sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ARTIGO: Carta aos sindicalistas petistas - “PT, de que trabalhadores estamos falando”, uma discussão necessária

Por Julio Turra

Um texto do companheiro João Felício, com o título “Partido dos Trabalhadores, de que trabalhadores estamos falando”, está circulando e traz uma verdadeira e necessária discussão, particularmente quando afirma:
 "Se persistirmos no caminho que alguns companheiros e companheiras estão traçando, em que a representação política só tem valor quando conquista espaços de poder no aparelho do Estado, podemos estar caminhando rapidamente para transformar o PT em um partido igual aos outros".
É uma preocupação justa, ainda que possamos ter balanços distintos do 4º congresso do PT, pois, diferentemente do que escreve Felício, não considero que tenha sido um exemplo da “grandiosidade e da força do nosso partido” por ter aprofundado a “nossa democracia interna” com a adoção de cotas de jovens e raciais e a paridade entre homens e mulheres, o que, a meu juízo, fragmenta a direção do partido numa espécie de “federação de interesses” por cima das questões de orientação política que deveriam prevalecer.
Afinal, o 4º congresso do PT, como o próprio Felício há de concordar, não ampliou a presença de sindicalistas e não abordou questões como a do direito ao aborto para as mulheres ou a das terras dos quilombolas, apesar das cotas terem sido festejadas.
Mas, a preocupação expressa por Felício, secretário sindical nacional do PT e meu companheiro de Executiva Nacional da CUT, do controle quase absoluto que parlamentares e petistas ligados à administração (governos) exercem na direção partidária, marginalizando sindicalistas e companheiros ligados às lutas populares, é correta.
Qual seria a base de tal deformação, que segundo o texto de Felício ameaça transformar o PT “num partido igual aos outros”, ou como ele disse no congresso, num partido social-democrata como os da Europa, divorciado de sua base no movimento operário? Em minha opinião, a base está em questões de programa e de política que o PT vem aplicando.
Como é possível atrair, por exemplo, sindicalistas ao PT com uma política de privatização dos aeroportos, de não-implementação de uma verdadeira reforma agrária, ou de negativa de negociação com servidores federais ou trabalhadores dos Correios em greve? Ou ainda com ministros como Mantega pregando que os trabalhadores não devem pedir aumento de salários?
No próprio 4º Congresso do PT foi distribuído um panfleto da CNTE que alertava “o PT e seus correligionários para a necessidade de honrarem os compromissos da Lei do Piso. Lamentavelmente há muitos casos de gestores do partido que não cumprem a lei e isso mancha a reputação de um partido reconhecidamente de vanguarda.”
Isso não é uma demonstração que a restrição do espaço aos sindicalistas e militantes dos movimentos populares hoje existente no PT - é bom lembrar que nem sempre foi assim - não pode ser entendida por fora da política concreta do partido?
Quando conquista um governo - municipal, estadual ou federal - o PT governa com as alianças com outros partidos, muitas vezes em choque com os movimentos sociais. Outros partidos que, em sua maioria (como o PMDB), representam interesses contrários aos dos trabalhadores, a base social do PT.  
Ora, se a política do PT privilegia esse tipo de alianças no governo, não estaria aí mais uma explicação para o “desequilíbrio” nas instancias partidárias a favor dos que ocupam “cargos no Estado e no Parlamento”, que critica Felício?
Em seu texto, João Felício menciona “velhos partidos de esquerda que, de tanto priorizarem a institucionalidade, se distanciaram dos movimentos sociais, que não se sentem mais representados por eles”, para alertar que o PT corre o mesmo risco. No que ele está certo.
Mas, a degeneração de partidos comunistas, socialistas ou social-democratas, que vem de longe, sempre esteve ligada à aplicação por eles, quando no governo, de uma política contrária aos interesses de sua própria base, os trabalhadores e o movimento sindical. Basta ver o que fazem hoje governos “socialistas” na Grécia ou Espanha: planos de demissão em massa, corte de direitos, aumento da idade para aposentadoria, cortes de salários, tudo para salvar o sistema capitalista em crise aguda.  
O debate suscitado pelo texto de João Felício é importante e deve prosseguir. Este é o objetivo desta minha pequena contribuição.
 É uma discussão que vem se travando há algum tempo nas reuniões do “Diálogo Petista”, um agrupamento de sindicalistas, parlamentares, estudantes, enfim de militantes do PT, que querem resgatar as melhores tradições de nosso partido, dentre elas a de ser ligado às lutas e reivindicações da classe trabalhadora como prioridade.  Convido meus companheiros sindicalistas petistas a tomar contato com o “Diálogo Petista” (*) e suas iniciativas.
Fraternalmente,

Outubro de 2011
Julio Turra - do Coletivo Sindical Nacional do PT e da Executiva nacional da CUT

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