segunda-feira, 18 de março de 2013

Aleluia defende decisão sobre candidaturas apenas em 2014

Osvaldo Lyra, Tribuna

De presidente do DEM a secretário municipal de Urbanismo e Transportes, José Carlos Aleluia voltou a ter o padrão técnico que possuía antes de ingressar na carreira política – voltou até a pagar o Crea, segundo o próprio disse. Evitou falar de política e de apontar eventuais nomes da oposição para a sucessão do governo do estado.
Em entrevista à Tribuna, Aleluia admite que há um impasse entre os Palácios Thomé de Souza e Ondina no tocante ao sistema tarifário da integração entre ônibus e metrô. Para ele, entretanto, as conversas têm sido positivas e há a expectativa de que o entendimento aconteça nos próximos dias.

Tribuna – Como está sendo lidar com tantos problemas no trânsito que existem hoje em Salvador?
José Carlos Aleluia – A
cidade tem uma história recente de total falta de administração do trânsito. As pessoas se habituaram a usar as ruas, as calçadas, os jardins e as praças como espaços exclusivos dos transportes individuais, dos carros, fecharam praticamente toda a cidade e a cidade virou uma cidade dos carros, onde as pessoas são expulsas progressivamente dos seus espaços. A primeira coisa que tem que se fazer é recuperar o espaço de gente. Passeio é de gente, rua é para carro circular e estacionamento é problema do dono do veículo, do carro. Voltar à responsabilidade por possuir um carro. Em qualquer lugar do mundo, uma cidade com a dimensão de Salvador tem que disciplinar o uso do carro para que ele não esmague as pessoas. Não é esmagar no sentido físico, é esmagar no sentido holístico, no sentido global.

Tribuna – O que já conseguiu fazer ao longo desses dois primeiros meses?

Aleluia – Eu diria que nós fizemos muito menos do que vamos fazer. Nós estamos usando, no trânsito, uma técnica oriental chamada acupuntura. Nós estamos atuando nos pontos que doem para que os músculos se distendam. Tivemos alguns avanços, começando pela Barra, que foi, digamos assim, uma demonstração. Tudo feito de um só golpe. Depois nós dialogamos, conversamos com as pessoas, e verificamos que foi muito bem aceito. Depois nós saímos na Avenida Sete. Lá as pessoas andam no meio da rua, os passeios integralmente ocupados por ambulantes e a última faixa usada para parar e sobrava uma única faixa para circular. Seguimos até a Praça da Sé, voltamos pela Rua Chile e estamos trabalhando ainda. É um produto acabado? Não, é um processo. Os moradores dali, da Barra, Avenida, Cidade Alta, Cidade Baixa, são moradores que já não descumprem as normas. Fizemos uma intervenção já em São Joaquim. Vamos fazer isso pelo Subúrbio, Pernambués, na Sussuarana, Cajazeiras, Vasco da Gama...

Tribuna – O senhor andou de ônibus, viu 'in loco' o que passa a população todos os dias. O que falar para essas pessoas, diante do caos que é o sistema de transporte público da cidade?

Aleluia – Vocês podem ter certeza de que a administração do prefeito ACM Neto vai dar total, está dando total prioridade aos transportes coletivos. É claro que nós não vamos impedir as pessoas de usarem os seus carros, mas não haverá – e pra isso você tem que organizar as coisas – trégua enquanto nós não reduzirmos o tempo de traslado das pessoas. Eu falo todo dia com pessoas que usam o transporte coletivo. Falei com um senhor que gastou quase duas horas na volta pra casa. Isso é desumano. Você gastar duas horas do seu trabalho para sua casa, quem saiu 17h30, 18h, é um absurdo.

Tribuna – Uma das alternativas que estão sendo faladas é reordenar as linhas de ônibus da cidade. Como está o processo de licitação dos ônibus e quando isso efetivamente vai sair do papel?
Aleluia – Nós estamos com uma negociação em massa entre
governo do estado e a prefeitura para estabelecermos a forma de transferência, provável transferência, do metrô para o estado, que pretende investir no metrô. E, dentro desse modelo, as linhas serão ordenadas para não concorrer com o metrô e para se integrar ao metrô. Claro que as linhas serão mais curtas. Eu costumo dizer que quem está, por exemplo, em Cajazeiras, para se deslocar até Pirajá – porque o estado pretende concluir o metrô até Pirajá -, quem está em Itapuã vai se deslocar para Mussurunga. O metrô é uma linha importante, que eu espero que o estado execute, e nós estamos conversando, estamos nos entendendo com o governo nesse sentido. É claro que depois disso faremos a nossa licitação. Vamos ter duas licitações de transporte de Salvador. Uma pelo estado, que trata do metrô, e a outra da prefeitura, que trata dos ônibus.

Tribuna – Como está a relação da prefeitura com os empresários de ônibus?


Aleluia – Eu tenho uma relação de respeito. Os empresários de ônibus entenderam que essa administração não vai abrir mão do poder que a Constituição lhes deu. A prefeitura é o poder concedente, e o poder concedente define as regras e as empresas cumprem a regra do jogo. Eu não tenho tido nenhuma insubordinação, pelo contrário, de forma negociada, os empresários que tinham demandas voltaram a pagar os impostos. Há três anos eles não pagavam impostos porque não havia entendimento com a administração municipal, voltaram a pagar os impostos municipais.
Tribuna – Nos bastidores se fala que os empresários de ônibus cobram uma dívida milionária junto ao município. E que eles queriam usar agora esse dividendo para sair na frente no processo licitatório. Tem algum fundamento isso?

Aleluia – Os empresários alegam ter um crédito na prefeitura, crédito este que está judicializado. E quando você tem uma demanda judicializada, ela não deve impedir as outras coisas. O fato, por exemplo, de uma construtora ter uma fatura para receber na prefeitura atrasada não lhe dá o direito de deixar de pagar imposto. Não lhe dá o direito de construir sem licença. E os empresários entenderam isso. Nós não negamos a eles o direito de demandar na Justiça os direitos, eles vão continuar demandando e a prefeitura tem excelentes advogados, excelentes procuradores – eles também têm excelentes advogados – e vão se entender. Mas as coisas vão andar. É importante para a cidade fazer a licitação e deixar isso para trás.

Tribuna – Gargalos, quais os principais identificados pela administração e como atacá-los de forma imediata?

Aleluia – Como eu disse, o principal problema de trânsito de Salvador é a operação. Se você fizer uma boa operação, se as pessoas cumprirem bem as regras do trânsito, vai melhorar. Mas para isso é necessário que em paralelo se invista no transporte coletivo. O principal gargalo é a falta de um bom o transporte coletivo. Enquanto o transporte coletivo for ruim, o sistema viário de Salvador não será capaz de dar seguimento a tudo. Essa semana, por exemplo, fui a uma reunião no Centro Administrativo e fiquei sem carro. Pensei em pegar o ônibus, mas pensei apenas. Eu gostaria de ter pegado o ônibus, desci pro ônibus e os ônibus estavam tão cheios que eu fiquei aguardando e passou uma amiga e me deu uma carona. Eu ia tentar pegar. Realmente, enquanto você não tiver um transporte coletivo em que as pessoas, todas, se sintam à vontade para entrar no transporte coletivo, você não vai ter um sistema de circulação de trânsito em Salvador razoável.

Tribuna – E quando isso vai ser possível?

Aleluia – Nós vamos, como disse, fazer isso progressivo. Depende da licitação, mas não vamos ficar parados. Primeiro, eu vou cobrar dos empresários de ônibus melhorias nos equipamentos, para dar acessibilidade, acho que não deve entrar mais aparelho sem ar-condicionado em Salvador. Nós temos que estabelecer padrões de ônibus, melhorar a frota, em termos de estabelecer ônibus de maior capacidade em trechos que precisam, integrar o sistema, isso tudo será feito. É importante que eles circulem. Não adiante ter engarrafamento de ônibus. Nós hoje temos engarrafamento de ônibus. Isso não resolve nada.

Tribuna – Um dos problemas que temos é o excesso de sinaleiras em lugares errados e que não funcionam de forma sincronizada. Quando se tornará realidade o projeto de mudança para equipamentos, para dar maior fluidez?

Aleluia – Num primeiro momento nós vamos recuperar, com equipamentos mais modernos, o sistema de transporte. Alguns são sincronizados, voltaram a ser sincronizados, outros não. Acho que temos que rever as posições. Algumas sinaleiras são típicas de pedestres. Claro que teria que ter outro tipo de passarela, outro tipo de passagem que não fosse uma sinaleira. É claro que nós vamos investir nas sinaleiras, no monitoramento da frota. Vamos investir na questão do controle dos radares, da tecnologia. Por isso que nós escolhemos um jovem que entende de tecnologia para ser o superintendente da Transalvador (Fabrizio Muller). Porque entendemos que a tecnologia é um caminho para melhorar o trânsito e o transporte coletivo de Salvador.

Tribuna – As estações de transbordo, o que acontecerá com elas? O que vai acontecer com a Estação da Lapa, com a Pirajá?

Aleluia – As Estações da Lapa, Pirajá e Mussurunga são estações que estão, realmente, péssimas. Todo dia eu converso com os dirigentes da Transalvador para nós melhorarmos. Não é fazer investimento maior, é melhorar a operação. A primeira vez que eu fui e a segunda vez que eu fui à Estação de Pirajá, o banheiro, seguramente, foi um dos piores lugares que eu já entrei na minha vida. Um inferno de Dante. Uma sala enorme, com vultos – porque não tinha iluminação, nem natural nem artificial -, um mau cheiro que exalava pela porta. Na segunda vez, era a mesma coisa. Eu não voltei a terceira vez, mas a informação que eu tenho é que as coisas estão melhores. E vão melhorar mais. Tem que ter limpeza. As estações não tinham limpeza. Não tinha equipe de limpeza.

Tribuna – Tem alguma expectativa de que as estações de transbordo entrem numa negociação com o empresariado de ônibus para que eles invistam nesses equipamentos, dando estrutura?

Aleluia – Não, isso não está em discussão. Nós estamos passando uma parte das estações para o estado, para que ele construa e reconstrua e opere com o módulo do metrô, e as Estações da Lapa e Pirajá, por enquanto, estamos trabalhando com hipótese de que venha a ser feita uma concessão para a exploração do serviço público. Ou seja, a empresa poderia explorar, investir e melhorar, estabelecer padrões de qualidade. Nós já vimos que a capacidade operacional das prefeituras – não só de Salvador – para operar as estações é muito baixa. Por isso você está vendo pelo Brasil afora sendo feitas concessões para estações, muito bem-sucedidas para o usuário.

Tribuna – Um ponto de tensionamento ali na região do Iguatemi é a existência do terminal rodoviário naquele local. Existe alguma expectativa de levar aquele equipamento para algum trecho da BR, próximo a Simões Filho?

Aleluia – Acho que não é uma opção para o momento. Eu morei durante quatro anos em Recife. E quando lá cheguei, tinha uma estação rodoviária nova construída, já tinha um ou dois anos. Passei os quatro anos lá e a estação rodoviária nunca foi colocada em operação, porque ela é próxima do fim do mundo. Ela só foi colocada em operação no dia em que foi feito o transporte de massa. Se alguém pensar em tirar a rodoviária do centro, tem que fazer transporte de massa. Porque o pobre que chega de viagem, que salta lá na BR para pegar um táxi para ir para casa, vai terminar gastando três vezes, quatro vezes mais do que de ônibus. A rodoviária é muito bem localizada. Eu darei sempre prioridade ao transporte público. Se há dúvida, vou tirar o transporte individual. Transporte público para mim tem que ficar lá. Todas as cidades grandes do mundo, as estações chegam no centro. Londres, quando você chega, chega no centro. Paris você chega no centro. Nova York você chega no centro. Por que vou botar o pobre coitado que vem do interior para chegar lá na BR?

Tribuna – Existe um ponto de tensionamento com o governo do estado sobre o metrô. O que realmente está acontecendo?

Aleluia – A reunião que tivemos essa semana foi muito boa, ficou muito claro que o governador tem firme intenção e propósito de receber o sistema de metrô. Ficou muito claro que o prefeito pretende transferir a responsabilidade do metrô para o estado. Mas existe pelo menos um ponto que não foi avistado. O prefeito não admite aumentar a tarifa de ônibus, para manter o equilíbrio do sistema de ônibus. E o governador também não quer que o cidadão passe a pagar mais por existir metrô. Acho que os dois têm posições nobres, de defender a tarifa, e a tarifa do metrô tem problemas. O metrô em todo o mundo é subsidiado. O metrô de Londres, o último número que eu vi, fala-se em quatro milhões de libras por ano. E é um metrô antigo, secular. Portanto, não vamos achar que é uma coisa fácil. Mas os técnicos estão trabalhando, eu estou trabalhando, junto com o secretario Albérico (Mascarenhas, Casa Civil), com o secretário Rui Costa (Casa Civil do estado), secretário de Desenvolvimento Urbano (Cícero Monteiro), estamos trabalhando. A reunião foi muito boa, de pessoas que querem construir. Dizem que foi uma reunião positiva, até o Rui Costa brincou: "saiu uma fumaça cinza". Eu brinquei com ele: 'não chegou a ser preta, foi cinza'.

Tribuna – Qual a solução para esse impasse do metrô sob a ótica da prefeitura? O que é que vocês defendem?

Aleluia – O princípio já está acertado. O sistema de ônibus que alimenta ele, por si só, resolve o problema econômico-financeiro. Não recebe subsídios. O sistema do metrô tem a sua vida também. Remuneração e funcionamento. O que está em dificuldade? O sistema de ônibus tem que se integrar ao sistema de metrô. Não haverá concorrência. As coisas mais difíceis já foram acertadas. Agora, qual é a tarifa de integração? O que é trecho de integração? Quando eu entro no ônibus e uso o metrô, quanto eu paguei é pro metrô e quanto eu paguei é pro ônibus? É razoável que, se eu faço uma parte da minha viagem no ônibus e a outra parte no metrô, o que eu paguei precisa ser dividido entre os dois. Essa é a divisão que tem sido discutida.

Tribuna – O senhor defende a entrada da linha 1 do metrô da Lapa ao Acesso Norte em operação tão logo seja transferida para o governo do estado?

Aleluia – Eu acho que é uma decisão do governo do estado se ele assumir. Se nós assumirmos, nós tomaremos a decisão. Eu não gostaria de antecipar que a decisão do governo do estado fará. Eu ouvi do governador a ideia de que ele irá finalizar a linha até Pirajá, o que é muito bom. Se ele vai colocar antes a outra em operação, eles que vão decidir.

Tribuna – Falar um pouco de política... Como está vendo a antecipação da disputa eleitoral de 2014?

Aleluia – Eu prefiro ser um pouco mais mineiro. Os mineiros deixam as coisas andarem, eles ficam esperando o tempo certo, e eu acho que o processo eleitoral só deve ser tratado no momento certo, no caminhar de 2014. É natural que as pessoas fiquem procurando espaço, lançando candidaturas. Nosso partido mesmo tem uma obrigação muito grande que nós estamos dedicados integralmente a ela, servir a administração do nosso partido, que tem um prefeito jovem e competente, que está se firmando como uma grande liderança na cidade de Salvador.

Tribuna – A oposição terá dificuldade de apresentar um nome forte em 2014?

Aleluia – É muito cedo para falar isso. A prioridade nossa é a administração de Salvador. E eu acho que, pelo que senti do governador, a prioridade dele é a administração da Bahia. Vamos administrar as coisas, depois a gente conversa sobre política partidária.

Tribuna – O senhor está muito mais técnico hoje até pela função que o senhor ocupa, deixou a presidência do partido...

Aleluia (interrompendo) – Eu voltei até a pagar o Crea.

Tribuna – O senhor tem alguma expectativa eleitoral em 2014?

Aleluia – É uma possibilidade. Eu estou tão motivado aqui e eu diria que uma candidatura é uma possibilidade, mas acho que o projeto está bom. Estou me sentindo como um engenheiro recém-formado, que está começando uma missão muito grande, de fazer coisas que afetam a vida das pessoas.

Tribuna – Um ano e quatro meses vai ser tempo suficiente para lhe projetar para um projeto maior, para um projeto eleitoral já em 2014?

Aleluia – Não é esse o objetivo. O objetivo é servir a cidade de Salvador. Nós não devemos pensar num projeto pessoal. Não há projeto pessoal. Nós temos uma equipe. Uma equipe liderada por ACM Neto, e ninguém deve ter projeto pessoal.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte 

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