segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Zé Dirceu: "Mais análises sobre matéria de Veja"

Gostaria de recomendar duas matérias publicadas na blogosfera – nos portais Advivo (Luis Nassif Online) e em Carta Maior - com análises sobre o episódio da matéria de capa de Veja contra mim. Cada uma, a seu modo, esclarece facetas da prática de jornalismo da revista, duramente criticada semana passada por inúmeros jornalistas e blogueiros em todo o país.

O professor e escritor Washington Araújo, mestre em Comunicação pela UnB, em seu artigo “
O tribunal midiático”, abre sua argumentação lembrando que Veja pode ser acusada de práticas jornalísticas pouco usuais, de ser politicamente destemperada e editorialmente desequilibrada, “mas não pode ser acusada de incoerência”.  O especialista em comunicação se deu ao trabalho de fazer uma busca nos arquivos digitalizados da publicação onde levantou 49.587 resultados com o meu nome. Desse total, 91 eram menções à minha pessoa em suas capas entre 2002 e 2011.

Segundo seu levantamento, estreio em uma capa de Veja nesse período numa chamada lateral  na edição de 25/9/2002, onde constava: “José Dirceu: O homem que faz a cabeça de Lula”. Citando várias matérias de Veja a meu respeito, Washington Araujo ressalta um expediente comum: “as fontes em off, frases recolhidas fora do contexto em que foram ditas e reajuntadas a contextos mais atuais”.

Minha criminalização e o manual da revista

Para Araujo, a minha criminalização, corrente nas páginas de Veja, parece fazer parte do manual de redação da revista. “É quando Veja levanta suspeitas, investiga, acusa, julga, condena, acompanha o cumprimento da pena e veta qualquer direito ao contraditório. O Tribunal Midiático parece ter mais poder destruidor que Tribunal regular, instância judiciária em uma sociedade democrática”.

Quanto à capa de 31 de agosto passado, em que sou apresentado como um Don Corleone, de O Poderoso Chefão, o mestre em Comunicação afirma: “O que merecia mesmo uma ampla reportagem é a metodologia adotada pela revista para cumprir sua pauta”.

Entre os procedimentos citados está o de um repórter se passando por companheiro de quarto de hotel para conseguir a chave do meu apartamento com a camareira, além de imagens citadas/retratadas na revista como se houvessem sido cedidas pela segurança do hotel.  (Leia mais neste blog) Araujo, ao final, pergunta-se: “Por algum acaso, repórteres de Veja estagiaram recentemente no jornal News of the World do realmente mafioso midiático Rupert Murdoch?”.

As sombras de Veja

Na Carta Maior, a matéria “Uma apuração feita nas sombras”, assinada por Maria Inês Nassif, André Barrocal e Lourdes Nassif, traz uma entrevista comigo que aborda, ainda, outras questões relacionadas à mesma matéria de Veja contra mim.Numa alusão à frase de Veja, de que o repórter estaria no meu hotel para investigar "as atividades de um personagem que age sempre na sombra", o título já abre a matéria ironizando a estranha prática de jornalismo adotada pela revista.

Na entrevista à Carta Maior pude denunciar que Veja se meteu numa empreitada muito arriscada, do ponto de vista jurídico. “Trata-se de uma estratégia para separar, para a opinião pública, as imagens do PT e da presidenta Dilma Rousseff  ("Dilma sim, o PT, não") e também a "preparação política" para meu julgamento no Supremo Tribunal Federal, no processo do chamado "mensalão", afirmei.

E frisei à Carta Maior que a revista incorreu na violação de vários direitos garantidos pelo extenso artigo 5° da Constituição, como a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas (item X); a inviolabilidade da casa do indivíduo (item XI) e o direito à reunião. E se tudo não passar de uma estratégia da revista para me condenar a priori, antes do meu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), reafirmo aqui o que disse aos jornalistas do portal: "Eu quero ser julgado". Afinal, apesar dos demais processos que enfrentei na minha vida pública, hoje, só tenho pendente o julgamento no STF.

"Quero ser julgado"

Carta Maior ressalta que existiam cinco processos contra mim correndo em instâncias inferiores. E que fui absolvido em primeira e segunda instâncias em todos eles. O portal informa que também passou incólume por uma devasssa de 18 meses da Receita Federal. "Recebi um atestado de idoneidade", afirmei.

A entrevista, contudo, vai além da matéria de Veja. Abordou o Congresso do PT e o que penso sobre vários temas, como o apoio a uma Reforma Tributária progressiva, em que os que ganham menos paguem menos, os que ganham mais, paguem mais.

“O Nicolas Sarkozi e a Angela Merkel falam de uma tributação de operações financeiras, e o Barack Obama, que é insuspeito, também pensa em taxar os ricos. Eu acho que, se para os Estados Unidos vale esse debate, e para a Europa também, vale mais ainda para o Brasil, onde os lucros financeiros são fantásticos e é grande a a concentracão de renda”, argumentei.


Também comentei a importância de o partido ser vanguarda em questões como a Reforma Política e a regulação da mídia. A propósito deste último tema, disse que cabe ao PT esclarecer à sociedade que o assunto nada tem a ver com censura. A regulação do setor das comunicações existe desde Portugal aos Estados Unidos, desde a Austrália ao Canadá; e que na Grã-Bretanha, inclusive, é uma regulação fortíssima.
Por fim, pude esclarecer um ponto, contrário ao que a mídia tem frisado com freqüência: “Houve uma melhora na articulacão política do governo (com o PT) com uma presença maior da presidenta (nas conversas). A relação (PT e governo) está muito boa”.

(Blog do Zé Dirceu)

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