sexta-feira, 10 de março de 2017

Cultura do Estupro: Os fios que a tecem¹

Cultura do Estupro: Os fios que a tecem¹

     Foi comum ver nas redes sociais a hastag contra a Cultura do Estupro. Pessoas inclusive colocaram a frase como foto de perfil: “Eu luto / combato à cultura do estupro” (ou algo do tipo), mas, o sair do campo virtual ainda é problemático e o “x” da denominada questão. E por que não ir às ruas?
     Embora haja diversos setores dos movimentos sociais, há também uma desarticulação para o levantar-se e deixar o campo virtual para o real. E óbvio, também um enfraquecimento da organização contra a violência sofrida diariamente no Brasil – como o fato que iniciou nosso debate (isso em sala de aula) sobre a jovem carioca violentada por trinta e três homens e o caso ontem em São Gonçalo / RJ onde uma mulher foi violentada duas vezes na mesma noite, e o caso argentino que para além do estupro ocasionou o assassinato da vítima em decorrência da brutalidade e da forma com que ocorrera. Ou seja, no Brasil e no mundo cada dia é mais arriscado, perigoso ser mulher.
     A ideia do estupro (sua cultura), das diversas formas de violência, agressão, feminicídio são consideradas – pesquisas sobre o Mapa da Violência atestam sobre a temática – menos relevante do que se falar sobre. Quer dizer, pessoas, independente de classe, raça, status social e educacional acreditam que se fala sobre violência contra a mulher mais do que o tema “mereça” em relevância, segundo pesquisa dados do Mapa da Violência do ano 2015.
     Os fios que tecem a cultura do estupro perpassam como citei ao longo do curso (ver nota de rodapé) e no mesmo foi discorrido, por instituições que anulam vedando seus olhos ou descaracterizam, deslegitimam a luta e a causa. A instituição escola silencia. O governo negligencia com baixo orçamento e poucas delegacias especializadas e com pessoal preparado para o serviço e ação prática. A mídia ora abafa, ora deturpa discurso e informação. As músicas reforçam, incentivam e naturalizam. As novelas de TV romantizam o ato do estupro.
     Enfim, essas instituições acima citadas corroboram com fios da teia que dia a dia são tecidos e abarcam construindo um silenciamento da violência local e mundial que ocorre minuto após minuto. Hora a hora. Todos os dias e de maneira cada vez mais veloz e tida por corriqueira, banal, normal.
     O ato coletivo e o espírito de sororidade vistos na Argentina precisam ser urgentemente copiados e reproduzidos em todos os continentes onde haja – e bem sabemos que há – uma mulher sendo oprimida, violentada, agredida física, verbal, simbólica e psicologicamente falando.
    

Salvador, Bahia, 20 de outubro de 2016.

¹ Texto apresentado por mim no curso Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidades na disciplina de Metodologia – Universidade Federal da Bahia. 

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