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O livro é resultado de uma sociedade cada vez mais aflita com o número de crianças acima do peso, problema que não se restringe aos Estados Unidos. No Brasil, a obesidade infantil registrou crescimento significativo nas últimas décadas. “Há 40 anos era muito difícil ver uma criança obesa e a maioria dos casos estavam relacionados a problemas metabólicos. Hoje, esse tipo de problema só é responsável por cerca de 10% dos casos de excessos de peso”, afirma José Candido Cheque de Morais, psicólogo e coordenador do Grupo Obesidade Atendimento Multidisciplinar Infantil, da Universidade Guarulhos. Segundo Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008/2009 cerca de uma em cada três crianças brasileiras (34,8% dos meninos e 32% das meninas) estava acima do peso.

Mais do que apostar em dietas mágicas ou soluções extremas, conversar sobre alimentação, investir na reeducação dos hábitos alimentares e incentivar atividades físicas são iniciativas importantes para que a criança cresça de maneira saudável, segundo o endocrinologista pediátrico Luiz Cláudio Castro, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “A educação é o instrumento mais valioso e eficaz para bloquearmos este aumento na incidência da obesidade. Assim poderemos evitar que se realize a previsão de que 35% da população adulta brasileira estará obesa em 2025”, aponta.


Um bom exemplo de como promover mudanças sem afetar a autoestima das crianças é o da publicitária Renata Ramalho, de 28 anos, mãe de Gabriella Ramalho, de 6. A menina começou a ganhar peso com 3 anos, devido ao uso de corticoides por problemas alérgicos e respiratórios. Hoje, pesa 46 quilos e tem contado com a ajuda da mãe para entrar em forma. “Ela já sofreu na escola e sei que ainda vai sofrer, mas a questão não são apenas os outros. Tento mostrar pra ela que emagrecer é uma questão de saúde. Ficar mais bonita e ser aceita é apenas consequência”, diz Renata, que ressalta que o mais importante é que a filha tenha uma vida saudável, agora e no futuro. “Ela faz acompanhamento nutricional, psicológico, atividade física e o que mais for preciso, sempre respeitando os limites dela, claro. Eu farei tudo para ajudá-la a não ser uma adulta obesa”, afirma.
Renata também foi uma criança gordinha e quando adulta chegou a pesar 140 quilos. “Sofri muito, a ponto de não querer ir mais para a escola”, lembra. Hoje, além de comer direito, as duas praticam juntas caminhadas, e Gabriella ainda vai para a aula de capoeira e balé. Na mesa, tudo é baseado na reeducação alimentar e não na proibição. “Refrigerantes só no final de semana ou se tiver alguma festinha. Para dizer que não existe proibição, o que ela não come de jeito nenhum é biscoito recheado e salgados fritos. Ela já se acostumou e entendeu o quanto eles são ruins pra saúde”, conta.
Carolina dos Santos, de 12 anos, não tem problemas com o peso mas, apesar da pouca idade, possui noção do que é uma alimentação saudável. Na escola em que estuda, em São Paulo, a cantina oferece opções saudáveis em vez de apenas frituras e comidas industrializadas. “Só uma vez por semana servem fritura, nos outros dias têm saladas e frutas. Os pais até fizeram um abaixo-assinado para não ter brigadeiro”, conta. Ainda assim ela vê problemas com sua alimentação. “Depois que saio da escola fico com minha mãe na loja e acabo comendo lanches e salgados na padaria”, conta Carolina. “Eu nunca fiz regime porque não preciso. Mas, se ficasse gordinha, me preocuparia com a parte estética, com a ‘zoação’ e com a saúde”, diz.
Seu vizinho Luís Felipe da Silva, de 11 anos, anda de skate e bicicleta sempre. Mesmo assim, conta, meses atrás estava “gordinho”. Só perdeu peso depois de ficar internado em função de outros problemas de saúde. Parte do sobrepeso podia ser atribuído à alimentação na escola. “Eu não gosto de levar lanche. E na cantina só tem gordura. Se eu não quiser comer coxinha e rissole a opção é salgadinho.”

O endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Serviço de Endocrinologia do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que durante o tratamento de uma criança obesa, os pais também participam. “O ideal é alterar a alimentação diária de toda a família”, afirma. O médico destaca que os cuidados devem ser aplicados desde cedo. Índices de obesidade crescem devido a estilos de vida pouco saudáveis combinados a alimentação desregrada e sedentarismo.
A nutricionista Danielle Moreira aponta quais alimentos são importantes no cardápio de uma criança que está com sobrepeso: legumes, frutas, verduras, sucos de soja e produtos integrais. “A boa alimentação faz parte da educação. Como as crianças estão em fase de crescimento, dar a elas comida errada pode atrapalhar seu desenvolvimento”, relaciona. Sobre o tratamento, Danielle explica que cada criança recebe recomendações específicas. “Ao contrário dos adultos, a maioria engorda pela qualidade e não pela quantidade de alimentos”, afirma.

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