A senadora Lídice da Mata do PSB, cujos suplentes são Nestor Duarte (PDT) que está secretário de Estado e Jussara (PT) pré - candidata à Prefeitura de Itabuna, admitiu em entrevista à Tribuna da Bahia que pode sim ser candidata à Prefeitura de Salvador. Se isso se confirmar, Lídice embola ainda mais a sucessão municipal e torna-se mais uma (forte) candidata da base do governador Wagner. Leia entrevista abaixo:
Primeira senadora da Bahia e comandante do PSB baiano, Lídice da Mata não esconde o jogo e admite a possibilidade de entrar mais uma vez na disputa pela cadeira do Palácio Thomé de Souza, nas eleições municipais de 2012.
“Querer não quero. Agora eu não posso me recusar a discutir esta possibilidade com uma população que me elegeu a mais votada deputada federal da história do município e que me elegeu a senadora mais votada do estado. Então eu tenho obrigação para com o povo de Salvador”, disse.
Sem ponderações, a senadora não titubeou em dizer que o PP já está repetindo o caminho do PMDB. Perguntada sobre o PSD, ela diz que o DEM está choramingando e ainda completa em outro momento: “O DEM só vai ganhar o governo daqui a vinte anos”.
Tribuna da Bahia - O PSB, de fato, vai lançar candidato para a prefeitura de Salvador?
Lídice da Mata – Pode ter ou pode não ter. Em principio, é uma cidade de dois turnos. O partido tem prioridades de ter candidato. Isso vai depender das nossas condições de organizar isso. Tem alguns que têm se colocado internamente, como João Jorge, Capitão Tadeu, Sérgio Gaudenzi. Mas isso passa por uma definição da estratégia do partido para as próximas eleições. Nacionalmente, o partido em dezembro vai realizar o congresso nacional e vai ter como tema a reforma urbana. Estamos estudando agora e vamos nos concentrar nos grandes problemas das grandes e médias e pequenas cidades brasileiras. A compreensão é de que a vida do brasileiro mudou pra melhor e que Lula mudou o Brasil – mais de 40 milhões saíram das classes D e E para classe C, portanto é uma mobilidade social grande ocorrida nesses últimos oito anos, mas a vida das cidades não se tornou melhor, do ponto de vista coletivo, não da vida individual. Eu posso estar errada, mas dessas grandes cidades, Salvador, em vez de melhorar do ponto de vista coletivo as políticas públicas, a cidade piorou. Das capitais brasileiras hoje, Salvador, sem dúvida nenhuma, é a que tem o pior sistema de transporte coletivo. Você não compara o sistema de transporte coletivo de Salvador com Recife, nem com Aracaju, nem com Maceió, que é uma cidade que está com 30 quilômetros de VLT. O debate sobre a mobilidade urbana e do transporte coletivo na cidade foi dos mais medíocres possíveis até então. É a mobilização, a compra, a cooptação de lideranças populares por segmentos empresariais pra ficar dizendo: 'Ah, o metrô custa tanto, o VLT custa tanto, o ônibus é o mais barato e porque é o mais barato é o melhor'. Quer dizer, coisas que demonstram uma profunda ignorância do que é o processo de organização de sistema de transporte e de mobilidade urbana em qualquer cidade do mundo. Então, Salvador é um exemplo negativo nisto. É uma cidade envolvida há mais de 20 anos nesse debate. Não é apenas na gestão de Imbassahy com seu projeto de metrô, mas, mesmo antes disso. Eu por exemplo, em 1982, 1983, como vereadora, já discutia um projeto de metrô para a cidade e nós transformamos isso numa fantasia distante.
Tribuna – O partido tem vários nomes cotados para a sucessão municipal, mas caso o seu nome seja o único a aglutinar, o que a senhora faria? E o Senado?
Lídice – Olha, o Senado é uma tarefa que o povo da Bahia me deu, que é fruto da generosidade desse povo, do compromisso do governador Jaques Wagner, e eu quero fazer do Senado uma instância, uma trincheira de luta em defesa da Bahia. Só que eu sou política, e como política, Doutor Ulysses (Guimarães) já dizia: todo político quer sair da política, mas o problema é encontrar a porta de saída que é muito difícil porque entramos em um labirinto e desse labirinto pra sair é muito difícil. Muita gente me pergunta: 'Você vai ser candidata a prefeita, você quer ser candidata?' Querer eu não quero. Agora, eu não posso me recusar a discutir esta possibilidade com uma população que me elegeu a mais votada deputada federal da história do município e que me elegeu a senadora mais votada do estado. Então eu tenho obrigação para com o povo de Salvador, de discutir os seus problemas, de buscar encontrar soluções, de tentar apresentar saídas, nomes e projetos para a capital.
Tribuna - Quem seria o candidato a vice-prefeito ideal para 2012?
Lídice – Não. Eu não estou discutindo nomes, aliás, acho que um dos erros do processo político eleitoral de Salvador neste momento é a pobreza de ideias. Eu não vi nenhum candidato apresentando ideias, e quero dizer isso de forma muito fraternal e sem nenhuma boçalidade porque conheço e valorizo a história de cada um deles. Acho que em vez de estarem discutindo cada um o seu nome e as suas alianças, eles deveriam estar mais voltados para apresentar um projeto político, de apresentar as suas opiniões e ideias porque é isso que a cidade precisa. A cidade precisa de debate, pois foi violentada com um plano diretor de desenvolvimento urbano votado na calada da noite, com acordos empresariais – que podem existir porque um plano deve resultar dos interesses de todos da cidade, mas que não podem resultar de interesse de apenas alguns segmentos empresarias. O plano diretor, infelizmente, teve isso como carro-chefe, o que tem causado sérios problemas de trânsito, por exemplo. Aliás, falo também de uma infraestrutura social que a cidade não tem, não teve e não tem mais. Nós temos uma Cidade Mãe, uma rede de assistência para a criança e o adolescente destruída, enquanto os meninos e meninas encontram-se abandonados nas ruas do Centro, completamente entregues ao seu próprio destino, às drogas, aos perigos e desafios das ruas. Os abrigos de rua, como o abrigo Dom Temoteo, estão fisicamente destruídos, passando pequenas reformas, pequenas para se transformar com um acordo aqui e ali, mudando o seu papel. Óbvio que esse papel pode ser mudado, desde que o papel que a Fundação Cidade Mãe tinha pudesse ser cumprido por outra instituição que não cumpre. Não há nenhum programa real de uma rede social para a cidade de Salvador. Eu vejo todos discutindo o Pelourinho como se lá precisasse de mais polícia, mas quem mora no Pelourinho sabe que não precisa de mais polícia. O Pelourinho precisa sim de assistência social e de governo municipal. Não que se tirem os meninos de rua para levar pra canto nenhum, como tem sido feito no Rio de Janeiro, que está tirando os meninos que estão se drogando e levando para uma instituição pra que se tornem limpos da droga durante quinze dias e depois voltam para a rua novamente sem nenhuma perspectiva, para se drogarem e morrerem. Nós precisamos de uma forte rede social em uma cidade pobre, que tem uma das piores receitas per capitas do país e com uma população de jovens miseráveis que precisam acreditar que sua vida tem que ter uma perspectiva melhor. Pra tudo isso precisávamos está discutindo uma forte estrutura social, de saúde, de educação para a cidade. Como está a rede municipal de ensino? Onde ela está? Como está o resultado da escola pública municipal? Os meninos de nossa rede municipal estão saindo alfabetizados? O desafio de Salvador continua sendo o de superar a desigualdade social que ela enfrenta. Discutir Salvador não é apenas discutir o metrô. Isso interessa aos empresários de construção civil, aos donos do transporte coletivo que querem continuar sendo donos, aos novos e também a uma grande parte da cidade que precisa superar a imobilidade urbana que é uma marca da cidade. Mas discutir Salvador não se resume a isso. Discutir Salvador é apontar a necessidade de apontar um rumo pra um grupo, ou pelo menos para maioria, que quer ter uma cidade aprazível como ela sempre foi, com capacidade de mobilizar-se, mas principalmente com esperanças de ter um futuro melhor, com educação, saúde e emprego para os seus filhos.
Tribuna - Como a senhora avalia o fato de o PT sinalizar que todos os aliados devem desistir de suas candidaturas para apoiar o candidato do partido?
Lídice – Eu não acredito nisso. Eu não acho que o PT pense isso. Às vezes um dirigente desavisado diz uma coisa dessas, provocado por um movimento desses ou daquele. É por isso que eu digo que a discussão está invertida, pois é preciso que os candidatos demonstrem o seu amor pela cidade. E o seu amor pela cidade, o respeito às pessoas que moram nela é discutir os seus problemas e soluções. Por isso que fizemos uma proposta de discutir com um grupo de partidos, o PSB, o PTB e o PCdoB, as questões da cidade. Vamos entrar o mês de agosto com outro tema para ser debatido. Estamos nos reunindo nessa direção e continuamos insistindo que o importante agora não é discutir nomes. Isso nós temos. Os nomes são muito fáceis de achar. Nós temos uma plêiade de nomes, cada um com sua história e sua dignidade, como a deputada Alice Portugal, o deputado Nelson Pelegrino, temos o Capitão Tadeu, Sergio Gaudenzi, Edvaldo Brito, João Jorge, Zulu, Marcio Marinho e tantos outros que têm votos e história política na cidade e que se apresentam. Eu tenho certeza que, nesta eleição, Salvador não vai ter menos de sete a oito candidatos. Mas o que precisamos é discutir agora o projeto político porque essa história de só discutir apenas quando inicia o horário eleitoral, isso é na verdade uma forma de não discutir. É preciso começar a discutir agora e a mobilizar os movimentos sociais para se debater a nossa cidade. Eu acho um absurdo no Brasil essa questão de que a eleição encerra o debate eleitoral de três meses. Isso é um desrespeito ao eleitor, que tem de ter o direito de discutir durante um ano o projeto político de alguém que irá dirigir a cidade por quatro anos. É preciso estabelecer esse debate dentro dos partidos e na sociedade.
Tribuna - A criação de um partido como o PSD neste momento agregaria ou vai servir apenas como válvulas de escape para alguns políticos?
Lídice - É que eu tenho uma opinião diferente. Na política, as coisas acontecem como na vida: com naturalidade. Tudo na vida que é artificial não dá certo. Podia dá certo no feudalismo, onde as relações sociais econômicas levavam um processo de decisão muito centralizado. Na sociedade pós-moderna, você pensar em fazer um casamento para atender interesses outros que não sejam o bem-estar daqueles que estão se casando não dá certo, é artificial, é casamento fadado a morrer ou a ser infeliz durante o resto da vida. Pra ter um casamento feliz, as coisas têm que acontecer com naturalidade. Eu não concordo com essa análise de que o PSD surge como uma anomalia. Anomalia é não ter liberdade política, é não ter uma lei que permita que as pessoas discordantes com seus partidos não possam sair e se filiar em outro partido. Essa história de que: Ah, mas é porque todos desejam estar no poder. É verdade, porque isso é a raiz do presidencialismo brasileiro. Em todo lugar do mundo é assim. Nos EUA tem dois grandes partidos, republicanos e democratas. Quando o Democratas assumiu, teve um ou dois republicanos querendo vir pra cá. Quem decide é o eleitor, que é quem vai julgar. Se alguém saiu do DEM e foi apoiar o meu partido, o eleitor do DEM é quem irá julgar. Se o eleitor do DEM também aderiu ao projeto político que está hegemônico é porque esse projeto teve capacidade para isso. Eu fui oposição a minha vida inteira e nunca reclamei disso porque compreendi o processo político. Política é processo, nada acontece do dia pra noite. Nós levamos vinte anos pra ganhar uma eleição na Bahia com Waldir (Pires) e depois levamos mais vinte para ganhar com Wagner. É assim mesmo. O DEM vai levar mais vinte para ganhar outra vez. A não ser que aconteça algo muito novo na relação da sociedade com a economia, com o governo federal, pode mudar. Mas dentro da regra do jogo, o que existe é isso. Eu compreendo que o DEM esteja revoltado, batendo perna e esperneando, mas é o justo esperneando, e ele tem o direito de fazer e eu de respeitar o seu direito de choramingar, mas é um choramingo.
Tribuna - Como a senhora avalia a pretensão do PP em lançar um candidato e tentar fazer o sucessor de João Henrique?
Lídice – Não sei. Cada um tem que avaliar o passo que dá e se ele está coadunado com os seus ideais. Eu apenas lamento que, na história política da cidade nos últimos oito anos, o prefeito tenha mudado tanto de partido, não que ele não possa mudar de partido, apenas porque ao mudar de partido, muda-se uma equipe que está no governo e passa a sensação pra cidade que se está de dois em dois anos mudando quem comanda a prefeitura. Acho isso ruim. Acho que o prefeito tinha uma história democrática de participação política com a cidade e a cidade merecia que ele mantivesse esse compromisso. Ele se elegeu com o discurso da participação popular e modificou completamente esse discurso. Eu não sou inimiga de João Henrique e não acho que na eleição que vem deva se discutir quem é contra ou a favor de João Henrique. Agora eu acho que a política tem o papel pedagógico para o cidadão e eu, como cidadã, lamento o papel pedagógico que o prefeito desempenha. Eu não consigo imaginar o que essas mudanças significam no ponto de vista real para a cidade.
Tribuna - Há possibilidade de o PP repetir a história do PMDB?
Lídice - Repetir já está repetindo. Você fala sobre 2014? Aliás, eu me recuso a discutir 2014, pois ainda temos 2012. Se alguém quer discutir 2014 que faça primeiro 2012. Se a gente pensa a eleição de 2012 apenas como um trampolim, uma passagem para 2014, a gente desrespeita a vida da cidade de Salvador. Todas as cidades de nosso estado merecem uma atenção devida dos políticos para disputa de poder e de projeto para cada cidade. Quando passar essa disputa, aí a gente discute 2014. Acho que 2014, o governador Jaques Wagner irá conduzir muito bem. Eu não vou me preocupar com isso, pois ele é um grande líder que soube ganhar as eleições na Bahia e conduzir o processo de transição da Bahia para democracia, e eu confio muito nele.
Colaborou Fernanda Chagas e Lilian Machado. (Tribuna da Bahia)
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