A turismóloga Liciane Rossetto, coordenadora de pós-graduação lato sensu do Unilasalle Canoas, em Canoas (RS), explica que existem muitas informações veladas sobre o tema no País. "É como se fingíssemos que aqui não acontece, em especial no Sul. O Brasil é, sim, um destino para o turismo sexual. E isso ocorre em parte porque a sexualidade é considerada característica marcante da nação, porque se acredita na impunidade do delito contra menores de idade e também porque há uma grande tendência de que essas rotas do turismo sexual ocorram dos países ricos em direção aos países pobres", ressalta. Para punir os sites criminosos, o Ministério do Turismo encaminhou para a Polícia Federal todas as páginas que possuíam indícios de crimes, especialmente contra crianças e adolescentes.
Itamar Gonçalves, gerente de programas da Childhood Brasil, destaca que os Estados do Nordeste aparecem hoje como o maior destino de turistas que vão atrás de sexo. Segundo ele, depois aparecem as regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e, por último, a Norte. "Os lugares onde têm grande movimentação de pessoas é onde o crime mais acontece. Principalmente em regiões de praias, fronteiras e grandes capitais. O turismo de negócios também influencia, principalmente nas capitais. Há pessoas que vêm ao Brasil com a motivação da exploração sexual, mas você também vai encontrar turistas que acabam praticando essa exploração em função da oportunidade que encontram. Muitos estão a negócios e se envolvem com isso", afirma Gonçalves. Normalmente, as áreas onde há turismo sexual adulto também concentram o turismo sexual infanto-juvenil.
Hoje, as mulheres e as crianças aliciadas no Brasil não são só das classes mais desfavorecidas. Segundo Liciane, há alguns anos era possível traçar esse perfil socioeconômico, mas ocorreu uma mudança de perfil. "Atualmente, percebe-se esse aliciamento até mesmo na classe C. Foi-se o tempo em que uma garota se prostituía porque precisava do dinheiro para sobreviver. Hoje a prostituição ocorre por que as pessoas gostam do dinheiro e daquilo que ele pode comprar. Há uma relação muito estreita com a sociedade de consumo", afirma.
Gonçalves destaca ainda que entre as crianças e adolescentes, o passado de violência doméstica é comum. "Há uma porcentagem muito alta de famílias desfavorecidas que acabam fazendo parte dessa atividade, mas essa criança também vem de famílias de classe média. Nesses casos, normalmente elas sofreram violência em casa e acabaram indo parar na rua. Para conseguir se sustentar, acabam se envolvendo com a prostituição. Ao contrário do que se imagina, não são apenas meninas. Existem muitos meninos explorados também. E, geralmente, estão na fase da adolescência, a partir dos 12 anos", destaca.
No Brasil, o Governo trabalha em parceria com os empresários do turismo para qualificar funcionários que não sejam parceiros de situações de exploração sexual. No setor hoteleiro, por exemplo, foi desenvolvido um código de conduta ética para coibir o turismo sexual. "Tudo isso envolve treinamento dos funcionários, panfletagem nos locais onde temos mais turistas, campanhas na internet, e até parcerias com operadoras, para elas também realizarem trabalhos de prevenção", diz o gerente de programas da Childhood. (Folha Universal)
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