segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Wagner fala a IstoÉ que será candidato à Câmara dos Deputados em 2014

Jaques Wagner
"Lula foi mais tolerante que Dilma"


O governador da Bahia diz que a faxina ética continua, a presidente está gostando de governar e considera que a base aliada se acalma com a liberação de recursos
por Octávio Costa e Adriana Nicacio

PROJETO

O governador será candidato a deputado federal em 2014
O ex-presidente Lula só o chama de “Galego”, apelido dos tempos de militância sindical. Já a presidente Dilma Rousseff lhe reserva o tratamento carinhoso de “Jaquinho”. A intimidade com Lula e Dilma fez do governador da Bahia, Jaques Wagner, um personagem privilegiado da política nacional. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, ele garante que a presidente levará adiante a faxina ética. “Dilma está deixando claro que o código de conduta dela é extremamente restrito nesse campo.” Wag­ner discorda dos que apontam no governo passado os focos de corrupção, mas admite que Lula, por seu perfil, foi mais complacente com desvios do que Dilma. “É claro que o presidente Lula, por ser um homem totalmente da política, acabou sendo mais tolerante com o gênero humano e seus erros. Nesse aspecto, Dilma tem uma bem-vinda taxa de intolerância muito grande”, afirma. Para o governador, a reação da base aliada se deve mais ao corte das emendas parlamentares do que à caça aos corruptos. “Não tenho dúvida de que, quando as emendas forem liberadas, vai se respirar muito melhor no Congresso Nacional.” Wagner fala com autoridade. Graças ao bom trânsito do governador no Palácio da Alvorada, a Bahia tem merecido atenção especial do Executivo na distribuição de verbas para educação, saúde e habitação. Recentemente o Estado foi escolhido para sediar duas das quatro novas universidades federais. Satisfeito com a preferência, ele antecipa que vai lutar pela reeleição de Dilma Rousseff em 2014. “Percebo que ela está gostando do exercício da Presidência e certamente sairá candidata.” Em sua opinião, Lula só vai concorrer se Dilma abrir mão.

"Não podemos ser duros demais com ela. A Ideli entrou no
furacão. Tem de trocar o pneu e fazer a bicicleta rodar"

"O Lula saiu realizado. Diz a boa lenda que é bom sair por cima.
Se a pergunta sobre uma candidatura for feita, ele tem que pensar"

ISTOÉ -
Hoje o tema central na política é a faxina ética. O sr. concorda? 
JAQUES WAGNER -
Nós sempre teremos problemas, enquanto houver ser humano e paixão patrimonial. Por isso, a agenda da transparência, do combate à corrupção e da busca do melhor uso do dinheiro pú­blico é permanente. Nunca vai acabar. Só acho um equívoco virar a agenda central. O País está bem do ponto de vista da capacidade de atração de investimentos e da autoestima, tendo desafios enormes, particularmente de infraestrutura humana e clássica.

ISTOÉ -
Então a presidente Dilma Rousseff deve deixar a “faxina” de lado?
JAQUES WAGNER -
Claro que não. Não há mais lugar para o papo de “rouba, mas faz”. Não tem que roubar nem deixar roubar. Tem que fazer. O governo só não deve gastar mais energia com isso do que com a busca do desenvolvimento.
ISTOÉ -
Uma pergunta que se faz é por que todos esses escândalos estouraram no início do governo Dilma e não antes?

JAQUES WAGNER -
É claro que o presidente Lula, por ser um homem totalmente da política, acabou sendo mais tolerante que Dilma com o gênero humano e seus erros. Ele sabe que para governar é preciso, muitas vezes, conviver com pessoas que não têm o mesmo padrão de comportamento. Nesse aspecto, a presidente Dilma tem uma bem-vinda taxa de intolerância muito grande. A intolerância tem que ser no conteúdo e não na forma. É chamar o cara e dizer: “Bye, bye”. Mas, para não ficar impressão errada, não me consta que, com Lula, tenha havido movimentação para impedir o trabalho da PF ou do Ministério Público Federal. Mas Lula é um cara mais martelado na vida da política, desde o sindicato.
ISTOÉ -
No caso do governo, a necessidade de compor leva ao loteamento político. E o loteamento político tem levado à corrupção.
JAQUES WAGNER -
É muito comum ouvir: “Seria bom ganhar com todo mundo, mas governar sozinho.” Mas isso não corresponde à realidade, porque a gente vive numa democracia. A reincidência da corrupção não é coisa do governo A ou do governo B. É a reincidência da deformação da cabeça do ser humano que está na política como atalho para a conquista patrimonial. Há anjos e diabos em todos os segmentos da sociedade. 
ISTOÉ -
Mas hoje o partido aliado leva o ministério praticamente com a porteira fechada.
JAQUES WAGNER -
Mas isso não dá o direito de fazer negociatas lá dentro. E quem achou que podia está quebrando a cara. É claro que eu não sou ingênuo nem cínico para saber que, quando se tem um ministério, é óbvio que o ministro dá um “delta plus” para o seu partido e para o seu Estado. É da vida. Agora, quanto mais apertar o cerco, punir e combater, menos teremos esses episódios. Dilma está deixando claro que o código de conduta dela é extremamente restrito nesse campo.
ISTOÉ -
Essa postura da presidente causou um racha na base aliada. A partir dessa reação, ela decidiu tirar o pé do acelerador? 
JAQUES WAGNER -
Eu posso lhe garantir que, se houver algum ajuste da parte dela, não será no código de conduta. O ajuste pode ser na forma. Em vez de mandar alguém embora batendo o bumbo, chama e pede que entregue a carta de demissão.
ISTOÉ -
A presidente não corre o risco de perder a governabilidade batendo de frente com a base aliada?

JAQUES WAGNER -
A governabilidade também é dada pela relação com a sociedade. E ninguém melhor do que os parlamentares para saber do peso da opinião pública.
ISTOÉ -
O mais difícil para a base aliada é conviver com corte de gastos?
JAQUES WAGNER -
Diria até que a insatisfação dos aliados é menos pela forma de Dilma agir e mais pelos cortes do orçamento. A reação do Congresso é muito mais pelo não recebido. É óbvio que o governo tem que soltar emenda. Não tenho dúvida de que vai se respirar muito melhor no Congresso Nacional. O deputado vive de entregar serviço para sua base eleitoral.
ISTOÉ -
Então o que conta é a falta de dinheiro?
JAQUES WAGNER -
Temos um problema objetivo. O governo fez um corte de R$ 50 bilhões e ela cortou os restos a pagar até 2008. Eu fui articulador político de 2004 a 2006. Tínhamos restos a pagar de 2000. O que é muito difícil, porque se de um lado há um estoque de dívidas, mesmo que você ache que não vai pagar nunca, do outro lado há um estoque de expectativas. O deputado diz para o prefeito: “Não saiu este ano, mas eu deixei como restos a pagar.” E lá está o outro acreditando que o hospital dele vai sair. No final do ano, naquela salinha em que eu trabalhava e agora trabalha a Ideli (Salvatti, ministra das Relações Institucionais), o período em torno de 20 de dezembro, com o fechamento do Orçamento, é terrível. Faz fila. O sistema deixa todo mundo estressado.
ISTOÉ -
E a ministra Ideli está preparada para isso?
JAQUES WAGNER -
Não podemos ser duros demais com ela. A Ideli entrou no olho do furacão. Já entrou com o mal-estar instalado a partir da saída do Palocci (Antônio Palocci), num ambiente em que tem de trocar o pneu e fazer a bicicleta rodar ao mesmo tempo. O clima, porém, deve melhorar.
ISTOÉ -
Mas a presidente acabou de anunciar novo corte e aumento do superávit.
JAQUES WAGNER -
Ninguém gosta de fazer corte. Como acredito muito em Dilma, tenho pedido calma ao pessoal do PT. Às vezes, para preservar o projeto de longo prazo, é preciso aturar um momento de dificuldade.
ISTOÉ -
Dilma pretende se reeleger em 2014?

JAQUES WAGNER -
Isso só perguntando a ela.Mas percebo que ela está gostando do exercício da Presidência e certamente sairá candidata.
ISTOÉ -
O sr. a apoiaria?

JAQUES WAGNER -
Certamente. Não tenho dois projetos políticos. Só tenho um. Meu projeto político é a reeleição da Dilma.

ISTOÉ -
Ela não estaria preparando o governo para o retorno de Lula em 2014?

JAQUES WAGNER -
Não acredito. Nem ele seria tão mesquinho nem ela tão altruísta. Todos nós temos amor próprio e paixão pelo que fazemos. Só há uma aposta: ela ir bem. Indo bem, é absolutamente normal ser candidata. Se ela disser que é candidata à reeleição, a chance de o Lula pretender é zero.
ISTOÉ -
E Lula ficaria de fora?
JAQUES WAGNER -
Com a maior naturalidade. Mas, se ela disser que é candidata, virá a segunda pergunta: “Vosmecê quer?” Com tudo o que Lula fez, ele saiu realizado. É clara sua popularidade. Mas diz a boa lenda que é bom sair por cima. Se a pergunta for feita, ele tem que pensar.
ISTOÉ -
Quais são seus planos políticos?

JAQUES WAGNER -
Eu sou um cara que está com a vaidade bastante preenchida. É sério. Virei a página na política da Bahia. Apostei 180 graus de mudança na política baiana e deu certo. Estou preparando antecipadamente 2014 e já disse que não serei candidato ao Senado. 
ISTOÉ -
Não?
JAQUES WAGNER -
Serei candidato a deputado federal, para deixar as vagas de vice-governador e senador livres para a composição com os aliados.

ISTOÉ -
Fala-se muito que, a partir de sua amizade com a presidente Dilma, ela tem sido atenciosa com a Bahia. De fato, há essa preferência?
JAQUES WAGNER -
A energia do povo baiano, do nordestino como um todo, é muito especial. Quando a presidenta Dilma chega, o povo faz fila como se fosse a Seleção Brasileira de Futebol voltando vitoriosa da Copa do Mundo. É encantador. Lá foi a maior frente de votos das eleições de 2010. Ela ganhou no Brasil com 12 milhões e na Bahia fez 2,7 milhões. 
ISTOÉ -
Mas a Bahia tem sido beneficiada ou não?

JAQUES WAGNER -
Agora mesmo estamos recebendo duas novas universidades federais. Estou fazendo um programa para fortalecer da primeira à terceira série, o programa Todos pela Escola.
ISTOÉ -
Sua hegemonia na Bahia vai se ampliar. Com a criação do PSD, o sr. terá o voto de 49 dos 63 deputados estaduais,  uma maioria superior à de ACM quando ele governou de 1991 até 1994. Está nascendo o “jaquismo”?

JAQUES WAGNER -
Não acho apropriada a comparação numérica de períodos tão diferentes da vida política baiana. Mas é certo que a maioria mais confortável sempre nos dá mais segurança para governar.


(Revista IstoÉ)

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