quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Leci Brandão e Gog participam de evento que homenageia Abdias do Nascimento


A sambista Leci Brandão passeia por canções dos 36 anos de carreira (Marcos Hermes/Divulgação)
A sambista Leci Brandão passeia por canções dos 36 anos de carreira
 
“Desde o começo, assumi um compromisso: o de fazer da arte um instrumento para ajudar os menos favorecidos. Nestes 36 anos, cantei pelas minorias: índios, mulheres, negros… Deus determinou que eu trilhasse o caminho da música, então, falei que usaria esse dom para lutar. Sei que sou uma artista consciente, engajada e, por causa, disso tive muitos problemas com a mídia deste país. Fiquei cinco anos sem gravadora. Muitos programas não me convidam e eu sei por que. O racismo existe”, diz Leci Brandão, conhecida pelo engajamento nas questões raciais e socais. E, exatamente pela postura militante, a cantora é uma das atrações da festa de encerramento do 23º aniversário da Fundação Palmares, hoje, às 20h, no Teatro Nacional.

No palco da Sala Villa-Lobos, ela faz um tributo à cultura negra, com composições de Cartola, Candeia, Martinho da Vila, Djavan, Milton Nascimento, Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra e canta sucessos consagrados, como Olodum, Força divina, Deus do fogo da justiça, Isso é Fundo de Quintal, Zé do Caroço e Eu só quero te namorar. “O público não me perdoará se eu não cantar essas”, brinca a artista.

Sem um novo trabalho desde 2008, quando lançou Eu e o samba — e ganhou o 20º Prêmio de Música Brasileira como melhor cantora de samba —, Leci pretende gravar um DVD ainda neste ano, quando houver uma brecha na agenda política. Deputada por São Paulo, ela não deixou a música de lado e explica a importância dos novos compromissos: “Hoje, a minha prioridade é a Assembleia (Legislativa). Eu sempre levei tudo a sério na minha vida e, quando não estou no parlamento e há oportunidade, aí sim estou nos palcos. Costumo dizer que eu sou artista, mas estou deputada”.
Gog vai cantar algumas músicas do próximo disco (Luis Xavier de França/Esp. CB/D.A Press )
Gog vai cantar algumas músicas do próximo disco

Gog e Abdias
Compositor do famoso rap Brasil com P, Gog completa a programação e aproveita o evento para mostrar as músicas do 10º disco, previsto para novembro (mês da Consciência Negra). O novo álbum será lançado em Brasília e segue em turnê para o Nordeste. Entre as inéditas, África tática, Papo com Cartola, Heroínas e heróis, O grande dia e Novos ventos, que terão as participações especiais de Máximo Mansur, Higo Melo e Marielhe Borges.

Na noite, haverá ainda uma homenagem ao mestre Abdias do Nascimento. “É muita responsabilidade participar de um evento que homenageará Abdias Nascimento, que sempre foi um exemplo. Ele está no topo da escada do conhecimento. Estamos na metade e é muito bom ver que estamos nos aproximando da sabedoria do mestre”, comenta o rapper Gog sobre a entrega do Troféu Palmares à viúva do criador do Teatro Experimental do Negro (TEN), Elisa Larkim.

23º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO PALMARES
Hoje, a partir das 20h, na Sala Villa-Lobos (Teatro Nacional, Setor Cultural Norte; 3325-6239 e 3325-6256). Shows com a cantora Leci Brandão e o rapper Gog. Entrada franca (os ingressos podem ser retirados no Foyer do Teatro Nacional; apenas dois por pessoa). Classificação indicativa livre.

CULTURA X MISÉRIA
O Seminário Nacional — A cultura como veículo de erradicação da miséria também faz parte da programação do aniversário da Fundação Palmares. De terça até hoje, no St. Peter Hotel (Setor Hoteleiro Sul), o evento promove debates sobre a contribuição da cultura afro-brasileira na erradicação da pobreza. As inscrições gratuitas foram abertas na semana passada e encerradas em dois dias.

Leci Brandão, mulher do samba
Nascida em Madureira, reduto portelense, e criada na Vila Isabel, de Noel Rosa, Leci Brandão fez fama com as cores da Mangueira. Em 1974, tonou-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da verde e rosa, o mesmo ano de lançamento do primeiro disco, o compacto duplo Antes que eu volte a ser nada. Mas Leci já estava enveredada pelo caminho da música.

Em 1968, ganhou o primeiro lugar no programa de calouros A grande chance, de Flávio Rangel, na TV Tupi. Anos depois, venceu o Segundo encontro nacional de compositores de samba com Quero sim, composta com Darcy da Mangueira (Abram alas que eu quero passar e Yes, nós temos Braguinha).

Filha de servente de escola pública, a cantora sempre estudou no ensino oferecido pelo governo. Foi operária de fábrica, trabalhou na Companhia Telefônica do Rio De Janeiro, graduou-se em direito e hoje é deputada estadual pelo PC do B, em São Paulo. Conhecida por participar de movimentos ligados à raça negra, à defesa dos direitos humanos e ao sindicalismo, ela traz na história pessoal o peso do racismo. Quando criança, ganhou um concurso escolar de redação, porém não levou o prêmio. O motivo: discriminação por ser filha da servente. “Claro que já fui vítima do racismo. Não só quando pequena. Eu tinha o diploma, mas não conseguia emprego. E isso acontecia por causa da cor da minha pele”, pontua.

Sempre fiel às suas convicções, Leci rescindiu, em 1981, o contrato com Polygram. A gravadora não aceitou as composições com temas sociais, entre elas, a marcante Zé do Caroço. Os cinco anos sem gravadora não calaram a artista, que fez shows na Europa, Ásia e África. Com 36 anos de carreira e 22 discos gravados, Leci Brandão é a voz da luta social na música popular brasileira. (Correio Braziliense)

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