Chama-se “Lula Relembra a 1ª Conclat 30 anos Depois”. Produziu-o a própria CUT, junto com a Tatu Filmes e a ViaTV.
Arthur Henrique, presidente da CUT, pendurou em seu blog um texto de apresentação. Ele conta que a fita é dividida em duas partes.
Na primeira, o Lula de 2011, postado do lado esquerdo da tela, reage a declarações do Lula de 1981, exibido à direita.
A certa altura, o neo-Lula espanta-se com a aparência do proto-Lula.
O novo: barba nevada e aparada, camisa e suéter alinhados. O antigo: barba negra e desgrenhada, blusa de lã azul em conflito com a camiseta vermelha.
“Puta merda, que cara feio! Se a Marisa vir isso aí, eu vou ter de agradecer a ela por ter se casado comigo.”
O Lula com barba à Fidel Castro estrelou, há três décadas, a Conclat (Conferência da Classe Trabalhadora). Um evento no qual foi fundada a CUT.
O Lula de pelos domesticados e trajes elegantes surgiu na campanha presidencial de 2002. Fabricado pelo marqueteiro Duda Mendonça, prevaleceu sobre José Serra.
De repente, a fita de 1981 exibe a leitura de resolução aprovada na convenção inaugural da CUT.
Lula sorri no instante em que o orador menciona a defesa da estatização do sistema bancário brasileiro. Riso sintomático.
Após três derrotas eleitorais, o velho Lula renunciou a esse lero-lero radical também em 2002. Beijou a cruz do mercado ao assinar a célebre ‘Carta ao Povo Brasileiro’.
Preparada pelo companheiro Antonio Palocci, a carta deu consistência programática às mumunhas propagandísticas de Duda Mendonça.
Eleito, Lula levou Palocci à Fazenda e o ex-tucano Henrique Meirelles ao Banco Central.
Manteve o tripé econômico lançado sob FHC: metas de inflação, responsabilidade fiscal e câmbio flutuante. Em vez de estatizar, serviu juros aos bancos.
Na segunda parte, o filme da CUT exibe uma entrevista de Lula, o novo, ao repórter Daniel Brazil.
Ele discorre sobre as diferenças entre passado e presente. Fala, por exemplo, sobre o grupo que fundou a CUT:
“A gente tinha uma concepção de organização sindical de base que o outro pessoal não tinha.”
O “outro pessoal” era gente do ex-PCB, do MR8, que se recusou a participar da conferência inaugural da CUT.
“A tradição naquela época”, Lula declara, “era partido de trabalhadores dirigidos por intelectuais. E o PT nascia dirigido por trabalhadores.”
Mais adiante, Lula afirma: “A gente manteve a coerência e nossos princípios estão em pé.” Será?
Considenrado-se os fins, Lula descobriu que quem ele era 30 anos atrás não estava preparado para o sucesso.
Trocou a velha ideologia por outra, em alta no mercado e baseada num orçamento.
Considerando-se os meios, Lula mandou às favas os princípios. Desvirtuou-se na proporção direta da aproximação com o cofre.
Um mensalão, um Sarney e muitos Valdemares depois, Lula tornou-se uma espécie de fotografia de carteira de identidade velha.
A foto reflete o que Lula já foi. Mas ele não se incomoda com o que se tornou. Se ainda existisse, o Lula de 1981 ecoaria o atual: “Puta merda, que cara feio!” (Blog do Josias)