Cultura do Estupro:
Os fios que a tecem¹
Foi comum ver nas redes sociais a hastag
contra a Cultura do Estupro. Pessoas inclusive colocaram a frase como foto de
perfil: “Eu luto / combato à cultura do estupro” (ou algo do tipo), mas, o sair
do campo virtual ainda é problemático e o “x” da denominada questão. E por que
não ir às ruas?
Embora haja diversos setores dos
movimentos sociais, há também uma desarticulação para o levantar-se e deixar o
campo virtual para o real. E óbvio, também um enfraquecimento da organização
contra a violência sofrida diariamente no Brasil – como o fato que iniciou
nosso debate (isso em sala de aula)
sobre a jovem carioca violentada por trinta e três homens e o caso ontem em São
Gonçalo / RJ onde uma mulher foi violentada duas vezes na mesma noite, e o caso
argentino que para além do estupro ocasionou o assassinato da vítima em decorrência
da brutalidade e da forma com que ocorrera. Ou seja, no Brasil e no mundo cada
dia é mais arriscado, perigoso ser mulher.
A ideia do estupro (sua cultura), das
diversas formas de violência, agressão, feminicídio são consideradas –
pesquisas sobre o Mapa da Violência atestam sobre a temática – menos relevante
do que se falar sobre. Quer dizer, pessoas, independente de classe, raça,
status social e educacional acreditam que se fala sobre violência contra a
mulher mais do que o tema “mereça” em relevância, segundo pesquisa dados do
Mapa da Violência do ano 2015.
Os fios que tecem a cultura do estupro
perpassam como citei ao longo do curso (ver
nota de rodapé) e no mesmo foi discorrido, por instituições que anulam
vedando seus olhos ou descaracterizam, deslegitimam a luta e a causa. A
instituição escola silencia. O governo negligencia com baixo orçamento e poucas
delegacias especializadas e com pessoal preparado para o serviço e ação prática.
A mídia ora abafa, ora deturpa discurso e informação. As músicas reforçam,
incentivam e naturalizam. As novelas de TV romantizam o ato do estupro.
Enfim, essas instituições acima citadas
corroboram com fios da teia que dia a dia são tecidos e abarcam construindo um
silenciamento da violência local e mundial que ocorre minuto após minuto. Hora
a hora. Todos os dias e de maneira cada vez mais veloz e tida por corriqueira,
banal, normal.
O ato coletivo e o espírito de sororidade
vistos na Argentina precisam ser urgentemente copiados e reproduzidos em todos
os continentes onde haja – e bem sabemos que há – uma mulher sendo oprimida,
violentada, agredida física, verbal, simbólica e psicologicamente falando.
Salvador, Bahia,
20 de outubro de 2016.
¹ Texto
apresentado por mim no curso Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidades na
disciplina de Metodologia – Universidade Federal da Bahia.
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