segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Arquivos do Dops dizem que Lula barrou a entrada de Luís Carlos Prestes no PT

O então sindicalista narra sua decepção, mas também admiração pelo líder comunista
Wanderley Preite Sobrinho, do R7


Luís Carlos Prestes Dops 700 X 525Julia Chequer
Com duas pastas, Luís Carlos Prestes é o dono de um dos maiores arquivos no Dops de Santos
Como seria o encontro de duas das maiores lendas da esquerda brasileira? Pelo jeito não foi nada amistoso. Arquivos do Dops (departamento da polícia que vigiava quem fizesse oposição à ditadura) recém divulgados pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo revelam um discurso de 1984 em que o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva conta como teria barrado a entrada do líder comunista Luís Carlos Prestes no PT, partido que ele fundou nos anos 80.

A história é uma entre outras registradas nos 11.600 prontuários encontrados nos fundos do Palácio da Polícia de Santos em março de 2010 e liberados agora para consulta pública.

No dia 25 de maio de 1984, um policial civil se infiltrou em uma palestra de Lula, quando ele passou por “pontos do cais do Porto de Santos pronunciando-se a trabalhadores com o propósito de persuadi-los a votarem no candidato do PT a prefeito de Santos nas eleições de 03 de junho” [a hoje deputada estadual Telma de Souza].

As transcrições policiais revelam o que ele teria dito sobre o lendário Prestes, conhecido por comandar uma guerrilha de 25 mil pessoas (a Coluna Prestes) na década de 1920 e por ter se tornado um dos maiores símbolos do PCB (Partido Comunista Brasileiro) já na década seguinte:

“Tenho divergências profundas com Prestes, mas acho que ele é a figura histórica viva mais importante do país, e os partidos comunistas não existem diante dele. Prestes já havia tentado entrar no PT, mas estava exigindo muito, queria vários cargos importantes, e não entendeu que no nosso partido ninguém entra por cima, nem Luís Carlos Prestes.”
Lula na ditadura 700 X 525
Agência Estado
De olho na imensa popularidade do “Cavaleiro da Esperança” em Santos, Lula continuou com o bate e assopra:

“Como foi recusado, ele saiu por aí criticando o PT e fui obrigado a dizer que ele era o Jânio Quadros da esquerda, mas o seu apoio e o que ele disse do PT foi a coisa que mais me deixou orgulhoso desde a fundação do partido.”

A cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro afirmou ao R7 que a intenção de Prestes de ingressar no PT é uma informação surpreendente.

- Não havia histórico de declaração de Prestes dizendo que ele queria entrar no PT. A tendência de quem foi do Partidão [o PCB] era ficar dentro do PMDB para chegar ao poder utilizando sua estrutura partidária, já espalhada por todo o Brasil.


Ela diz que Lula conseguia verbalizar os anseios de um outro tipo de esquerda que nascia das ideias e mobilização de religiosos, estudantes, intelectuais e sindicalistas.

Reconhecido pelo próprio Lula como a principal figura de esquerda até então, Prestes foi naturalmente cedendo seu lugar ao petista, de acordo com a professora.

- No processo de redemocratização, o Prestes não tem essa disposição - ele estava mais velho, sem a mesma agilidade que nas décadas de 30 e 40. A esquerda que surge com o Lula é diferente. Ele [Lula] nunca se disse socialista.

Essa diferença é marcada por outro discurso de Lula sobre o futuro PT anotado pelos espiões do Dops em agosto de 1979 em Cubatão. No pronunciamento, ele teria dito “que o PT realmente será a grande força política do Brasil e conquistará o poder através do voto livre e democraticamente”.
 
(FONTE: R7 - Vídeo no R7)

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