terça-feira, 25 de outubro de 2011

Luxo falsificado: Mercado pirata

Ricos são os que mais compram produtos piratas. Mas vale mesmo investir em modelos de baixa qualidade só para exibir a marca?
Marília Medrado
marilia.medrado@folhauniversal.com.br
“Camiseta de marca a só R$ 10”, anuncia um vendedor no maior centro de comércio popular da América Latina, a Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. Acessórios, bolsas e carteiras semelhantes a modelos de grifes também se amontoam nas barracas. Nas sacolas dos consumidores, também não faltam brinquedos e eletrônicos. “Quem compra aqui quer variedade, preço baixo e não se importa que é uma réplica” diz o lojista Vitor José dos Santos, que vende óculos Ray-Ban pela pechincha de R$ 30. Um modelo original da marca não sairia por menos de R$ 600.

Segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e do Instituto Ipsos, mais da metade dos brasileiros admite comprar produtos piratas. O levantamento aponta que 52% da população ou 74,3 milhões de pessoas consomem itens falsificados. São cerca de 6 milhões a mais do que o registrado em 2010.

“Esse movimento  se deve ao aumento do consumo como um todo. Além disso, o baixo preço das falsificações e a falta de fiscalização colaboram para esse tipo de consumo”, afirma o economista Paulo Padilha, da Fecomércio. Além do preço, a facilidade de encontrar o produto pirata e o fato de estar disponível no mercado antes do original também são argumentos utilizados por quem frequenta o comércio ilegal.

Cópias de CDs e DVDs estão entre os principais produtos escolhidos pelos brasileiros, seguidos por artigos de moda e brinquedos.

As amigas Conceição Barbosa, de 46 anos, e Clarice Bispo dos Santos, de 37, gastam juntas, em média, cerca de R$ 150 todas as semanas na 25 de Março. “A gente sabe que não está comprando o produto original, mas nos sentimos bem tentando seguir a moda”, afirma Conceição, que mostra seu relógio Dolce & Gabanna adquirido no comércio local por R$ 30. Para ela, as pessoas geralmente não sabem identificar a originalidade do produto.

Para Suzane Strehlau, professora especializada em marcas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), a ideia de que o outro desconhece a procedência da mercadoria provoca grande satisfação nos consumidores. “É como se ele tivesse o produto original. Geralmente, a compra de uma mercadoria é orientada para os outros verem”, aponta. “Muitos optam por uma marca devido aos valores que ela representa. Pode ser um estilo de vida mais conservador ou esportivo, por exemplo”, diz Suzane.

Mostrar a personalidade por meio das roupas e acessórios é o mais importante para a tradutora Márcia Motta, de 30 anos. Ela afirma, porém, que não se endividaria por causa de um artigo original. “Se quisesse muito, pediria para alguém trazer do exterior. Aqui, pagamos muito imposto”, protesta.



Ricos consomem mais


A pesquisa da Fecomércio revela ainda que são os mais ricos os que mais compram pirataria: 57% das pessoas das classes A e B admitiram a compra de itens falsificados.  “No caso do vestuário, enquanto a classe A está em busca do status que um produto original traria, a classe C está menos ligada à marca. Não adianta a mercadoria ter status se for de baixa qualidade e tiver pouca durabilidade. No fim, o barato sai caro”, diz o especialista em mercados de baixa renda Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular.

Baixa qualidade, falta de garantia e, por último, temor em ser punido, foram razões apontadas por aqueles que não cedem ao mercado ilegal. (Folha Universal)

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