O irmão do papa Bento 16, Georg Ratzinger, disse em entrevista ao jornal espanhol "El País" que a renúncia do papa não foi motivada pelos escândalos recentes envolvendo a Igreja Católica. Os escândalos, segundo Ratzinger, não teriam "nada a ver" com a decisão de Bento 16.
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Ratzinger disse que a decisão do irmão foi baseada na importância das tarefas do papa -- religiosas, diplomáticas, políticas e econômicas--, que, segundo ele "tem prioridade sobre a pessoa".
Ele disse que falou com seu irmão poucas horas após o anúncio, feito na última segunda-feira (11), e que está seguro de que Bento 16 não irá exercer nenhum tipo de "influência indesejada" na eleição do seu sucessor.
A expectativa de Ratzinger, que vive na Alemanha, é que longe das funções de papa, Bento 16 passe mais tempo junto dele: "espero que possamos passar mais tempo juntos, falando de teologia, de liturgia, de lembranças e experiências comuns".
RENÚNCIA
O papa Bento 16 anunciou na última segunda-feira (11) que irá renunciar ao cargo no dia 28 de fevereiro.
O principal motivo de sua renúncia seria a idade avançada, Bento 16 tem 85 anos e sofre de artrite, especialmente nos joelhos, quadris e tornozelo.
O papa viria ao Brasil em julho para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.
Um conclave será convocado para escolher o próximo pontífice. Até que um novo Papa seja escolhido, o posto ficará vago.
Bento 16 foi eleito para suceder João Paulo 2º, um dos pontífices mais populares da história. Ele foi escolhido em 19 de abril de 2005, quando tinha 78 anos, 20 anos mais velho que João Paulo 2º quando foi eleito.
Papa promete não interferir em sucessão
O papa Bento 16 não vai interferir na escolha do seu sucessor. Tampouco vai exercer qualquer função concreta no Vaticano a partir das 20h do dia 28 deste mês (17h de Brasília), quando sua saída se efetivar.
A promessa, que contraria a avaliação da maioria dos analistas, foi feita ontem pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, um dia após o surpreendente anúncio da renúncia por motivos de debilidade física.
O Vaticano também revelou que o pontífice de 85 anos utiliza um marca-passo "há muitos anos", mas negou que problemas cardíacos estejam relacionados à sua renúncia.
"Não teve nenhum peso na decisão", disse Lombardi. Há três meses, o papa passou por cirurgia para trocar as baterias do aparelho cardíaco.
Normalmente, um papa influi indiretamente na sua sucessão ao nomear os cardeais que votarão no conclave após a sua morte.
Com a abdicação, entretanto, Bento 16 continua ocupando o trono de são Pedro enquanto as articulações para a escolha do próximo pontífice já começaram a ocorrer nos bastidores. Dos 118 cardeais que hoje compõem o colégio eleitoral, 67 foram nomeados pelo alemão.
A situação é tão insólita no Vaticano que o próprio porta-voz não soube indicar ontem o título que caberia ao atual papa após 1º de março.
Após deixar o posto, segundo Lombardi, o papa vai primeiro descansar na residência de verão, próxima de Roma. Depois, ele passará a viver em um convento dentro dos muros do Vaticano.
Na prática, haverá então dois papas, um aposentado e outro no Palácio Apostólico, vivendo na cidade-Estado. O porta-voz disse que isso não criará nenhum problema porque Bento 16 usará o seu tempo para a "oração e reflexão".
"O papa Bento 16 é uma pessoa discreta e extremamente rigorosa e não terá nenhuma interferência que provoque o menor desconforto ao seu sucessor."
ÚLTIMOS DIAS
Estão previstas para hoje as primeiras aparições públicas do papa desde o anúncio da abdicação. De manhã, Bento 16 concederá a audiência aos fiéis. À tarde, presidirá a celebração da tradicional missa de Quarta de Cinzas na Basílica de São Pedro.
Até o final da semana, ele receberá párocos de Roma e os presidentes da Romênia e da Guatemala. Depois, parte para um retiro de Páscoa.
O Vaticano prepara uma despedida em que o papa se encontre com uma grande multidão, no dia 27. Na véspera de deixar o cargo, Bento 16 presidirá sua última audiência na praça São Pedro, que pode receber centenas de milhares de pessoas.
Segundo Lombardi, o "anel do pescador", um baixo relevo de São Pedro, será destruído após a renúncia. O anel simboliza o pontificado e é especialmente feito para cada um dos pontífices.
FONTE: Folha de São Paulo
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