segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Entre Chico e Robsão

por Aninha Franco - dramaturga

Robsão do Black Style festejou 29 anos há quatro meses. Tem, no
currículo, Vaza canhão, Tabaco, Empurrando, Rala a tcheca no chão e
Perereka. Chico Buarque, aos 27 anos, em 1971, entregou ao País
Construção, mas já existia em seu currículo Januária, Carolina, A
Banda e A Rita. Os dois cantam as mulheres. Em A Rita, Chico lamenta a
perda da companheira e de um disco de Noel (Rosa) e, em A Rosa,
deplora o dano a um Neruda não lido. A voz que ele doou às mulheres é
outro papo. As fêmeas de Robsão são expulsas da área pelo imperativo
do verbo vazar, com o epíteto de canhão! Ralam a pobre tcheca no
asfalto, evocada em Tabaco e Empurrando.
O projeto da deputada Luiza Maia (PT) demonstra que a Assembleia
Legislativa existe e está preocupada com a violência (também) musical
contra as mulheres. Mas por que, a pergunta aparece, Robsão e outros
jovens aqui, ali e acolá, já que o cancioneiro femicida está no funk
carioca, criam esses mantras para milhares de consumidores, inclusive
mulheres? Proibir a contratação pública desses repertórios é o início.
Mas haverá shows em que o Black Style, contratado com verba pública
para cantar Chico Buarque, ouvirá pedidos das plateias de Vaza canhão
e Tabaco. É ir ao Monte Serrat domingo desses e conferir.
Talvez Robsão crie músicas para agredir mulheres porque a educação não
lhe deu outras opiniões. E porque a sociedade que lhe ouve não quer
ouvir mais que isso. Chico Buarque criou Construção para ouvintes
preparados em escolas públicas da excelência do Góes Calmon, do
Central, do Severino Vieira, da Escola Parque. A ditadura estragou
essa excelência, mas a ditadura acabou em 1985, há 26 anos, e a
democracia ainda não demonstrou maioridade.
Em Camaçari, município de onde vem a deputada Luiza, há duas
secretarias de Cultura. A de Eventos, que promove festas (Carnaval e
São João), e a de Cultura, que gere e administra a Cidade do Saber, a
casa mais contemporânea do Estado. Recebe mais verbas a secretaria de eventos. Para mudar o trato com as mulheres dos Robsões que estão nascendo, é preciso que esse fomento sofra inversão. Ou o Brasil continuará nádegas de nádegas!


(Texto recebido por mim por e-mail enviado por Lila Silva)

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