O conceito sempre foi brandido pelo governador Jaques Wagner. Desde que se elegeu ao governo, ele costuma dizer que não precisa de um ministro da Bahia em Brasília porque prefere se relacionar diretamente com todo o ministério. Dessa forma, os seus pleitos, ou melhor, os pleitos do Estado não ficam restritos à atenção apenas daquelas pastas onde a Bahia tem representantes. É um bom conceito, mas, como tudo, está longe de ser absoluto. Além do mais, o “relacionamento com todo o ministério” pode contentar o governador.
Mas está longe de deixar felizes deputados, federais e estaduais, e políticos de maneira geral, como prefeitos, vereadores e lideranças do interior. Na política brasileira, todos gostam de ter um conterrâneo com quem possam chorar suas mágoas no Planalto Central, a quem possam dirigir pedidos para a solução do que consideram problemas em seus municípios ou Estado. Não importa se o cabra é fraquinho ou se sua atuação em Brasília é percebida como lastimável, como parece ter sido o caso dos ex-ministros Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Mário Negromonte (Cidades).
Como diz um conhecido político baiano, nada paga a sensação de prestígio que o acesso livre a um gabinete ministerial em Brasília confere, sentimento que aumenta no caso de o visitante não ser do mesmo grupo político do ministro. Embora não se julguem os métodos nem se discutam os resultados, a existência de um ministro representando um Estado em Brasília é a certeza de que, em alguns aspectos, a parte da Federação a que pertence será vista com mais atenção. Quando Geddel Vieira Lima ocupou o Ministério da Integração Nacional, foi acusado de dar prioridade à Bahia em detrimento de outros Estados.
Os recursos que dirigiu a Salvador na época, turbinando algumas obras na capital, são apontados como os responsáveis pela reeleição do prefeito João Henrique (PP). O sucessor de Geddel, Fernando Bezerra, foi alvo das mesmas críticas, porque priorizou Pernambuco, sua terra. Estão aí duas evidências de que presença em ministério significa, sim, algum retorno para o Estado de origem política do ministro, ainda que ele, sem fiscalização efetiva por parte da sociedade, possa se conceder a liberdade de, assim, priorizar também seus interesses políticos, quando não pessoais, em detrimento daqueles da coletividade.
É por essas e outras que, enquanto não compensar as perdas, materiais e psicológicas, provavelmente mais psicológicas do que materiais no caso de Florence e Negromonte, que o Estado sofreu com a demissão de ambos, Wagner tenha que conviver com a idéia de que não consegue usar o prestígio pessoal que lhe permite ser convidado a toda hora a Brasília e até para viagens internacionais com a presidente Dilma Rousseff, como a que aconteceu recentemente à Alemanha, em benefício do Estado que governa. Um conceito, este sim, que tem tudo para se disseminar, principalmente no momento em que é brandido por seus próprios aliados.
(Raul Monteiro - site Política Livre)
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