Márcio Marinho
por Evilásio Júnior e Juliana AlmiranteBahia Notícias - Como foi sua migração da religião para a política?
Márcio Marinho - Eu vim do interior do estado do Rio de Janeiro e sempre fazendo um trabalho religioso e acabei sendo transferido para a Bahia, também pelo fato de estar envolvido com rádio e televisão. Vim fazer um programa chamado Coisas da Vida. Tinha uma interatividade muito grande com a população, até porque me levava direto para as comunidades e, por conta desse trabalho, a gente recebeu o convite para participar da política. Então, não deixei e não deixo o trabalho religioso, ainda faço. Não como antes, porque hoje eu tenho a política para conduzir e o trabalho partidário do estado também. Concorri em 2002, para deputado estadual e, graças a Deus, ganhamos as eleições e demos um pontapé inicial politicamente.
BN - Devido à sua pré-candidatura a prefeito de Salvador, o senhor pretende aliar as duas funções, de religioso e político, se eleito?
MM - Não tem como dividir, não é? Até porque as pessoas sempre me cumprimentam, uns me chamam de pastor, outros me chamam de bispo, não tem como dividir, mas a pessoa do Márcio Marinho, evidentemente, sabe dividir as coisas. Vamos receber votos de todos os segmentos religiosos, de todos os segmentos da sociedade, mas eu tenho muita clareza da minha postura. Eu não vou confundir minha postura religiosa com a postura do candidato. Eu acho que isso tem que ficar muito definido na cabeça das pessoas e, certamente, que eu vou provocar isso. O Márcio Marinho político tem que fazer um trabalho de forma partidária e tirando a religião do meio.
BN - Aqui em Salvador, o senhor sabe que tem um movimento forte em relação ao candomblé e outras religiões de matrizes africanas. O senhor disse que sendo candidato a prefeito terá votos de diversos segmentos, mas, apesar de a gente ver na Igreja Universal algumas pessoas que combatem mais as religiões de matrizes africanas, o senhor assinou recentemente o prefácio da juíza Luislinda Valois, que é uma religiosa dessas culturas. O senhor acha que vai ter dificuldade em lidar com esse tipo de estigma de que a Universal faz esse combate ou o fato de o senhor já ter essa visão um pouco mais liberal, vai apaziguar os ânimos com relação a isso?
MM - Eu vou pela ótica do que está escrito na Constituição Federal, que diz que é nos dada a liberdade de expressão, a liberdade de religião, a opção sexual. Eu vou por esta questão. Eu acho que o respeito mútuo tem que estar na cabeça do pastor, mas também do pai de santo, da mãe de santa, do padre, de qualquer pessoa que hoje professa a fé. Isso é um direito que todos têm, mas nós não podemos confundir a questão religiosa com a questão política. Acho que a relação que tem que ser mantida é uma relação de respeito e, uma vez a gente chegando lá, o tratamento será esse. Eu mesmo prefaciei o livro da doutora [Luislinda], mostrando que eu não tenho nenhuma dificuldade de me relacionar com as pessoas de outras religiões. Digo, de passagem, que eu tenho uma relação muito boa. Eu fui [candidato a] vice em uma ocasião em que muitas pessoas que eram de uma religião de matrizes africanas vinham conversar comigo, com a maior naturalidade, não havia nenhuma “forçação de barra” nem delas nem minha; porque eu acho que tem que prevalecer o respeito. Certamente, terá o respeito do deputado e do político Márcio Marinho, sem sombra de dúvidas.
MM - Essa pergunta é boa. Nós temos um grupo político no Brasil inteiro. Onde o PRB, que foi fundado em 2005, já vinha, de um certo modo, na base do presidente Lula, que, para nós, foi muita honra ter o saudoso José Alencar no PRB. Eu estava no outro partido que era o PR. Nós, então, na ocasião, concorremos a vice pela agremiação do Partido da República. Quando passou o período eleitoral de 2008, a gente assumiu o mandato como deputado federal, porque eu estava na suplência. Assumi em janeiro de 2009 e, ao mesmo tempo, eu passei para o PRB, que já fazia parte do governo do presidente Lula. Por conta disso, acabei vindo para a base do governo Jaques Wagner. Até porque o partido já estava, em 2008 – a sigla não tinha parlamentar –, mas já estava na base do governador. Eu só fiz, realmente, assumir a minha postura de fiel ao partido, também por acreditar no projeto de Wagner, de estar participando efetivamente, então, foi essa mudança que muito honrou ao PRB e saímos muito fortalecidos.
BN - E atualmente, qual sua relação com Jaques Wagner? O senhor acredita que pode ser o candidato dele nas próximas eleições?
MM - O governador é uma figura importante que muito nos honra. Falo isso com o maior prazer. E quando o partido me convidou para uma pré-candidatura, evidentemente, como soldado, eu assumi, até porque o PRB tem um projeto que é de crescer, de dar a sua contribuição na administração municipal, estadual e federal. O partido viu, em mim, um dos nomes fortes, porque fui o candidato com maior número de votos na capital, com 83 mil votos, para assumir essa pré-candidatura para que o partido tivesse essa representatividade nessa capital importante para o projeto político-partidário. Evidente que você tem que fazer as coisas combinadas. Nós fomos até o governador e falamos da possibilidade do interesse do projeto do PRB de lançar uma candidatura a prefeito de Salvador. De forma que o governador, que é uma pessoa muito centralizada, equilibrada, que, certamente, reconhece a autonomia dos partidos, claro, que vem abençoar a nossa pré-candidatura. É evidente que tem um candidato do partido dele, não tem jeito. Nenhum de nós defenderia a candidatura de um membro do partido dele, mas ele também compreende que nossa pré-candidatura é da base dele e nos abençoou e pediu para que a gente se viabilizasse. E, quem sabe, a partir da concepção das pessoas, lá na frente, a gente possa realmente ser um candidato do governador.
BN - Muito é falado, nesse período de pré-candidaturas, que as pessoas se lançam com o objetivo de pleitear uma vice-candidatura, secretarias... O PRB tem uma candidatura mesmo para valer, até o final, ou poderá compor uma chapa como vice, por exemplo, do PT, depois das convenções em junho do ano que vem?
MM - A gente pensa o seguinte: se a eleição de Salvador se resolvesse em um turno só, certamente que nós deveríamos tomar certo cuidado para não ajudar a oposição, mas a história de Salvador demonstra que as eleições se resolvem em segundo turno, então, não tem por que agora pensar em compor chapa. Até porque está muito cedo e hoje quem está na frente poderá estar lá trás, quem está lá atrás poderá estar na frente. Acho que vai pesar na escolha das pessoas o passado de cada um. É evidente que a política partidária hoje passa por um processo de renovação, onde as pessoas querem gente nova, oxigenadas, com energia, com vontade de trabalhar, principalmente em uma cidade que, precisa ter, por parte do prefeito eleito, uma força de vontade para tocar uma cidade tão complexa como Salvador. Essa questão de composição no primeiro turno não tem nenhuma possibilidade. No segundo turno, certamente, a depender do resultado, cada um vai ter que procurar seu lado para se agrupar. Mas, nesse momento, nossa pré-candidatura não tem como ser diferente. Eu tive uma votação importante na capital. Eu considero, não por vaidade nem por egoísmo, que as pessoas me deram a votação que eu acho que é uma convocação. E eu não posso dizer não. Então, estou me colocando à disposição do partido e à disposição dessa população que votou em mim. Se eles acharem que tenho as condições, certamente que não vou me refutar.
MM - Não tenho, porque eu sempre, na minha vida, abneguei de tudo. A nossa vida religiosa não permite a nós termos nenhum bem. Eu sempre trabalhei com o objetivo de ajudar as pessoas, a casa que eu morava era da Igreja, nunca tive casa própria, o carro que eu usava era da instituição, também, não era meu. A partir do momento que eu entrei para a política, realmente, eu vim sem bens nenhum.
BN - Tudo que o senhor utiliza hoje de posses, casa, automóvel, tudo está no nome da Igreja Universal?
MM - Não, hoje tudo é alugado, isso foi antes de assumir. O apartamento que eu moro é alugado no meu nome e eu pago com meu salário. O carro também é alugado e eu pago também. Nada hoje que eu utilizo é pago pela Igreja. Nada, nada, nada. É pago com meu salário e também com a ajuda que a Câmara Federal nos dá.
BN - Você não pensa no futuro? Se o senhor não conseguir se reeleger, que é uma coisa que pode acontecer com qualquer político, e ficar sem bens, não pensa em ter esse planejamento futuro? Um cantinho para dizer que é seu? Um automóvel? Algum tipo de bem que te dê estabilidade no futuro? Você é jovem...
MM - É lógico. Eu sempre tive isso tudo, pela minha fidelidade, pelo meu trabalho à Instituição [Universal]. Sempre tive por parte dela esse reconhecimento do meu trabalho e nunca me faltou isso. É evidente que se, um dia, eu perder eleição e sair da vida pública, certamente que eu vou ter o apoio da Instituição. Não vai me desamparar, como nunca me desamparou. Eu não tenho dúvida disso, que terei o meu canto para morar com a minha família e terei também o carro para usar. Isso não me preocupa, porque a Instituição certamente vai me amparar.
BN - No Congresso, a gente tem visto uma posição do pessoal mais conservador, ligado aos movimentos religiosos, contrário a questões de direitos de homossexuais, e outra visão mais liberal. Por exemplo, a gente viu, recentemente, um grande embate entre o Jair Bolsonaro, que é colega do senhor, do PP do Rio, e o Jean Wyllys que é baiano, mas é deputado pelo PSOL do Rio. Qual a posição do PRB em relação a esse debate?
MM - O partido tem uma posição de muito respeito e considera muito natural que cada um defenda aquilo que cada um acredita. A minha posição é de muito equilíbrio. Agora, se depender de nós para poder incentivarmos, certamente isso não vai acontecer. Nós temos muito respeito e achamos que a postura do Jair Bolsonaro, em alguns momentos, é muito radical. Muito radical mesmo. Tem determinados pontos polêmicos que não deveria [existir]. Na verdade, passa até por desrespeito. Uma coisa é você não concordar, outra coisa é você desrespeitar. No caso de Bolsonaro, ele passa por desrespeito. A opinião tem que ser respeitada, mas desrespeitar outra pessoa é uma atitude que eu censuro e o partido também. Com Jean Wyllys na Câmara Federal, eu tenho uma relação de muita tranquilidade. Até porque nós temos que ter coerência, temos que respeitar as pessoas e entender que elas estão ali para defender aquilo que elas acreditam. Se depender de mim para criar dificuldade, não terá, porque a minha atitude vai ser sempre respeitosa, não só aos homossexuais, mas aos idosos, às crianças, aos negros, a todas as pessoas. Não há, por parte de mim, nem do partido, nenhuma forma de discriminação.
BN - Aqui em Salvador, a maioria do pessoal que é ligado à Igreja Universal está no PRB, mas ainda tem algumas pessoas que estão dispersas. Uma delas é o vereador Isnard Araújo, que é do PR, o seu partido anterior. Pelas mãos dele, Léo Krét ingressou na política. O deputado Márcio Marinho elogia o mandato de Léo Krét enquanto vereadora de Salvador?
MM - É uma pessoa que a gente teve, em 2008, na nossa chapa, concorrendo junto com o bloco partidário. Ele é uma pessoa muito decente, muito honesta, muito trabalhadora. Uma pessoa que sofre tanta discriminação como homossexual, negro, para chegar aonde chegou. Imagine. Tem que merecer de nós todo o respeito. É evidente que, quando o vereador Isnard o chamou para participar de uma agremiação que não olha opção sexual, eu só tenho que parabenizá-lo por isso, porque consegue compreender que o partido é aberto para todas as pessoas, independente de opção sexual ou religiosa. Certamente, se eu tivesse a oportunidade de ter a Léo Krét no PRB, teria. O problema é que ele não quis sair de lá, mas se ele quisesse vir para o PRB, as portas estariam abertas para ele, porém não veio porque já tem dois vereadores. O pessoal acha que vai vir e não vai conseguir se reeleger.
MM - Não foi a matemática em relação a alguma figura do PRB. Eu acho que foi a preocupação dele mesmo de vir para o PRB e não conseguir se reeleger. A gente tem que respeitar esse posicionamento. Por nós, não foi. Só se foi por ele, essa matemática, porque se ele viesse, as portas estariam abertas.
BN - Vamos voltar à sua candidatura. O senhor já tem um plano do que deverá ser seu foco? Do que você acha que Salvador está precisando melhorar no momento?
MM - Do que Salvador está precisando melhorar... De quase tudo, na verdade. A gente está criando agora a Fundação Republicana. Essa fundação vai ter um objetivo importante, terá o nome de José Alencar. Nós estaremos dentro dessa fundação com profissionais que estarão, efetivamente, em um projeto que possa realmente fazer as pessoas acreditarem nessa cidade. Os moradores dessa cidade estão desacreditados. Essa é uma realidade. Não sou eu que estou falando. Às vezes, as pessoas falam assim: “O senhor está falando por demagogia ou porque é período eleitoral”. Vá falar com o pipoqueiro, com o guardador de carro. Converse com as pessoas nas ruas que você vai ver que as pessoas estão desacreditadas. Não adianta a gente vir com projetos mirabolantes. Eu acho que as pessoas têm que ver no prefeito essa vontade que a gente não vê no [atual] prefeito de lutar por essa cidade. A gente precisa formar uma equipe importante para formar um projeto viável para Salvador que possa levantar a autoestima das pessoas que estão desacreditadas.
BN - Mas, Bispo Marinho, o PRB faz parte da base do prefeito João Henrique. O senhor acredita que o partido teria uma postura dificultada em relação às críticas na campanha? Outro dia, [o vereador] Pintangueira, saiu do partido agora, mas era o vice-líder do governo pelo PRB. O senhor não acha que seria uma incoerência do partido?
MM - Não, porque hoje nossa postura de apoiar os projetos do prefeito na Câmara é por entender que o objetivo do PRB não é fazer oposição ao prefeito. Tudo aquilo que chega lá e é importante para a cidade nós vamos aprovar. Quando Pintangueira foi para a liderança do prefeito João Henrique, nós não fomos consultados, mas também não fizemos nenhuma observação. Foi uma atitude isolada dele, mas que o partido abençoou. Quando você fala que faz parte da base, eu não considero isso base. Eu considero base quando você tem um secretário e ajuda na administração, na condução da cidade, quando você é consultado. Se você me perguntar o dia que o prefeito consultou a mim ou ao PRB municipal para tomar algumas decisões, não existiu. Não considero que faço parte dessa administração. No período eleitoral, se for questionado porque o partido faz parte, com a maior tranquilidade, afirmarei que o partido não faz parte da administração do prefeito João Henrique.
BN - Ainda sobre o PRB na Bahia, fora Salvador, o partido vai lançar um candidato forte em Lauro de Freitas. Qual a meta do partido em relação às eleições de 2012? Vai tentar expandir mesmo para ter prefeitos e um grande número de vereadores aqui na Bahia ou o plano vai ser focar em Salvador para tentar fazer a sua candidatura mais forte?
MM - A gente está passando, na Bahia, por uma reformulação política muito grande. Eu mesmo que tenho andado bastante no interior do estado. Nós fizemos aquisições muito grandes de lideranças políticas, ex-prefeitos, ex-presidente de Câmara, ex-vereadores, pessoas envolvidas no meio empresarial, que vieram para o PRB. Hoje nós temos candidaturas importantes me Salvador, Ilhéus, Itabuna, no oeste da Bahia. Temos [pré-]candidatos a prefeito em Coaraci, Itagibá, Buerarema, Ilhéus, Itabuna, como disse. Então, veja que temos vários candidatos a prefeitos que são lideranças reconhecidas e aprovadas pelas cidades onde eles vivem. Certamente, o partido que tem três prefeitos, o objetivo nosso e pelo que estamos vendo, deveremos chegar a 30 prefeitos eleitos e hoje temos quase 100 vereadores. A gente deve dobrar, pelo menos, o número de vereadores, chegando a 200. Estamos hoje em quase todos os municípios do estado, então, não tem como o PRB, em 2012, sair com esse mesmo tamanho. Até porque temos um volume de trabalho 20 vezes maior do que foi em 2008. E todos da base do governo, porque nós entendemos que não basta somente ter uma prefeitura, queremos fazer um trabalho de excelência, de forma que possamos levar os serviços do governo do estado e federal a essas prefeituras que estão em uma decadência muito grande.
MM - Estou satisfeito. Até porque tem um ditado que diz que o combinado não sai caro. Foi feita uma combinação e o governador é uma pessoa de muito respeito, digna, que atendeu ao partido. Veja que o nosso partido foi na primeira eleição estadual e já saiu com uma secretaria, com espaço. Existem partidos que já estão na estrada há anos e não conseguiram alcançar o espaço que a gente alcançou. Eu acho que há uma relação bilateral. Veja que o PRB, em todo o período de campanha do governador, esteve presente. Eu estive presente e as lideranças do partido também. É evidente que, quando o governador abre um espaço desse considerável para o partido, é o reconhecimento de que realmente o partido é um parceiro dele. Nós estamos felizes e trabalhando diuturnamente para que esse governo continue dando certo e que nós possamos, em 2014, fazer uma sucessão dele muito tranquila e positiva.
BN - A Universal, todo mundo sabe, é ligada à Rede Record de Televisão e agora a gente teve um embate entre a Globo e a Record em relação aos Jogos Panamericanos. No meio disso tudo, o ministro do Esporte, Orlando Silva, foi acusado de irregularidades na pasta em que, muita gente do PCdoB, que também é parceiro do governo como o PRB, acusou uma orquestração de perseguição ao ex-ministro, tanto pela Fifa quanto pela CBF e também pela Globo e pela Editora Abril, que são os veículos oficiais da Copa do Mundo. A Record tem essa briga histórica com a Globo. O senhor acha que teve motivação política da Globo em relação ao Orlando Silva e isso também foi uma forma de a Record revidar a questão da transmissão do Pan pelo fato de não ter repercutido tanto assim essa questão do Orlando Silva, foi uma resposta da Record a isso?
MM - Eu confesso a você que eu não me atentei muito a esse período porque estive envolvido diretamente com a questão do partido no estado da Bahia, onde a gente viajou muito. Se você me perguntar se eu parei para ver o Pan, nem parei, por conta de muita coisa para fazer. É evidente que são duas emissoras grandes, disputando espaço. Sempre haverá essa disputa, uma não querendo perder o primeiro lugar e outra que está em segundo querendo assumir o primeiro. Acho que a disputa é importante e quem ganha, na verdade, acaba sendo os telespectadores, porque cada um tem que aproveitar e colocar uma programação de qualidade. Quanto à questão do ex-ministro Orlando Silva, que foi acusado, ainda não ficou nada definido na verdade... Está ainda em processo de apuração. Eu não posso fazer nenhum juízo de valor com relação a Orlando Silva. Se ele cometeu alguma irregularidade ou deixou de cometer, as investigações que irão apontar o que houve ou deixou de haver. Agora, a gente sabe que existe por trás disso tudo uma disputa muito grande, onde as pessoas vão para o terreno mais baixo, mais podre, mais imundo que existe. Por exemplo, isso eu notei e qualquer brasileiro notou: a Seleção Brasileira que foi para o Pan foi horrível. Ninguém ficou satisfeito. Não menosprezando os jogadores, mas quando você vai para um Pan desse, onde você vai batalhar, acho que era um momento que deveria ser também para o futebol. Jogadores, que, muitos deles, você nem conhecia e nem eu também. E os profissionais que deveriam estar lá, jogando futebol, mostrando o melhor que nós temos, ficaram de fora. O que é isso? Será que se fosse na Globo esses jogadores não iriam? O que houve? Porque não houve ninguém renomado na Seleção. Qual foi a motivação que teve de impedimento para que eles não fossem? Alguma coisa há. Eu não sei o que houve, mas quem viu os jogos, viu uma Seleção completamente desconhecida. Os melhores ficaram. Será que não tinha interesse do Brasil em fazer um bom Panamericano? Então, eu acho que alguma coisa houve, mas não posso fazer juízo de valor. Porém, há disputa de espaço de quem vai ser a primeira e a segunda, não tenha dúvida disso. A gente faz voto de que a Record seja a primeira.
BN - Inclusive, se fala que tem uma inveja da Globo em relação à posse [de Dilma], porque no dia da posse, depois que Dilma Rousseff falou com todo o staff que estava lá, presidentes de outros países e tal, o último grupo a cumprimentá-la foi o grupo da Rede Record. Inclusive, a primeira entrevista coletiva dela após a posse foi também para emissora. A Globo agora estaria tentando revidar essa questão costurando coisas para enfraquecer o governo. O senhor tem essa visão disso? Já que o senhor não acompanhou nessa semana, desses episódios mais anteriores assim, teve isso mesmo, da Globo ter inveja e estar querendo estancar o governo por causa disso?
MM - Eu acho que a presidenta Dilma é “de maior” e sabe, com tranquilidade, onde ela é bem recebida, onde ela tem mais afinidade e onde deixa de ter. Eu acho que é evidente que, quando ela toma uma atitude dessa, de ser entrevistada prioritariamente pela Record, ela tem mais afinidade com a Record. Tem gente que não consegue entender que o país passa por uma mudança e essa mudança é visível. Não adianta a gente viver com a glória do passado. Eles que só tinham eles na frente, que não tinham ninguém para competir com eles e vem a Record com essa estrutura, com essa condição toda de estar se estendendo pelo Brasil, por toda a Europa, fazendo de repente ruir esse império que existia, que as pessoas tinham um medo danado. Hoje, eles têm que conviver com isso, porque não têm só eles mais. Tem a Record que está do lado deles. Certamente irá lutar e alcançar o espaço que ela quer e vai ocupar. Mais cedo ou mais tarde, ela vai ocupar. A gente sabe que de saber onde ela vai falar em A ou B, isso a Globo que tem que perguntar. Perguntar por que ela escolheu a Record para fazer a entrevista.
MM - Você não tenha dúvida. Nós só temos cinco anos de fundação do PRB e nós já estamos bem estruturados e expandidos no Brasil todo. É evidente que nós vamos chegar a ser um dos principais partidos do Brasil. Com muita humildade e tranquilidade a gente fala isso. As lideranças do PRB são comprometidas com o povo e com a faixa etária de 40 a 45 anos, então, com tempo suficiente para ter tranquilidade para trabalhar e crescer com base.
BN - Não tem medo de que, da mesma forma que houve uma campanha que foi acusada de ser difamatória, a gente não tem prova de se foi ou não, em relação ao ministro do Esporte, haja também uma campanha difamatória da Globo por causa dessa audiência aos políticos do PRB e também aos pastores, retomando aquele episódio, de que lançaram até série, falando do Bispo Edir Macêdo e tudo? Não teme o partido para ter um plano para se blindar de ataques desse tipo?
MM - Eu acho que eles não vão por esse, não. Até porque isso já foi uma matéria exaustivamente batida e esclarecida também. Agora, certamente, eles não vão querer criar dificuldade com o povo evangélico. Você pode ter certeza disso, porque hoje [os evangélicos] crescem demais. Eu não tenho nenhuma dificuldade se eles retomarem isso aí e a gente responder à altura deles.
BN - Bispo Marinho não tem nenhum tipo de ponto frágil que eles possam abordar?
MM - Não tenho. Às vezes, as pessoas temem fazer alguma coisa porque a consciência o acusa. A gente não tem nada que nos acuse na nossa consciência, por isso que nós estamos tranquilos em relação à nossa pré-candidatura. Sabemos com o que estamos lidando e as pessoas com quem estamos lidando. Certamente, nossa consciência, que é o árbitro da nossa vida, diz que a gente tem tranquilidade para tocar a campanha até o final.
BN - Nessa briga de Globo com Record, ACM Neto e Bispo Marinho, união nunca mais?
MM - Na política, nada é para nunca mais. Nesse momento, estamos em campos opostos. O povo nos colocou em campos opostos e, certamente, até o término do nosso mandato, vamos estar em campos opostos. Em nível estadual e federal, estou na base do governador Jaques Wagner e na da presidente Dilma e em nível municipal, estou com a pré-candidatura e vou com ela até o final.
Márcio Marinho - Eu vim do interior do estado do Rio de Janeiro e sempre fazendo um trabalho religioso e acabei sendo transferido para a Bahia, também pelo fato de estar envolvido com rádio e televisão. Vim fazer um programa chamado Coisas da Vida. Tinha uma interatividade muito grande com a população, até porque me levava direto para as comunidades e, por conta desse trabalho, a gente recebeu o convite para participar da política. Então, não deixei e não deixo o trabalho religioso, ainda faço. Não como antes, porque hoje eu tenho a política para conduzir e o trabalho partidário do estado também. Concorri em 2002, para deputado estadual e, graças a Deus, ganhamos as eleições e demos um pontapé inicial politicamente.
BN - Devido à sua pré-candidatura a prefeito de Salvador, o senhor pretende aliar as duas funções, de religioso e político, se eleito?
MM - Não tem como dividir, não é? Até porque as pessoas sempre me cumprimentam, uns me chamam de pastor, outros me chamam de bispo, não tem como dividir, mas a pessoa do Márcio Marinho, evidentemente, sabe dividir as coisas. Vamos receber votos de todos os segmentos religiosos, de todos os segmentos da sociedade, mas eu tenho muita clareza da minha postura. Eu não vou confundir minha postura religiosa com a postura do candidato. Eu acho que isso tem que ficar muito definido na cabeça das pessoas e, certamente, que eu vou provocar isso. O Márcio Marinho político tem que fazer um trabalho de forma partidária e tirando a religião do meio.
BN - Aqui em Salvador, o senhor sabe que tem um movimento forte em relação ao candomblé e outras religiões de matrizes africanas. O senhor disse que sendo candidato a prefeito terá votos de diversos segmentos, mas, apesar de a gente ver na Igreja Universal algumas pessoas que combatem mais as religiões de matrizes africanas, o senhor assinou recentemente o prefácio da juíza Luislinda Valois, que é uma religiosa dessas culturas. O senhor acha que vai ter dificuldade em lidar com esse tipo de estigma de que a Universal faz esse combate ou o fato de o senhor já ter essa visão um pouco mais liberal, vai apaziguar os ânimos com relação a isso?
MM - Eu vou pela ótica do que está escrito na Constituição Federal, que diz que é nos dada a liberdade de expressão, a liberdade de religião, a opção sexual. Eu vou por esta questão. Eu acho que o respeito mútuo tem que estar na cabeça do pastor, mas também do pai de santo, da mãe de santa, do padre, de qualquer pessoa que hoje professa a fé. Isso é um direito que todos têm, mas nós não podemos confundir a questão religiosa com a questão política. Acho que a relação que tem que ser mantida é uma relação de respeito e, uma vez a gente chegando lá, o tratamento será esse. Eu mesmo prefaciei o livro da doutora [Luislinda], mostrando que eu não tenho nenhuma dificuldade de me relacionar com as pessoas de outras religiões. Digo, de passagem, que eu tenho uma relação muito boa. Eu fui [candidato a] vice em uma ocasião em que muitas pessoas que eram de uma religião de matrizes africanas vinham conversar comigo, com a maior naturalidade, não havia nenhuma “forçação de barra” nem delas nem minha; porque eu acho que tem que prevalecer o respeito. Certamente, terá o respeito do deputado e do político Márcio Marinho, sem sombra de dúvidas.
BN - O senhor citou essa vice-candidatura, como foi migrar de vice de ACM Neto, que é do DEM, para aliado da base do governador Jaques Wagner, que é do PT?
MM - Essa pergunta é boa. Nós temos um grupo político no Brasil inteiro. Onde o PRB, que foi fundado em 2005, já vinha, de um certo modo, na base do presidente Lula, que, para nós, foi muita honra ter o saudoso José Alencar no PRB. Eu estava no outro partido que era o PR. Nós, então, na ocasião, concorremos a vice pela agremiação do Partido da República. Quando passou o período eleitoral de 2008, a gente assumiu o mandato como deputado federal, porque eu estava na suplência. Assumi em janeiro de 2009 e, ao mesmo tempo, eu passei para o PRB, que já fazia parte do governo do presidente Lula. Por conta disso, acabei vindo para a base do governo Jaques Wagner. Até porque o partido já estava, em 2008 – a sigla não tinha parlamentar –, mas já estava na base do governador. Eu só fiz, realmente, assumir a minha postura de fiel ao partido, também por acreditar no projeto de Wagner, de estar participando efetivamente, então, foi essa mudança que muito honrou ao PRB e saímos muito fortalecidos.
BN - E atualmente, qual sua relação com Jaques Wagner? O senhor acredita que pode ser o candidato dele nas próximas eleições?
MM - O governador é uma figura importante que muito nos honra. Falo isso com o maior prazer. E quando o partido me convidou para uma pré-candidatura, evidentemente, como soldado, eu assumi, até porque o PRB tem um projeto que é de crescer, de dar a sua contribuição na administração municipal, estadual e federal. O partido viu, em mim, um dos nomes fortes, porque fui o candidato com maior número de votos na capital, com 83 mil votos, para assumir essa pré-candidatura para que o partido tivesse essa representatividade nessa capital importante para o projeto político-partidário. Evidente que você tem que fazer as coisas combinadas. Nós fomos até o governador e falamos da possibilidade do interesse do projeto do PRB de lançar uma candidatura a prefeito de Salvador. De forma que o governador, que é uma pessoa muito centralizada, equilibrada, que, certamente, reconhece a autonomia dos partidos, claro, que vem abençoar a nossa pré-candidatura. É evidente que tem um candidato do partido dele, não tem jeito. Nenhum de nós defenderia a candidatura de um membro do partido dele, mas ele também compreende que nossa pré-candidatura é da base dele e nos abençoou e pediu para que a gente se viabilizasse. E, quem sabe, a partir da concepção das pessoas, lá na frente, a gente possa realmente ser um candidato do governador.
BN - Muito é falado, nesse período de pré-candidaturas, que as pessoas se lançam com o objetivo de pleitear uma vice-candidatura, secretarias... O PRB tem uma candidatura mesmo para valer, até o final, ou poderá compor uma chapa como vice, por exemplo, do PT, depois das convenções em junho do ano que vem?
MM - A gente pensa o seguinte: se a eleição de Salvador se resolvesse em um turno só, certamente que nós deveríamos tomar certo cuidado para não ajudar a oposição, mas a história de Salvador demonstra que as eleições se resolvem em segundo turno, então, não tem por que agora pensar em compor chapa. Até porque está muito cedo e hoje quem está na frente poderá estar lá trás, quem está lá atrás poderá estar na frente. Acho que vai pesar na escolha das pessoas o passado de cada um. É evidente que a política partidária hoje passa por um processo de renovação, onde as pessoas querem gente nova, oxigenadas, com energia, com vontade de trabalhar, principalmente em uma cidade que, precisa ter, por parte do prefeito eleito, uma força de vontade para tocar uma cidade tão complexa como Salvador. Essa questão de composição no primeiro turno não tem nenhuma possibilidade. No segundo turno, certamente, a depender do resultado, cada um vai ter que procurar seu lado para se agrupar. Mas, nesse momento, nossa pré-candidatura não tem como ser diferente. Eu tive uma votação importante na capital. Eu considero, não por vaidade nem por egoísmo, que as pessoas me deram a votação que eu acho que é uma convocação. E eu não posso dizer não. Então, estou me colocando à disposição do partido e à disposição dessa população que votou em mim. Se eles acharem que tenho as condições, certamente que não vou me refutar.
BN - O senhor não declarou nenhum bem à Justiça Eleitoral. O senhor realmente não tem nenhum bem em seu nome? Por quê?
MM - Não tenho, porque eu sempre, na minha vida, abneguei de tudo. A nossa vida religiosa não permite a nós termos nenhum bem. Eu sempre trabalhei com o objetivo de ajudar as pessoas, a casa que eu morava era da Igreja, nunca tive casa própria, o carro que eu usava era da instituição, também, não era meu. A partir do momento que eu entrei para a política, realmente, eu vim sem bens nenhum.
BN - Tudo que o senhor utiliza hoje de posses, casa, automóvel, tudo está no nome da Igreja Universal?
MM - Não, hoje tudo é alugado, isso foi antes de assumir. O apartamento que eu moro é alugado no meu nome e eu pago com meu salário. O carro também é alugado e eu pago também. Nada hoje que eu utilizo é pago pela Igreja. Nada, nada, nada. É pago com meu salário e também com a ajuda que a Câmara Federal nos dá.
BN - Você não pensa no futuro? Se o senhor não conseguir se reeleger, que é uma coisa que pode acontecer com qualquer político, e ficar sem bens, não pensa em ter esse planejamento futuro? Um cantinho para dizer que é seu? Um automóvel? Algum tipo de bem que te dê estabilidade no futuro? Você é jovem...
MM - É lógico. Eu sempre tive isso tudo, pela minha fidelidade, pelo meu trabalho à Instituição [Universal]. Sempre tive por parte dela esse reconhecimento do meu trabalho e nunca me faltou isso. É evidente que se, um dia, eu perder eleição e sair da vida pública, certamente que eu vou ter o apoio da Instituição. Não vai me desamparar, como nunca me desamparou. Eu não tenho dúvida disso, que terei o meu canto para morar com a minha família e terei também o carro para usar. Isso não me preocupa, porque a Instituição certamente vai me amparar.
BN - No Congresso, a gente tem visto uma posição do pessoal mais conservador, ligado aos movimentos religiosos, contrário a questões de direitos de homossexuais, e outra visão mais liberal. Por exemplo, a gente viu, recentemente, um grande embate entre o Jair Bolsonaro, que é colega do senhor, do PP do Rio, e o Jean Wyllys que é baiano, mas é deputado pelo PSOL do Rio. Qual a posição do PRB em relação a esse debate?
MM - O partido tem uma posição de muito respeito e considera muito natural que cada um defenda aquilo que cada um acredita. A minha posição é de muito equilíbrio. Agora, se depender de nós para poder incentivarmos, certamente isso não vai acontecer. Nós temos muito respeito e achamos que a postura do Jair Bolsonaro, em alguns momentos, é muito radical. Muito radical mesmo. Tem determinados pontos polêmicos que não deveria [existir]. Na verdade, passa até por desrespeito. Uma coisa é você não concordar, outra coisa é você desrespeitar. No caso de Bolsonaro, ele passa por desrespeito. A opinião tem que ser respeitada, mas desrespeitar outra pessoa é uma atitude que eu censuro e o partido também. Com Jean Wyllys na Câmara Federal, eu tenho uma relação de muita tranquilidade. Até porque nós temos que ter coerência, temos que respeitar as pessoas e entender que elas estão ali para defender aquilo que elas acreditam. Se depender de mim para criar dificuldade, não terá, porque a minha atitude vai ser sempre respeitosa, não só aos homossexuais, mas aos idosos, às crianças, aos negros, a todas as pessoas. Não há, por parte de mim, nem do partido, nenhuma forma de discriminação.
BN - Aqui em Salvador, a maioria do pessoal que é ligado à Igreja Universal está no PRB, mas ainda tem algumas pessoas que estão dispersas. Uma delas é o vereador Isnard Araújo, que é do PR, o seu partido anterior. Pelas mãos dele, Léo Krét ingressou na política. O deputado Márcio Marinho elogia o mandato de Léo Krét enquanto vereadora de Salvador?
MM - É uma pessoa que a gente teve, em 2008, na nossa chapa, concorrendo junto com o bloco partidário. Ele é uma pessoa muito decente, muito honesta, muito trabalhadora. Uma pessoa que sofre tanta discriminação como homossexual, negro, para chegar aonde chegou. Imagine. Tem que merecer de nós todo o respeito. É evidente que, quando o vereador Isnard o chamou para participar de uma agremiação que não olha opção sexual, eu só tenho que parabenizá-lo por isso, porque consegue compreender que o partido é aberto para todas as pessoas, independente de opção sexual ou religiosa. Certamente, se eu tivesse a oportunidade de ter a Léo Krét no PRB, teria. O problema é que ele não quis sair de lá, mas se ele quisesse vir para o PRB, as portas estariam abertas para ele, porém não veio porque já tem dois vereadores. O pessoal acha que vai vir e não vai conseguir se reeleger.
BN - Não foi pela matemática dos votos, não, deputado?
MM - Não foi a matemática em relação a alguma figura do PRB. Eu acho que foi a preocupação dele mesmo de vir para o PRB e não conseguir se reeleger. A gente tem que respeitar esse posicionamento. Por nós, não foi. Só se foi por ele, essa matemática, porque se ele viesse, as portas estariam abertas.
BN - Vamos voltar à sua candidatura. O senhor já tem um plano do que deverá ser seu foco? Do que você acha que Salvador está precisando melhorar no momento?
MM - Do que Salvador está precisando melhorar... De quase tudo, na verdade. A gente está criando agora a Fundação Republicana. Essa fundação vai ter um objetivo importante, terá o nome de José Alencar. Nós estaremos dentro dessa fundação com profissionais que estarão, efetivamente, em um projeto que possa realmente fazer as pessoas acreditarem nessa cidade. Os moradores dessa cidade estão desacreditados. Essa é uma realidade. Não sou eu que estou falando. Às vezes, as pessoas falam assim: “O senhor está falando por demagogia ou porque é período eleitoral”. Vá falar com o pipoqueiro, com o guardador de carro. Converse com as pessoas nas ruas que você vai ver que as pessoas estão desacreditadas. Não adianta a gente vir com projetos mirabolantes. Eu acho que as pessoas têm que ver no prefeito essa vontade que a gente não vê no [atual] prefeito de lutar por essa cidade. A gente precisa formar uma equipe importante para formar um projeto viável para Salvador que possa levantar a autoestima das pessoas que estão desacreditadas.
BN - Mas, Bispo Marinho, o PRB faz parte da base do prefeito João Henrique. O senhor acredita que o partido teria uma postura dificultada em relação às críticas na campanha? Outro dia, [o vereador] Pintangueira, saiu do partido agora, mas era o vice-líder do governo pelo PRB. O senhor não acha que seria uma incoerência do partido?
MM - Não, porque hoje nossa postura de apoiar os projetos do prefeito na Câmara é por entender que o objetivo do PRB não é fazer oposição ao prefeito. Tudo aquilo que chega lá e é importante para a cidade nós vamos aprovar. Quando Pintangueira foi para a liderança do prefeito João Henrique, nós não fomos consultados, mas também não fizemos nenhuma observação. Foi uma atitude isolada dele, mas que o partido abençoou. Quando você fala que faz parte da base, eu não considero isso base. Eu considero base quando você tem um secretário e ajuda na administração, na condução da cidade, quando você é consultado. Se você me perguntar o dia que o prefeito consultou a mim ou ao PRB municipal para tomar algumas decisões, não existiu. Não considero que faço parte dessa administração. No período eleitoral, se for questionado porque o partido faz parte, com a maior tranquilidade, afirmarei que o partido não faz parte da administração do prefeito João Henrique.
BN - Ainda sobre o PRB na Bahia, fora Salvador, o partido vai lançar um candidato forte em Lauro de Freitas. Qual a meta do partido em relação às eleições de 2012? Vai tentar expandir mesmo para ter prefeitos e um grande número de vereadores aqui na Bahia ou o plano vai ser focar em Salvador para tentar fazer a sua candidatura mais forte?
MM - A gente está passando, na Bahia, por uma reformulação política muito grande. Eu mesmo que tenho andado bastante no interior do estado. Nós fizemos aquisições muito grandes de lideranças políticas, ex-prefeitos, ex-presidente de Câmara, ex-vereadores, pessoas envolvidas no meio empresarial, que vieram para o PRB. Hoje nós temos candidaturas importantes me Salvador, Ilhéus, Itabuna, no oeste da Bahia. Temos [pré-]candidatos a prefeito em Coaraci, Itagibá, Buerarema, Ilhéus, Itabuna, como disse. Então, veja que temos vários candidatos a prefeitos que são lideranças reconhecidas e aprovadas pelas cidades onde eles vivem. Certamente, o partido que tem três prefeitos, o objetivo nosso e pelo que estamos vendo, deveremos chegar a 30 prefeitos eleitos e hoje temos quase 100 vereadores. A gente deve dobrar, pelo menos, o número de vereadores, chegando a 200. Estamos hoje em quase todos os municípios do estado, então, não tem como o PRB, em 2012, sair com esse mesmo tamanho. Até porque temos um volume de trabalho 20 vezes maior do que foi em 2008. E todos da base do governo, porque nós entendemos que não basta somente ter uma prefeitura, queremos fazer um trabalho de excelência, de forma que possamos levar os serviços do governo do estado e federal a essas prefeituras que estão em uma decadência muito grande.
BN - O PRB faz parte da gestão do governo Wagner. Tem a secretaria de Justiça e Direitos Humanos com Almiro Sena, que foi indicado pelo partido. Está satisfeito com o espaço dentro da administração estadual?
MM - Estou satisfeito. Até porque tem um ditado que diz que o combinado não sai caro. Foi feita uma combinação e o governador é uma pessoa de muito respeito, digna, que atendeu ao partido. Veja que o nosso partido foi na primeira eleição estadual e já saiu com uma secretaria, com espaço. Existem partidos que já estão na estrada há anos e não conseguiram alcançar o espaço que a gente alcançou. Eu acho que há uma relação bilateral. Veja que o PRB, em todo o período de campanha do governador, esteve presente. Eu estive presente e as lideranças do partido também. É evidente que, quando o governador abre um espaço desse considerável para o partido, é o reconhecimento de que realmente o partido é um parceiro dele. Nós estamos felizes e trabalhando diuturnamente para que esse governo continue dando certo e que nós possamos, em 2014, fazer uma sucessão dele muito tranquila e positiva.
BN - A Universal, todo mundo sabe, é ligada à Rede Record de Televisão e agora a gente teve um embate entre a Globo e a Record em relação aos Jogos Panamericanos. No meio disso tudo, o ministro do Esporte, Orlando Silva, foi acusado de irregularidades na pasta em que, muita gente do PCdoB, que também é parceiro do governo como o PRB, acusou uma orquestração de perseguição ao ex-ministro, tanto pela Fifa quanto pela CBF e também pela Globo e pela Editora Abril, que são os veículos oficiais da Copa do Mundo. A Record tem essa briga histórica com a Globo. O senhor acha que teve motivação política da Globo em relação ao Orlando Silva e isso também foi uma forma de a Record revidar a questão da transmissão do Pan pelo fato de não ter repercutido tanto assim essa questão do Orlando Silva, foi uma resposta da Record a isso?
MM - Eu confesso a você que eu não me atentei muito a esse período porque estive envolvido diretamente com a questão do partido no estado da Bahia, onde a gente viajou muito. Se você me perguntar se eu parei para ver o Pan, nem parei, por conta de muita coisa para fazer. É evidente que são duas emissoras grandes, disputando espaço. Sempre haverá essa disputa, uma não querendo perder o primeiro lugar e outra que está em segundo querendo assumir o primeiro. Acho que a disputa é importante e quem ganha, na verdade, acaba sendo os telespectadores, porque cada um tem que aproveitar e colocar uma programação de qualidade. Quanto à questão do ex-ministro Orlando Silva, que foi acusado, ainda não ficou nada definido na verdade... Está ainda em processo de apuração. Eu não posso fazer nenhum juízo de valor com relação a Orlando Silva. Se ele cometeu alguma irregularidade ou deixou de cometer, as investigações que irão apontar o que houve ou deixou de haver. Agora, a gente sabe que existe por trás disso tudo uma disputa muito grande, onde as pessoas vão para o terreno mais baixo, mais podre, mais imundo que existe. Por exemplo, isso eu notei e qualquer brasileiro notou: a Seleção Brasileira que foi para o Pan foi horrível. Ninguém ficou satisfeito. Não menosprezando os jogadores, mas quando você vai para um Pan desse, onde você vai batalhar, acho que era um momento que deveria ser também para o futebol. Jogadores, que, muitos deles, você nem conhecia e nem eu também. E os profissionais que deveriam estar lá, jogando futebol, mostrando o melhor que nós temos, ficaram de fora. O que é isso? Será que se fosse na Globo esses jogadores não iriam? O que houve? Porque não houve ninguém renomado na Seleção. Qual foi a motivação que teve de impedimento para que eles não fossem? Alguma coisa há. Eu não sei o que houve, mas quem viu os jogos, viu uma Seleção completamente desconhecida. Os melhores ficaram. Será que não tinha interesse do Brasil em fazer um bom Panamericano? Então, eu acho que alguma coisa houve, mas não posso fazer juízo de valor. Porém, há disputa de espaço de quem vai ser a primeira e a segunda, não tenha dúvida disso. A gente faz voto de que a Record seja a primeira.
BN - Inclusive, se fala que tem uma inveja da Globo em relação à posse [de Dilma], porque no dia da posse, depois que Dilma Rousseff falou com todo o staff que estava lá, presidentes de outros países e tal, o último grupo a cumprimentá-la foi o grupo da Rede Record. Inclusive, a primeira entrevista coletiva dela após a posse foi também para emissora. A Globo agora estaria tentando revidar essa questão costurando coisas para enfraquecer o governo. O senhor tem essa visão disso? Já que o senhor não acompanhou nessa semana, desses episódios mais anteriores assim, teve isso mesmo, da Globo ter inveja e estar querendo estancar o governo por causa disso?
MM - Eu acho que a presidenta Dilma é “de maior” e sabe, com tranquilidade, onde ela é bem recebida, onde ela tem mais afinidade e onde deixa de ter. Eu acho que é evidente que, quando ela toma uma atitude dessa, de ser entrevistada prioritariamente pela Record, ela tem mais afinidade com a Record. Tem gente que não consegue entender que o país passa por uma mudança e essa mudança é visível. Não adianta a gente viver com a glória do passado. Eles que só tinham eles na frente, que não tinham ninguém para competir com eles e vem a Record com essa estrutura, com essa condição toda de estar se estendendo pelo Brasil, por toda a Europa, fazendo de repente ruir esse império que existia, que as pessoas tinham um medo danado. Hoje, eles têm que conviver com isso, porque não têm só eles mais. Tem a Record que está do lado deles. Certamente irá lutar e alcançar o espaço que ela quer e vai ocupar. Mais cedo ou mais tarde, ela vai ocupar. A gente sabe que de saber onde ela vai falar em A ou B, isso a Globo que tem que perguntar. Perguntar por que ela escolheu a Record para fazer a entrevista.
BN - O PRB também tem esse plano de chegar à liderança?
MM - Você não tenha dúvida. Nós só temos cinco anos de fundação do PRB e nós já estamos bem estruturados e expandidos no Brasil todo. É evidente que nós vamos chegar a ser um dos principais partidos do Brasil. Com muita humildade e tranquilidade a gente fala isso. As lideranças do PRB são comprometidas com o povo e com a faixa etária de 40 a 45 anos, então, com tempo suficiente para ter tranquilidade para trabalhar e crescer com base.
BN - Não tem medo de que, da mesma forma que houve uma campanha que foi acusada de ser difamatória, a gente não tem prova de se foi ou não, em relação ao ministro do Esporte, haja também uma campanha difamatória da Globo por causa dessa audiência aos políticos do PRB e também aos pastores, retomando aquele episódio, de que lançaram até série, falando do Bispo Edir Macêdo e tudo? Não teme o partido para ter um plano para se blindar de ataques desse tipo?
MM - Eu acho que eles não vão por esse, não. Até porque isso já foi uma matéria exaustivamente batida e esclarecida também. Agora, certamente, eles não vão querer criar dificuldade com o povo evangélico. Você pode ter certeza disso, porque hoje [os evangélicos] crescem demais. Eu não tenho nenhuma dificuldade se eles retomarem isso aí e a gente responder à altura deles.
BN - Bispo Marinho não tem nenhum tipo de ponto frágil que eles possam abordar?
MM - Não tenho. Às vezes, as pessoas temem fazer alguma coisa porque a consciência o acusa. A gente não tem nada que nos acuse na nossa consciência, por isso que nós estamos tranquilos em relação à nossa pré-candidatura. Sabemos com o que estamos lidando e as pessoas com quem estamos lidando. Certamente, nossa consciência, que é o árbitro da nossa vida, diz que a gente tem tranquilidade para tocar a campanha até o final.
BN - Nessa briga de Globo com Record, ACM Neto e Bispo Marinho, união nunca mais?
MM - Na política, nada é para nunca mais. Nesse momento, estamos em campos opostos. O povo nos colocou em campos opostos e, certamente, até o término do nosso mandato, vamos estar em campos opostos. Em nível estadual e federal, estou na base do governador Jaques Wagner e na da presidente Dilma e em nível municipal, estou com a pré-candidatura e vou com ela até o final.
(Bahia Notícias)
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