quinta-feira, 18 de agosto de 2011

José Sérgio Gabrielli fala que saindo da Petrobrás volta à UFBa para dar aulas


Irany Tereza, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O governo é responsável pela definição não apenas da política de preços dos combustíveis no País como por todas as decisões estratégicas da Petrobrás. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, admite com todas as letras a interferência que, por vezes, causa reações adversas no mercado. O executivo fala com naturalidade sobre o tema, afirmando que ingerências políticas ocorrem em todas as empresas do setor. Na sua palestra, no seminário Os novos desafios do pré-sal, ele citou empresas concorrentes, como Shell, Exxon e BP, para corroborar sua tese.
Em entrevista ao Estado, ratificou: "Toda decisão é política. Conteúdo nacional; aumentar ou não a exploração; vender para a China ou para os Estados Unidos; aumentar ou não o preço do combustível; entrar ou não na petroquímica", afirmou, lembrando que o conselho de administração da empresa é integrado por ministros de Estado. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
A Petrobrás irá ajudar a calibrar as ofertas de áreas de pré-sal?
A Petrobrás não tem nada a dizer sobre a oferta (leilão de áreas). Mas, a lei aprovada pelo Congresso diz o que fazer. As novas áreas serão ofertadas de forma a garantir que a indústria nacional possa atender à demanda por conteúdo nacional. A velocidade de entrada de novas áreas vai ser determinada não pela Petrobrás, mas pela capacidade dos estaleiros brasileiros, pela capacidade de produção de equipamentos no Brasil.
Podemos presumir que a Petrobrás não espera a licitação para a área do pré-sal a curto prazo? Só a partir de 2013?
Nosso plano é de longo prazo, até 2015. Quando houver a licitação, vamos nos posicionar. Vamos analisar as condições, saber se vamos disputar os 70% (a estatal obrigatoriamente já entra como detentora de 30% de todas as áreas) ou se vamos ficar nos 30%.
A Petrobrás espera mudar de patamar de investimentos?
No sentido de ser mais do que os US$ 224 bilhões? Pode ser. Ou não! Depende da oferta. Posso desinvestir, mudar o ritmo de outros projetos. Quando falo em 40% da produção vir do pré-sal em 2020 estou falando dos campos atuais, não dos novos. A concessão atual é 30% da área toda do pré-sal.
A Petrobrás já tem um plano para os desinvestimentos do planejamento estratégico?
Eu não tenho um plano, tenho uma lista de três tipos ativos que vamos incluir no programa. Serão blocos exploratórios e de produção; participação acionária em empresas e o terceiro ativo é o uso de nossos recebíveis e imobilização de caixa, que devemos liberar.
Sobre a venda de participações acionárias, já há nomes?
Fizemos uma lista que é maior do que US$ 13,6 bilhões. Muito maior.
Quanto maior?
Muito maior, ponto. Colocamos US$ 13,6 bilhões porque é o que precisamos para que o plano seja financiado no nível que queremos: entre 1,6 e 1,9 vezes o EBITDA de dívida líquida e com a taxa de alavancagem entre 26% e 29%. Daí porque vou ter US$ 13,6 bilhões de venda de ativos; US$ 26 bilhões de caixa hoje; de US$ 125 bilhões a US$ 149 bilhões de geração própria de caixa depois de dividendos, e captação entre US$ 67 bilhões e US$ 91 bilhões.
E os desinvestimentos ocorrerão ao longo de dois anos e meio, conforme forem necessitando desse capital?
Não precisamos desse capital agora, mas em cinco anos. São US$ 224,7 bilhões de investimentos mais US$ 31 bilhões de amortizações. Então, durante cinco anos vamos precisar desembolsar esses recursos.
A venda das ações será pulverizada ou vocês irão se desfazer de blocos de participações?
Ainda não está definido. É um processo que vamos definir quando for necessário.
O senhor disse que não existe empresa de petróleo sem ingerência política. Essa ingerência aumentou no governo Dilma?
Ficou na mesma. O Conselho de Administração da Petrobrás, que é onde entra a ingerência política, é o mesmo. Não houve nenhuma mudança. Ou melhor, Dilma Rousseff saiu da presidência do Conselho para assumir a presidência da República e o (ministro da Fazenda) Guido (Mantega) assumiu a presidência do Conselho.
Que tipo de decisão é política?
Toda a decisão é política. Conteúdo nacional é política; se vamos ou não aumentar a exploração é política; se vamos vender para a China ou para os Estados Unidos é política; se vamos ou não aumentar o preço do combustível; se vamos entrar ou não na petroquímica; se vamos comprar mais de fornecedor de tipo A, B ou C...
Refinaria...
Se vou construir refinaria aqui ou ali...
A parceria com a PDVSA é política?
Não. O nosso déficit (de fornecimento) está no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A PDVSA está a três dias de Belém, de navio.
O senhor é o presidente mais longevo da história da Petrobrás. Vai sair da Petrobrás para ir direto ao governo da Bahia?
Se for hoje, não vou. São cinco candidatos do PT, um candidato a mais da base do governo e cinco candidatos da oposição. Como posso dizer que vou concorrer ao governo da Bahia? Estou doente? Meu projeto é: sei que não serei candidato em 2012. Enquanto a presidente Dilma me mantiver na Petrobrás, estou na empresa. Depois, volto para a Universidade Federal da Bahia, onde sou professor titular em licença.
Como o senhor avalia a queda das ações da Petrobrás, apesar do lucro de R$ 10,9 bilhões?
Acho que tem vários motivos pelos quais as ações da Petrobrás caíram. Hoje há um descolamento geral do valor das ações de todas as empresas e o movimento real das empresas. É um fenômeno recente, em função da crise de credibilidade na capacidade de alguns países pagarem suas dívidas.
À medida em que o pré-sal começou a se transformar em projetos concretos, algumas dúvidas começaram a aparecer e isso se refletiu na queda de valor da companhia. Em 2010, fizemos a maior capitalização da história e conseguimos muitos recursos do acionista em troca de ações, que encheram o portfólio dos investidores. Esses portfólios foram ajustados frente à crise, o que aconteceu em 2010 e 2011. Portanto, aconteceu um processo de venda rápida de ações que reduziu a capacidade de recuperação de valor das ações da Petrobrás.
Eu agora diria que estamos sofrendo ainda um fenômeno de expectativas pelo fato de que fica claro que os horizontes em torno da Petrobrás são de longo prazo. Não há empresa no mundo que ofereça uma perspectiva de crescimento de longo prazo como a Petrobrás. Mas, no curto prazo não temos como aumentar o retorno. (ESTADÃO - caderno de economia)

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