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Após passar 8 anos preso por furto e assalto a mão armada, o paulistano Eduardo Tadeu Fonseca, de 34 anos, enfrentou grandes dificuldades para achar emprego. “Não tinha estudo, não sabia fazer nada, quem iria me contratar? Nenhuma empresa quer como funcionário um cara fichado. Esse é o martírio do preso. Quando sai, ninguém dá chance. A gente fica sem opção e acaba voltando para o crime”, diz. Nos presídios onde esteve, Fonseca trabalhou na montagem de canudos, espetos para churrasco e aprendeu a costurar bolas. “Estudei um pouco também, mas nada foi suficiente. Só fui até a 5ª série”, conta.
Depois de tentativas fracassadas de encontrar um trabalho com carteira assinada, ele optou pela informalidade, para sustentar a família. “Durante um tempo trabalhei numa barraca de frutas de um amigo. Ganhava R$ 80 por semana. Isso mal dava pra comprar o gás em casa. Não dava pra viver”, lembra. Por esse motivo, Fonseca afirma que ainda praticava delitos. “Você vê os seus amigos de tênis importado, sua mãe passando necessidade e você sem nada, sem emprego. Daí vêm os conhecidos das ‘antigas’ te chamando para fazer um rolo, para ganhar dinheiro fácil e você vai”, afirma. Ele conta que só conseguiu se recuperar quando começou a trabalhar na ‘feirinha da madrugada’ do Brás, bairro de comércio popular em São Paulo. Hoje, 6 anos após deixar a prisão, Fonseca é dono de um estande numa galeria do bairro. “Vendo sacolas e carrinhos para o pessoal que vai comprar roupas nas lojas”, comemora.

Flávia Novaes, assistente social do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), que atua em defesa dos direitos dos cidadãos, destaca que existe muito preconceito quando o assunto é empregar um recém-saído da prisão. “A maioria das empresas pedem atestados de antecedentes criminais. Algumas limitam a contratação por tipo de crime. Se a pessoa respondeu por porte de armas, para as empresas, é mais interessante do que se a pena tiver sido por roubo”, afirma. Além disso, segundo Flávia, a baixa qualificação da população carcerária é mais um agravante. “A maioria não concluiu o ensino fundamental e a experiência que o egresso adquire na prisão quando trabalha é mínima. A maioria dos trabalhos oferecidos nas unidades prisionais é de manual e artesanal, que pouco agregam no mercado de trabalho”, completa. “A chance de ser integrado ao mercado de trabalho seria maior se ele estudasse, já que a maioria dos egressos não tem ensino fundamental completo. Mas, quando há oferta de trabalho e escola, os horários são inconciliáveis porque não há cursos à noite e, até por sobrevivência, eles optam por trabalhar”, aponta.
Medo do “não”

Morys de Jesus, de 26 anos, também contou com uma indicação para conseguir o primeiro emprego formal após cumprir pena por roubo. Ele diz que nos primeiros meses sentia a desconfiança do patrão. “Tinha que aguentar, precisava do trabalho. Infelizmente, mesmo quando você anda certo a sociedade te encara com preconceito”. Para Jesus, o principal incentivo para abandonar o crime foi o nascimento do filho e uma carta enviada pela mãe da criança, quando ela estava grávida de 6 meses. “Ela dizia: ou eu me emendava ou me afundava de vez e aquilo bateu em mim.” A integração a um grupo de jovens e a conversão religiosa também foram decisivas. “O grupo de jovens me deu uma vida em sociedade. Por que eu não pensava em jogar bola, fazer outras coisas que não fossem relacionadas ao crime? E a fé me deu forças para superar o medo de ouvir ‘não’. Eu não tinha coragem de pedir um emprego, sabendo que tinha passagem. Esse medo era tanto que me tirava a oportunidade de ouvir ‘sim’”, analisa.

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