É cada dia maior os
relatos de casos de automutilação entre a juventude. Porém, esse fenômeno não é
novidade da geração atual. Dados da CPI do Senado Federal “Automutilação: um
problema de saúde pública?” apresentado pelo doutor Carlos Henrique de Aragão
Neto em 2017, consta que na década de 1980 – começo (400 casos para cada 100
mil habitantes) e final da mesma década (750 casos) – já havia essa prática nas
suas mais diversas modalidades.
Os adolescentes praticantes da mutilação
dos próprios corpos geral e infelizmente são taxados de “os que querem aparecer”
porque é ainda hoje mais comum (e fácil) julgar do que entender e ajudar. As
razões que levam um jovem a se morder, cortar – na maioria dos casos com
lâminas – , machucar-se de diferentes e variadas formas são diversos e
complexos.
O Bullying cada dia mais presente nas
escolas sem dúvida contribui para que muitos se mutilem. Não aceitação de si,
dos / por outros, problemas familiares são grandes contribuintes para que a
prática da mutilação ocorra. Relatos de alunos por meio de conversas informais,
formais, momentos de desabafos ou escrita de redações mostram isso. O
adolescente é alguém ainda tentando se entender consigo e o mundo (a realidade)
em que está inserido. Para alguns a adolescência é uma fase tranquila, para
outros conturbada e há aqueles que seja uma fase de meio termo. O fato é que
sem sombra de dúvidas é fase de descobertas e necessidade ou obrigação de
aceitações. E se aceitar e ser aceito é um processo que desencadeia outros
processos que para cada pessoa tem e traz suas particularidades.
O que é preciso entender é que cada ser
humano é único e inigualável. Como tal, o que um sofre, passa ou enfrenta
provocará em si diferentes reações do que se fosse com outra pessoa que também é
única e sem igual. Não se pode querer que todos ajam e reajam da mesma maneira
a situações tão complexas ainda que em proporções de semelhanças. O fato é que
o tempo que se perde tentando culpabilizar o jovem que se automutila e
julgando-o não contribui em nada com o processo de entendimento da situação /
problema e a construção de uma ação para o enfrentamento.
As escolas – professores e aluno e
funcionários e a família que forma essa comunidade escolar – precisam urgentemente
se debruçar sobre essa realidade ao invés de ignorá-la, setorializá-la pensando
ser caso isolado ou ainda e pior, julgar e condenar a quem todo dia se culpa e
condena e como forma de “pagamento” derrama gotas de seu sangue pedindo socorro
e vendo seu derrame de sangue ser ignorada e sua ação supervalorizada para a
sua responsabilização condenatória.
Os passos fundamentais para o
enfrentamento a automutilação é:
1.
Entender o que ela é e as causas –
possíveis – que a levam a existir;
2.
Não julgar e sim ajudar;
3.
Ouvir o adolescente que se corta sem
expô-lo / expô-la;
4.
Mostrar para ele / ela e para os / as
demais que a lâmina não é a amiga que deve acompanhar esse adolescente em seus
momentos difíceis;
5.
Requer também como ação, que a família
esteja mais próxima e pratique a escutatória desse adolescente;
6.
Realização de rodas de diálogo e
palestras com profissionais e pessoas que tenham relevante contribuição a dar
sobre a temática (como um grupo denominado Help – Não te julgo, te ajudo que gratuitamente
visita escolas falando sobre o tema até com a participação de jovens que antes
se mutilavam e superaram e dão seus depoimentos de como enfrentar e vencer essa
dura – mas não impossível – batalha), dentre outras ações que devem ser
pensadas.
O que não se pode é fechar os olhos.
Ignorar ou transformar em “mimimi” não ajudará a nenhuma parte envolvida, principalmente
não ajudará a vítima.
Law
Araújo
Professor
de Literatura, Redação e Língua Portuguesa – Licenciado em Letras Vernáculas
pela Universidade Católica do Salvador – UCSal;
Historiador
– Licenciado em História pela UCSal;
Especialista
em Educação em Gênero e Direitos Humanos pela Universidade Federal da Bahia –
UFBA onde defendeu TCC sobre “Bullying na Escola” tendo obtido nota 10.0 da
Banca Examinadora;
Palestrante
e Blogueiro – Blog do Law Araújo – www.blogdolawaraujo.blogspot.com
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