Depois de superar 43 mil inscritos e ficar entre os sete finalistas do programa Ídolos, em 2010, a cantora Tamires Santana, de 21 anos, dá sequência à sua carreira musical com mais maturidade, profissionalismo e pés no chão, longe dos holofotes da televisão.
Filha de saxofonista, sobrinha de um fabricante de clarinete e de Galdino Octopus, violinista da trupe Teatro Mágico – foi incentivada pelo pai a desenvolver o dom de cantar desde os seis anos. Com a morte da mãe, vítima de bala perdida, deixou a cidade de Salvador com a família e, em São Paulo, reencontrou na música sua força para viver. Viver cantando e encantando com o seu timbre diferenciado e voz marcante, apostando na mistura do soul com a MPB como seu maior diferencial. “Talvez eu, assim como o Seu Jorge, a Paula Lima, a Sandra de Sá e o Ed Mota, também faça o soul em minha voz se comercializar”.
Como a música entrou na sua vida?
Como brincadeira de criança, minhas horas vagas eram em estúdios, shows, bares e nas casas de um monte de marmanjos barbados e músicos, como o meu querido Jubiracy Bastos, violonista que me apresentou grande parte da MPB. Sou de uma família de músicos.
Então, incentivo não faltou?
Tenho certeza que o incentivo vem antes de eu nascer, pois como o senhor Ozéas de Santana, meu pai, é saxofonista, já no ventre tive contato com as primeiras notinhas. Mas talvez a maior importância dele nesta história não seja o incentivo, e sim a liberdade. Mesmo desejando realizar seu sonho de artista e vendo crescer uma possibilidade em mim, quando eu pensei em desistir da música, ele permitiu que eu seguisse o meu caminho e descobrisse quem eu era, porque a música tem que nascer com você.
"NÃO EXISTE O NÃO COMERCIAL, O NÃO ‘COMÍVEL’. EXISTEM PESSOAS E GOSTOS DIFERENTES, BASTA PROCURARMOS O NOSSO PÚBLICO"
SOBRE O SOUL, ESTILO MUSICAL QUE PERMEIA A SUA CARREIRA
SOBRE O SOUL, ESTILO MUSICAL QUE PERMEIA A SUA CARREIRA
Da infância aos dias de hoje, o que mudou na cabeça da menina que nasceu com a música?
Era muito jovem, por isso, sonhadora. Por inocência era contente com o que tinha e não pensava em ser estrela, só me alegrava o fato de subir no palco e, simplesmente, cantar. Isso tornava as coisas bem mais fáceis que hoje, em que me pego num mundo no qual o cantar, em si, muitas vezes é irrelevante.
Vamos falar de Ídolos. Você ficou entre os 10 finalistas em 2010. O feito te surpreendeu?
Meu pai sempre dizia que eu não precisava estudar canto, por qual motivo eu não sei! Então, até 2010, tudo que eu sabia sobre canto e música era o que eu tinha vivido. Me surpreendi ao chegar lá para concorrer com bacharel em música, cantar com uma banda super profissional. Nessas horas o conhecimento que era e ainda é pouco para mim, conta muito. Sofrendo, querendo fazer e mostrar mais e crescer como artista, fui aprendendo no decorrer do programa que quem luta, se esforça, conquista, aprende. A maior lição foi descobrir que sou mais forte do que pensava e eu falo para que estiver lendo agora. “Você é mais forte do que imagina”.
O que anda fazendo para sanar essa falta de conhecimento que você citou?
No início de 2011 comecei a estudar canto técnico no Centro Paula Souza, na ETEC de Artes, e lá tenho aprendido muito de música, muita coisa que eu nunca tinha ouvido falar. Quero fazer faculdade na área musical e continuar o meu curso de teatro, além de estudar inglês e francês. Estou correndo atrás de conhecimento, que nunca é demais. Incentivo a todos buscarem conhecimento, pois faz uma gigante diferença você saber o que está fazendo e fazer com responsabilidade.
Já no pós-Ídolos, sem a mídia do programa, quais as principais dificuldades que você enfrentou, mesmo já tendo certo reconhecimento por parte do público e do mercado fonográfico?
A pior parte foi saber que, por falta de grana, eu não poderia dar continuidade na música. Sem conhecer nada e ninguém em São Paulo, não tinha como montar banda, ensaiar, por que tudo isso é gasto. Alimentação, transporte e estúdio, são a mínima condição para um músico trabalhar e nem o mínimo eu tinha. Estava de mãos atadas e sozinha. Mas graças ao Ídolos, conheci um fã carioca, Reginaldo Costa, que está administrando a minha carreira agora.
"AS PESSOAS MÁS BUSCAM MAIS O SEU PONTO FRACO. E SER NEGRA ABENÇOADA É MEU PONTO MAIS FORTE!"
SOBRE PRECONCEITO NO CENÁRIO MUSICAL
Você tem timbre diferenciado e segue como uma cantora de soul. Em sua opinião, as coisas poderiam ser “mais fáceis” se você adotasse um estilo mais comercial e popular?
Talvez eu, assim como o Seu Jorge, a Paula Lima, a Sandra de Sá e o Ed Mota, também faça o soul em minha voz se comercializar. Estamos em constantes mudanças, algumas pessoas enjoam comendo feijão e arroz todos os dias, outras comeriam até morrer, tem as que não misturam feijão com arroz e macarrão. Não existe o não comercial, o não “comível”. Existem pessoas e gostos diferentes, basta procurarmos o nosso público. Quero apresentar uma nova forma de apreciar o soul, introduzindo-o na MPB, pegar um Tom Jobim, um Gilberto Gil, uma Maria Bethânia, por exemplo, além de canções minhas e de outros compositores e colocar os bits, que são vertentes do samba, R&B e pop.
Talvez eu, assim como o Seu Jorge, a Paula Lima, a Sandra de Sá e o Ed Mota, também faça o soul em minha voz se comercializar. Estamos em constantes mudanças, algumas pessoas enjoam comendo feijão e arroz todos os dias, outras comeriam até morrer, tem as que não misturam feijão com arroz e macarrão. Não existe o não comercial, o não “comível”. Existem pessoas e gostos diferentes, basta procurarmos o nosso público. Quero apresentar uma nova forma de apreciar o soul, introduzindo-o na MPB, pegar um Tom Jobim, um Gilberto Gil, uma Maria Bethânia, por exemplo, além de canções minhas e de outros compositores e colocar os bits, que são vertentes do samba, R&B e pop.
Shows, CD?
Estamos montando uma pequena turnê pelo Rio de Janeiro no mês de setembro. O CD já está sendo elaborado com grandes ideias do produtor musical Nikk Gutierrez, inclusive com a introdução de alguns sons que rolam na Bahia. Mas no primeiro semestre de 2012 o CD ficará pronto.
Você, como amante do soul e suas vertentes, o que acha do denominado “funk” dos dias atuais?
A batida é legal, se você diminuir o ritmo, vai ver que é um samba, porém, a letra muitas vezes não quer dizer nada, bem diferente do samba. Mas existe música para todo o tipo de gente. O “funk” tem o seu público, que se diverte com esse estilo.
Existe preconceito racial no meio musical?
Por ser negra acredito que não, mas por ser gordinha, com certeza. É que ser negra, para mim é um privilégio, mas ser gordinha não. E as pessoas más buscam mais o seu ponto fraco. E ser negra abençoada é meu ponto mais forte! (Raça Brasil)
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