsabilização condenatória.
     Os passos fundamentais para o enfrentamento a automutilação é:
1.      Entender o que ela é e as causas – possíveis – que a levam a existir;
2.      Não julgar e sim ajudar;
3.      Ouvir o adolescente que se corta sem expô-lo / expô-la;
4.      Mostrar para ele / ela e para os / as demais que a lâmina não é a amiga que deve acompanhar esse adolescente em seus momentos difíceis;
5.      Requer também como ação, que a família esteja mais próxima e pratique a escutatória desse adolescente;
6.      Realização de rodas de diálogo e palestras com profissionais e pessoas que tenham relevante contribuição a dar sobre a temática (como um grupo denominado Help – Não te julgo, te ajudo que gratuitamente visita escolas falando sobre o tema até com a participação de jovens que antes se mutilavam e superaram e dão seus depoimentos de como enfrentar e vencer essa dura – mas não impossível – batalha), dentre outras ações que devem ser pensadas.
     O que não se pode é fechar os olhos. Ignorar ou transformar em “mimimi” não ajudará a nenhuma parte envolvida, principalmente não ajudará a vítima.

Law Araújo
Professor de Literatura, Redação e Língua Portuguesa – Licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Historiador – Licenciado em História pela UCSal;
Especialista em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia – UFBA onde defendeu TCC sobre “Bullying na Escola” tendo obtido nota 10.0 da Banca Examinadora;
Palestrante e Blogueiro – Blog do Law Araújo – www.blogdolawaraujo.blogspot.com

Escola nova para mentalidades antigas


Do que adianta uma escola moderna e toda equipa com a mais alta e potente tecnologia se as mentes dentro dela são mais antigas que a velha máquina de datilografar e o mimeógrafo cheirando a álcool das escolas de outrora?
     Hoje é comum ouvir as reclamações de necessidade / obrigação do (a) professor (a) se atualizar, “estar por dentro”, ser antenado, ter o poder de fazer altos e incríveis links e logicamente, saber manusear as novas tecnologias que ajudarão a fazer das aulas mais dinâmicas e interessantes. É inegável que a tecnologia é um advento necessário e que bem usada só traz benefícios, no campo da educação então, nem se fala. Porém, a mais inovadora tecnologia não consegue vencer a distração do (a) aluno (a) que considera a escola como uma instituição chata e inútil e pensa muito mais em que horas acabará a aula do que o que está aprendendo nela.
     Por outro lado, do que adianta “presentear” professores com tablete IPAD, etc. se o mesmo é um mero reprodutor de informações e não um educador colaborativo que deseja o aprimoramento de suas aulas. A tecnologia não vence o cansaço dos que lecionam há anos e sofrem da síndrome de Gabriela (cravo e canela – obra de Jorge Amado) repetindo o mantra do “Eu sempre dei aula assim, meus alunos sempre aprenderam assim e não há porque mudar” (no original seria: “eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim: Sempre Gabriela”).
     Existe entre os que ensinam e os que aprendem (ou deveriam ensinar e aprender) um confronto que nenhuma arma tecnológica consegue romper ou liquidar. Há queixas de professores que informatizaram suas aulas e viram as mesmas virarem bagunça; por outro lado, ouvem-se reclames de que a tecnologia está lá e o professor não usa, ou ainda, de que o professor é especialista, mestre, possui doutorado, mas para lançar as notas no sistema demora um século e ainda o clássico mau uso e exagero dos slides. Aulas que anteriormente eram de um quadro lotado de informações escrita a giz ou no piloto, deram lugar a intermináveis leituras de slides em sala. Antes, os estudantes iam apresentar trabalhos e tinha aqueles que só seguravam a cartolina enquanto os outros falavam, lembra? Tinha amigos assim? Ou será que a pessoa da cartolina era você? Hoje, esse aluno ou aluna da cartolina é justamente aquele que fica sentado passando os slides enquanto a equipe se esmera em explicar os conteúdos para que o que passará os slides no computador ou notebook possa também ter uma boa nota.
     Não adianta mudar nada se não mudamos quem somos. Não adianta cobrar do professor que “atualize” sua aula se seus alunos não entendem o porquê estudam o que estudam e qual a real importância da educação em suas vidas. Não adiantará nada também WIFI em salas de aulas e computadores de ponta se o educador não souber como (re) transmitir o saber. Compartilhar o saber e saber como disse um dia Paulo Freire que existem saberes diferentes, nenhum maior ou menor e nem melhor ou pior, mas diferentes e de fato fazer com que essa diferença, aliada a tecnologia possa de fato e efetivamente contribuir para uma real e concreta renovação / revolução educacional.  
     Por fim, precisamos repensar a educação e o que dela (e com ela) fazemos. O aluno (a) repensar o porquê de estar em sala de aula e o mesmo exercício ser feito pelo (a) professor (a).  Enquanto tivermos retransmissores de conteúdos em sala e estudantes desmotivados, nossa nova educação esbarrará nas velhas mentes. Mas quando transformarmos a maneira de pensar como o Apóstolo Paulo (antes Saulo cuja mentalidade se renovou) disse aos Romanos em sua carta “Transformai-vos pela renovação de suas mentes” ninguém alcançará à boa, perfeita e agradável forma (arte) da educação.

Law Araújo
Professor de Literatura, Redação e Língua Portuguesa – Licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Historiador – Licenciado em História pela UCSal;
Especialista em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia – UFBA onde defendeu TCC sobre “Bullying na Escola” tendo obtido nota 10.0 da Banca Examinadora;
Palestrante e Blogueiro – Blog do Law Araújo – www.blogdolawaraujo.blogspot.com