segunda-feira, 26 de setembro de 2011

LÚCIO VIEIRA LIMA: "Torço para que Mário Kertész seja o nome da oposição"

Osvaldo Lyra


Comandante do PMDB baiano, o deputado federal Lúcio Vieira Lima não esconde a satisfação pelo ingresso do comunicador Mário Kertész ao partido e apresenta o nome do novo filiado – fato que se concretizará hoje – como a grande aposta da sigla para as eleições municipais de Salvador em 2012. Sobre as supostas articulações da oposição para o pleito de 2012 que coloca em jogo os interesses na disputa ao governo em 2014, ele manda recado: “Da mesma forma que nós não podemos colocar os projetos pessoais acima dos coletivos em 2012, isso também não pode acontecer em 2014”. Adversário do PT baiano, ele prevê que haja dificuldades para que a pré-candidatura de Nelson Pelegrino deslanche.
Tribuna da Bahia – O que representa a filiação de Mário Kertész ao PMDB? É uma demonstração de que ele entrará no processo das eleições 2012?
Lúcio Vieira Lima – Em primeiro lugar, quando nós convidamos o Mário Kertész foi porque achamos que ele poderá contribuir muito no processo eleitoral. Se for como candidato, ótimo; se não for, com certeza será ajudando com a proposta de uma nova Salvador e será ajudando a fazer um grande programa de governo para resgatar Salvador dessa situação em que ela se encontra hoje, onde o principal resultado é a perda de autoestima da população da cidade. Hoje a população de Salvador não tem orgulho de bater no peito e dizer: - Eu moro na cidade de Salvador. Logicamente, a vinda de Mário Kertész, como ele mesmo falou, faz parte de um passo, de uma etapa. Ele para ser candidato a prefeito precisa se filiar a um partido político. Então, quando ele anunciou a decisão de se filiar ao PMDB foi uma alegria muito grande para nós do PMDB, e logicamente nós temos uma candidatura competitiva para sentarmos à mesa com a oposição e seus partidos para discutirmos quem será o melhor nome para comandar esse processo. Na condição de peemedebista, torço para que Mário Kertész seja o nome que venha para aglutinar as oposições.

Tribuna – Os interesses individuais de cada partido vão se sobrepor e a oposição vai conseguir construir uma unidade?
Lúcio – Com certeza. Na própria filiação de Mário Kertész, ele mesmo coloca que vem para contribuir. Ele não está se filiando com a imposição de que será candidato. Agora, quanto mais nomes você tem preparados para ocupar a cabeça de chapa melhor para esse time. Veja aí o PT, que já anunciou o seu nome e se fixou nele e hoje já existe uma boataria muito grande que, por não ter avanços, esse nome poderia ser trocado. Então, nós temos aí três nomes importantes que são Antonio Imbassahy, Mário Kertész e o do deputado ACM Neto. Temos também o PPS, mas que não colocou nenhum pré-candidato. Quer dizer, hoje nós temos dois ex-prefeitos e também o deputado ACM Neto com atuação de destaque no exercício de seu mandato na Câmara Federal. Com isso temos condições de deixar os projetos individuais de cada um de lado e chegarmos a um nome de consenso para Salvador. Até porque Salvador está vivendo um momento que precisa do sacrifício dos políticos. Se nós não nos unirmos, Salvador vai continuar nesse ritmo e vai ser pior para quem? Vai ser pior para os nossos filhos e para os filhos de nossos filhos e para toda a população. Então acho que é chegada a hora de darmos uma demonstração de grandeza e mostrar que os políticos têm condições de abrir mão de seus projetos pessoais e de seus objetivos pessoais para pensar na coletividade e na construção de uma cidade melhor para todos.

Tribuna – O senhor viu como ameaça o fato de ACM Neto mirar em 2014 caso não dispute 2012? Seria uma ameaça aos planos do ex-ministro Geddel em disputar o governo como candidato das oposições?
Lúcio – Primeiro que a candidatura de Geddel ele mesmo tem dito que só irá ocorrer em 2014 se for uma candidatura natural. Na eleição passada, foram feitos diversos fóruns, debates e encontros e ele foi candidato do desejo da base do PMDB. Então eu acho que 2014 está muito longe. Temos que ter a serenidade e a sobriedade para estarmos unidos também em 2014, pois o mais importante para as oposições é dar um freio nesse desgoverno que é o PT da Bahia, onde você tem problemas no ferryboat, problemas na saúde, na educação, na segurança, na infraestrutura. Não houve mudanças na gestão naquilo que ele propôs em 2006. Temos que ter a consciência que 2014 passa por 2012 e que da mesma forma que nós não podemos colocar projetos pessoais acima dos coletivos em 2012 isso também não deve acontecer em 2014. Será escolhido candidato a governador aquele que tiver melhores condições no momento, e isso nós não sabemos. Você fala em ACM Neto e Geddel Vieira Lima para 2014 – e isso aí só a gente batendo na madeira – mas nós não sabemos se eles estarão vivos. Lembremos bem que Luis Eduardo Magalhães estava para ser governador e terminou Deus, nosso pai, lhe tirando essa oportunidade por motivos que só o próprio Deus sabe. Portanto, não podemos fazer planos para daqui a dois ou três anos.

Tribuna – O ex- presidente Lula declarou essa semana que apoiará o candidato do governador Jaques Wagner em 2012 e você se referiu a boatos sobre a postulação do PT. A candidatura de Nelson Pelegrino tem dificuldade para tomar fôlego?
Lúcio – Que está tendo dificuldade isso está claro, tanto é que eles estão fazendo encontros para demonstrar que todos estão com ele e ele tem se esforçado muito. Fazendo justiça a Pelegrino, ele tem se esforçado muito e é um lutador. As quatro derrotas que ele teve não o desanimaram, mas, infelizmente o que se nota inclusive através de pesquisas é que ele tem dificuldade para deslanchar e isso começa a preocupar o Partido dos Trabalhadores. Quanto ao fato de Lula vir para apoiar o candidato do PT, isso é natural. Da mesma forma que Lula vem para apoiar o candidato do PT, os nossos ministros vêm; o vice-presidente Michel Temer também vem para apoiar o candidato do PMDB. A presidenta Dilma também virá porque ela não vai agir como filiada, mas como presidenta de uma base partidária. Então, se for o caso, ela poderá se manifestar a favor dos dois candidatos porque é assim que se faz quando se tem uma base política.  

Tribuna – A presidente Dilma vai apoiar o PMDB mesmo o DEM e o PSDB fazendo parte da chapa, caso Mário seja o candidato?
Lúcio – Olha, eu não falo aqui pela presidente, mas o que eu imagino que deva acontecer. Se Mário for o candidato escolhido, é um partido da base da presidenta Dilma que está recebendo apoio. Não se pode esquecer, por exemplo, que na eleição passada o governador apoiou o candidato do PSDB, Antonio Imbassahy. Ele apoiou três nomes: o prefeito João Henrique, o candidato Imbassahy e o candidato (senador) Walter Pinheiro. Ele apoiou Imbassahy, alegando que o PSDB fazia parte da base estadual e olha que a única certeza que se tinha naquele momento era que o PSDB não marcharia com a presidenta Dilma, pois teria candidatura de José Serra à Presidência da República.

Tribuna – O fato de Geddel fazer parte da base da presidente Dilma pode inviabilizar os planos de unir a oposição?
Lúcio – De forma nenhuma. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Geddel era ministro do presidente Lula e foi chamado pelo seu partido para colocar seu nome ao governo, até porque o PMDB discordava da prática política que estava ocorrendo na Bahia e que continua a ocorrer, e colocou seu nome e disputou. Não existe vinculação. Eu vejo aí, por exemplo, o governador dizendo que todos os partidos da base têm direito a colocar uma candidatura, apesar de que na prática ele termina a frase dizendo que a base tem que se unir em torno de uma candidatura só, porém esquece de dizer : -  Desde que essa seja do PT. Nós temos aí, por exemplo, a candidatura de Alice Portugal do PCdoB, que é da base. Temos também a candidatura de João Leão, que é da base. O que tem que se acabar na política baiana é aquela história de achar que no momento que se faz uma coligação para uma eleição se fez uma fusão.

Tribuna – O governo João Henrique melhorou depois que ingressou no PP?
Lúcio – Se você me mostrar alguma ação concreta do PP para a cidade de Salvador, aí eu digo para você que melhorou. Mas eu digo a você que não houve nenhuma porque as obras que começaram como as do canal da Vasco da Gama e do Canela foram empenhadas pelo PMDB através do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. A mobilidade urbana não saiu nada. Anunciou-se verba para limpeza de canais e passaram as chuvas e as verbas não vieram, anunciou-se prazo para término para as obras do metrô e nada aconteceu. O que trouxe a ida de João Henrique para o PP a não ser a desculpa de que estava indo para um partido da base para justificar o comportamento dele em relação ao PMDB, que foi o partido responsável pelas grandes intervenções realizadas na cidade e pela sua reeleição?

Tribuna – Como o senhor avalia a tentativa do prefeito de fazer João Leão seu sucessor?
Lúcio – Aí eu prefiro aguardar, pois não estou vendo por parte do prefeito essa iniciativa.

Tribuna – E o movimento do PP em relação a essa candidatura?  
Lúcio – Eu acho que é mais uma candidatura. Mais uma que enriquece o debate. Acho que quanto mais candidatos existirem, melhor para que possamos promover o debate, portanto que venha Mário Kertész, que venha Imbassahy, que venha ACM Neto, que venha Alice Portugal, Marcos Medrado, entre outros. Quanto mais candidato tiver, melhor. Eu, por exemplo, defendo a tese de que todos os partidos deveriam ter candidatos no primeiro turno, e aqueles que depois tivessem afinidades programáticas poderiam se apoiar. Infelizmente, não é assim, mas quanto mais candidatos houver, mais salutar será para a população de Salvador, que terá mais candidatos para escolher quem é o melhor para a cidade. 

Tribuna – O PT nacional liberou alianças com o PMDB em todo o país, mas como o senhor avalia o fato de o PT estadual vetar a aliança com o PMDB baiano?
Lúcio – É um problema do PT. Essa política de vetos era uma política que existia na Bahia há muito tempo e em 2006 nós apoiamos o atual governo justamente para acabar com isso.  Essa história de vetar realmente é uma coisa que não é republicana. Eu vejo o PT da Bahia e o governador manifestarem sempre que são republicanos, mas não vejo tomarem atitudes republicanas. Mas não tenho nenhuma preocupação com isso, pois se trata de um problema deles. 

Tribuna – Quantos prefeitos tem hoje no PMDB? Qual a meta para as eleições de 2012?
Lúcio – Olha, nenhum partido tem hoje esse número. Quem disser que tem está mentindo, pois isso só se saberá depois do prazo do dia 07, mais precisamente no dia 14, que é quando se manda para o TRE - Tribunal Regional Eleitoral (a documentação) para se fazer o levantamento das mudanças. O que eu posso lhe dizer é que em nosso levantamento preliminar nós iremos disputar em cerca de 190 cidades para prefeito. Quantos iremos fazer, aí quem tem que dizer é o povo da Bahia.

Tribuna – O que levou o senhor a dar entrada no pedido de impugnação do PSD como pessoa física?
Lúcio – O que levou foi esse absurdo jurídico que está aí. Está se abrindo uma janela. Dois meses depois da eleição, começou a se formar um partido alegando que não tinha espaço, que estava sofrendo perseguição interna. Como é que a pessoa foi eleita dois meses antes por um partido político e diz que não tinha espaço, não tinha isso, não tinha aquilo. Além do mais, a forma com que foi feita foi passando por cima de toda a legalidade. Você teve toda a sorte de ilegalidades, como as assinaturas de mortos, assinaturas em troca de cestas básicas. E, logicamente, eu agi aí não como deputado, mas como cidadão. Indignado com essa situação, onde você quer se esconder atrás de governabilidade, e reclamação de que não teve espaço simplesmente para justificar atitudes fisiológicas, sendo cooptado por meia dúzia de carguinhos, por viaturas para eventual município. Como cidadão, eu achei que deveria me manifestar e dei entrada sim no pedido de impugnação e que foi acatado pelo Ministério Público. Foi acatado em parte esse pedido meu e está sendo julgado pelo TSE.

Tribuna – Qual o temor do PMDB com a criação desse novo partido?
Lúcio – Não tem temor nenhum. Qual temor?

Tribuna – O PMDB vai aceitar manter quem já ameaçou sair do partido?
Lúcio – Primeiro que não existem ameaças. Ou sai ou não sai. Hoje (sexta-feira), por exemplo,  diante das dificuldades que o PSD tem mostrado  para sair do papel, foi um dia bastante cheio aqui no partido, pois muitos que estavam pensando em mudar vieram justamente perguntar se teria algum problema para eles ficarem no PMDB. Não tem nenhum problema. Nós não vamos perseguir ninguém.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lílian Machado. (Tribuna da Bahia)

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