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O garoto D.M.N., de 10 anos, era uma criança calma e estudiosa, segundo amigos, professores e integrantes da comunidade evangélica que frequentava com a família, em São Caetano do Sul, no ABC. Por isso, o tiro dado pelas costas na professora Rosicleide Queirós de Oliveira, dentro da sala de aula, diante de 25 outros alunos da 4ª série de uma das melhores escolas públicas do País, surpreendeu até mesmo a vítima. Rosicleide disse a seu namorado que o garoto não poderia ser o autor do tiro porque ele era “bonzinho”. Naquele momento, ela ainda não sabia que o menino havia se matado com um tiro na cabeça, instantes depois de feri-la. Tragédia consumada, pais, colegas e funcionários do colégio ainda buscam uma razão para o ato extremo.
Algumas crianças contaram que D. havia dito que atiraria na professora e depois se mataria. A mãe de um colega do menino, afirmou em entrevista ao Direto da Redação, da “Record News”, que D. chamou seu filho para ver a arma com a qual, horas depois, tiraria a própria vida. Mas o colega achou que era uma brincadeira e não se interessou pela história.
A polícia começou ouvir pessoas para tentar explicar a motivação de D. e apurar se alguém o teria influenciado a cometer o crime. Até o fechamento dessa edição, o caso parecia inexplicável. A arma usada pelo garoto pertencia ao pai, um guarda-civil metropolitano, que horas antes da tragédia havia levado o filho para escola. Em depoimento informal ele disse que, ao chegar em casa, sentiu falta do revólver calibre 38 que ficava guardado em cima de um armário e voltou à escola para questionar o filho mais velho de 14 anos e D. sobre a arma. Ambos negaram saber o paradeiro do revólver.
“Infelizmente, não teremos como saber ao certo o que se passou na cabeça dele. Mas, com toda certeza, ele estava em uma situação de profundo sofrimento. Porque essa é uma atitude extrema”, avalia Ângela Soligo, psicóloga e professora do departamento de educação da Universidade Estadual de Campinas.
Ela acredita que a falta de mecanismos para se expressar, buscar ajuda e atenção pode ser uma das razões desse tipo de violência. “As crianças têm poucas ferramentas para lutar por aquilo que acham bom”, afirma. E, em uma situação assim, a proximidade com armas pode parecer solução fácil para um problema. “Havia uma arma muito acessível a ele. E, pior, ela estava carregada”, ressalta a psicóloga.
Para Ângela, as crianças precisam ser encaradas como pessoas com direitos, e devem ser respeitadas. “Ao mesmo tempo em que é prometida a felicidade, prega-se certa conformidade do tipo: quando você for adulto, vai entender. E a pessoa que não consegue atingir essa felicidade acha que a culpa é dela e pode acabar se voltando contra si mesma. A escola se tornou uma grande reunião de infelizes. Professores e alunos não veem o lugar como acolhedor”, avalia. (Folha Universal)
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