terça-feira, 26 de julho de 2011

Carta de Repúdio: A INSEGURANÇA PÚBLICA EM SC PARA OS NEGROS

Nós do NEN- Núcleo de Estudos Negros, entidade do movimento negro de Santa
Catarina, vimos por meio desta manifestar nosso repúdio em relação à agressão
policial ocorrida contra o ator mineiro Alexandre de Sena que participava do
Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (Fitub).
O ato de violência contra o jovem ator vem compor, com outros já praticados no
estado, um cenário de permanente tensão, especialmente para negros catarinenses
e visitantes! A gravidade de tal ato assume proporções imensuráveis, pois
partiu
daqueles que institucionalmente tem o dever de garantir o direito de
(circulação
nos espaços públicos de) todos os cidadãos.
Somos aproximadamente 800 mil negros e negras distribuídos pelos 293 municípios
e participando ativamente da  produção agrícola, industrial, cultural e
comercial do estado, o que faz de Santa Catarina um estado pluriétnico,
multicultural e com uma diversidade social inegável.
Mas, essa compreensão é todo o tempo contestada pela apologia europeia na
construção do estado catarinense, que pode ser constatada na página oficial do
governo do estado, onde se encontra entre outros textos, o que segue: “Na
segunda metade do século passado chegaram os alemães, espalhando-se pelo vale
do Rio Itajaí, adentrando ao interior em busca de melhores terras e
oportunidades. Com trabalho e determinação, construíram a pujante face
industrial de Santa Catarina. Joinville, Blumenau, Brusque e Pomerode são
cidades que preservam esta forte herança germânica na arquitetura, na
culinária, no sotaque e através de concorridas festas populares, como a
Oktoberfest”.
A leitura monocultural contribui com a invisibilidade dos trabalhadores negros
e
negras em território catarinense, bem como, com a expressão do racismo tal como
ocorrido com Alexandre Sena e outros tantos homens e mulheres negros.
Temos diferenças regionais e desigualdades sociais. Recente matéria veiculada
em
jornal local indica que os municípios mais pobre do estado integram regiões com
grande expressão de população cabocla. Quando de observa as denúncias de uso de
mão de obra escrava, também se identifica regiões com a mesma população, o que
só nos faz acreditar da orquestração racista que ainda vigora por aqui.
Com esse entendimento, e em memória do militante negro Vicente Francisco do
Espírito Santo, demitido da Eletrosul por racismo em 1992 e falecido
recentemente, o Núcleo de Estudos Negros – NEN vem solicitar publicamente que a
Polícia Militar do Estado: - apure rigorosamente os fatos e tome as medidas
cabíveis aos crimes de violência e de racismo; - implemente ações formativas em
relações raciais obrigatórias para todos os policiais; e que a PM se retrate
publicamente pela  agressão realizada por profissionais de sua corporação.

Atenciosamente,

Coordenação Executiva do Núcleo de Estudos Negros – NEN

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