Como ser humano racional e educador, me
recuso a aceitar a ideia de bullying como algo que vem sendo dito e repetido
por aí, de que seja algo “de criança” ou “coisa da idade”. Não! Mil vezes não.
A prática do bullying não pode ser
naturalizada porque não é natural / normal e nem aceitável que crianças e
adolescentes sejam – principalmente no ambiente escolar – agredidas,
ridicularizadas, vitimadas, ofendidas, excluídas com essa nefasta atitude e
venhamos ouvir de educadores – colegas professores, coordenadores pedagógicos,
direção, funcionários – e pais de estudantes que é uma coisa normal e que com o
tempo passa.
O bullying não passa. Fica e com marcas
profundas nas três categorias envolvidas nele: 1 – a vítima; 2 – o agressor; 3 –
as testemunhas que ora apóiam, incentivam, filmam, riem, aplaudem, ora se
omitem, silenciam até por medo de serem as próximas vítimas.
Quem foi e é vítima hoje, será amanhã um
adulto com inúmeras dificuldades, traumatizado, impotente nas suas relações e
modo de viver e conviver, além de depressivo e tendendo em inúmeros casos ao
suicídio. Por isso, não passa, fica e mata até. O praticante de ontem e de
hoje, o faz por buscar exercer uma liderança e obter medo e respeito dos
demais, pesquisas e relatos mostram que esse agressor amanhã, é um jovem /
adulto ainda mais problemático, drogado ou envolto ao universo das drogas.
Aquele que sempre tem problemas com a polícia. O agressor dentro de casa. Por isso
tudo, fica evidente que seu “filhinho” praticante de bullying não será como se
diz no dito popular, “flor que se cheire” amanhã ou depois. Percebeu que não
passa com a idade e só aumenta? Por fim as testemunhas, essas amanhã, tenderão
a reproduzir casos de omissão quando a injustiça e a violência estiverem
próximas das mesmas.
Defendo que nenhuma escola – pública ou
privada, da educação infantil a educação de nível médio – possa iniciar um ano
letivo sem antes reunir a comunidade escolar e discutir sobre o bullying mostrando
para todos a sua intolerância quanto à prática do mesmo. Sim, a palavra é
intolerância. Não podemos como educadores, formadores de opinião permitir que
nossos estudantes pratiquem e sofram tamanha violência dentro e fora da escola.
Inclusive fora com o chamado ciberbullying
que é também uma prática ainda mais violenta do bullying porque extrapola os
limites das paredes da escola e ganha o campo virtual e a velocidade de difusão
que a internet oferece.
Por fim, defendo ainda que para além da
palestra inicial que todos os colégios devam fazer, é preciso patrulhamento –
palavra pesada mais necessária – durante todo o ano de práticas de violência em
suas diversas formas: apelidos, violência física, verbal e psicológica,
exclusão de grupos proporcionando um não entrosamento e aceitação do outro,
discriminação por raça / cor, gênero e orientação sexual – ou ainda por
trejeitos – às vezes o adolescente nem é gay, mas por se mostrar mais
sensível,carinhoso, não gostar de praticar esportes, é apontado pelos demais
como homossexual e encontra apoio dentro da escola para tal prática discriminatória.
A escola – pessoas que a constituem – precisa desenvolver uma cultura contrária
ao bullying e monitorar as suas insurgências. Defendo ainda a elaboração
simples de uma cartilha explicando o que é e os malefícios do bullying para
quem sofre, pratica e testemunha, que cada escola – as públicas ainda mais,
pois dinheiro o governo tem – desenvolva a sua e distribua para estudantes e
pais. Que cada encontro de professores/as e mães e pais seja pautada a questão
e que se cobre dos responsáveis que ajudem a escola contra essa praga que vem
deteriorando as relações dentro do colégio e fora dele e gerando os problemas que
apontei acima e tantos outros mais.
Porque uma escola verdadeiramente
educadora é a que transforma violência em educação, a que desfaz preconceitos,
forma seres humanos respeitados e respeitadores e de fato é ativa e não passiva
ou inerte ao que está diante de seus olhos e é seu dever intervir. A escola que
empurra o bullying com o barriga é assassina de seus próprios estudantes.
* Law
Araújo é educador – professor de Língua Portuguesa, Redação, Literatura e
Historiador licenciado em ambas as graduações pela Universidade Católica do
Salvador (UCSal) e ensina na rede privada de Salvador.
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